São Paulo – A embaixada do Brasil no Marrocos completou 52 anos em maio e as relações entre os dois passam por um momento de expansão, segundo o embaixador brasileiro em Rabat, capital, Frederico Duque Estrada Meyer. Em entrevista à ANBA por e-mail, ele fez um balanço do intercâmbio bilateral e falou sobre os temas mais importantes da pauta atualmente.
“São 52 anos sem crises bilaterais. Isso já é um ativo importante. Temos excelente diálogo no âmbito multilateral e nos mecanismos de cooperação entre o Brasil, a África e os países árabes, além de crescente comércio, especialmente desde o início deste século”, destacou o diplomata.
Entre as novidades, ele citou a criação de um Setor Comercial na embaixada com o objetivo de aumentar a prospecção de negócios e dar assistência aos empresários Brasileiros no Marrocos. “Máquinas e equipamentos agrícolas, carnes em geral, cosméticos e artigos farmacêuticos são alguns dos produtos brasileiros de alta qualidade que poderiam ser oferecidos ao consumidor marroquino”, disse Meyer sobre oportunidades de comércio.
O embaixador ressaltou também a negociação de acordos que podem fazer as relações entre os dois países avançarem ainda mais. “Temos em discussão um acordo de cooperação e facilitação de investimentos e outro no setor de defesa” disse. “Também estão sendo negociados projetos de cooperação na área de portos, saúde, cultura e direitos humanos, bem como convênios entre universidades de ponta”, acrescentou. Leia abaixo a entrevista:
ANBA – A embaixada do Brasil em Rabat completou 52 anos em maio. O senhor pode citar os principais avanços nas relações entre os dois países?
Frederico Duque Estrada Meyer – É uma relação de amizade e respeito mútuos, lastreados numa rica história de laços culturais que passam pelas heranças ibérica, africana, árabe e judaica que compartilhamos. São 52 anos sem crises bilaterais. Isso já é um ativo importante. Temos excelente diálogo no âmbito multilateral e nos mecanismos de cooperação entre o Brasil, a África e os países árabes, além de crescente comércio, especialmente desde o início deste século.
Nos últimos 12 anos houve um impulso nas relações do Brasil com os países árabes, e no caso do Marrocos vimos investimentos bilaterais, visitas oficiais, inauguração de voo direto, etc. É possível prever mais algum avanço no futuro próximo?
Sim. Diversas empresas brasileiras, de todos os tamanhos, têm mirado o Marrocos, seja para investir, seja para fazer uso de fornecedores marroquinos, o que pode elevar a relação a novo patamar. A recente criação da adidância de Defesa em Rabat, com residência em Madri, também abre novas perspectivas de cooperação.
Quais são as principais negociações em andamento entre os dois países?
Temos em discussão um acordo de cooperação e facilitação de investimentos e outro no setor de defesa. Também estão sendo negociados projetos de cooperação na área de portos, saúde, cultura e direitos humanos, bem como convênios entre universidades de ponta.
Uma negociação que está parada faz tempo é a do acordo de comércio do Marrocos com o Mercosul. Há alguma perspectiva de retomada desse processo?
O Marrocos suspendeu os acordos em discussão para fazer balanço da implementação dos muitos instrumentos de livre comércio já existentes, que, segundo alguns críticos, têm tido elementos prejudiciais ao Marrocos. Precisamos aguardar esse momento de autorreflexão marroquino.
Há também uma proposta de acordo de facilitação de investimentos? Em que pé que ela está? Que benefícios esse tratado pode trazer?
Vamos iniciar a segunda rodada de negociações. É um modelo moderno e inteligente de acordo, que não se confunde com os antigos Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos, o que demanda estudos mais aprofundados pela parte marroquina.
Há algum entrave na relação bilateral que precisa ser resolvido, principalmente do ponto de vista comercial?
Temos pleiteado a diminuição de alíquotas para o setor de carnes (200% para carne bovina e 100% para frango).
Quais iniciativas o Brasil pode reforçar para ampliar ainda mais suas relações com o Marrocos, também sob o ponto de vista econômico e comercial?
O Itamaraty acaba de criar o Setor Comercial na Embaixada em Rabat, com designação de funcionário local qualificado, para incrementar a prospecção de negócios e dar assistência ao empresariado brasileiro.
O senhor avalia que há oportunidades de negócios ainda pouco aproveitadas? Quais?
Sim. O setor de infraestrutura e logística, em ambos os países, está em franco desenvolvimento, o que coloca em pauta complementaridades e desafios comuns. Máquinas e equipamentos agrícolas, carnes em geral, cosméticos e artigos farmacêuticos são alguns dos produtos brasileiros de alta qualidade que poderiam ser oferecidos ao consumidor marroquino.
Qual é a visão dos marroquinos sobre o Brasil?
Absolutamente positiva. Sou recebido sempre com grande carinho e apreço. Há enorme interesse pela música brasileira, pela capoeira, pelo jiu-jítsu brasileiro, pelo futebol e pelos programas sociais brasileiros.
De que maneira a Câmara de Comércio Árabe Brasileira pode ajudar no trabalho da embaixada?
A Embaixada está sempre aberta a colaborar com a CCAB, como foi o caso da participação brasileira recente no Salão Internacional Agrícola de Meknes (28 de abril a 03 de maio), esperamos dar continuidade a esse tipo de trabalho.