Isaura Daniel
São Paulo – As usinas brasileiras faturaram US$ 825 milhões com exportações de açúcar bruto nos cinco primeiros meses deste ano. O valor significa um aumento de 128% sobre o mesmo período do ano passado. As vendas de açúcar refinado saíram de US$ 367 milhões para US$ 544 milhões, crescimento de 48,2%.
"Houve um aumento de consumo na China", diz o sócio da consultoria em agronegócio Richter Caron, Dernizo Caron. De acordo com Caron, o movimento chinês deflagrou tanto crescimento nas vendas quando aumento de preços. A tonelada de açúcar bruto foi exportada pelo preço médio de US$ 197 em maio deste ano contra US$ 145 no mesmo mês do ano passado. A de açúcar refinado saiu de US$ 176 para US$ 212.
Informações publicadas na agência de notícias oficial da China, a Xinhua, indicam que o consumo de açúcar deve crescer mais de 5% ao ano no país nos próximos anos. Os chineses não têm área disponível para aumentar a produção de beterrabas e cana-de-açúcar e fabricar mais açúcar. O consumo da commodity no país é de 11 milhões de toneladas anuais e a produção do último ano ficou em 10,2 milhões de toneladas.
Se levado em conta apenas o mês de maio, o faturamento das exportações brasileiras de açúcar bruto cresceu ainda mais: 257% sobre maio de 2004. A receita com as vendas ficou em US$ 232,2 milhões em maio deste ano contra US$ 65,7 milhões no mesmo mês do ano passado. O faturamento com exportação de açúcar refinado aumentou 115% no período, de US$ 64,9 milhões para US$ 140 milhões.
As exportações brasileiras de açúcar também aumentaram em volume, mas em proporção menor. Em maio, o volume embarcado do produto bruto foi 159% maior do que no mesmo mês de 2004 e o de refinado 78,8%. Isso mostra a influência do aumento dos preços no desempenho da balança comercial do setor.
Pelo preço
Os bons preços do açúcar, de acordo com o analista da área de commodities da corretora Theca, Vitor Silveira, motivaram uma antecipação da safra de cana-de-açúcar. A safra normalmente começa em maio, mas algumas usinas começaram a colher já em março, segundo Silveira.
Em São Paulo, a colheita começou entre início e meados de abril. No começo de janeiro, por exemplo, a saca de 50 kg de açúcar cristal especial estava cotada a R$ 30 no mercado interno. Ontem pela tarde a cotação estava ao redor de R$ 25,5.
A entrada em maior volume da safra no mercado, porém, já começou a fazer os preços diminuírem. A tonelada do açúcar bruto foi exportada em maio por US$ 13,6 a menos do que em abril. O preço da tonelada de açúcar refinado caiu US$ 5.
Reflexo OMC
A decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios europeus ao açúcar também está incentivando as exportações nacionais, de acordo com Silveira. "Existe uma expectativa de o Brasil abocanhar parte do volume que a União Européia irá deixar de exportar", diz o analista.
A OMC confirmou no final de abril deste ano a ilegalidade dos subsídios oferecidos pela UE aos produtores de açúcar. Brasil, Austrália e Tailândia moveram uma ação contra o bloco e tiveram uma decisão favorável do organismo em agosto do ano passado. A União Européia, porém, apelou em janeiro e teve, agora, nova negativa da OMC.
As decisões estão fomentando uma série de investimentos em usinas de açúcar no Brasil. "Há um investimento grande em novas unidades", diz Silveira. De acordo com Caron, grande parte do aumento de produção de açúcar que o Brasil deve ter será destinada ao mercado externo, onde há demanda crescente.
O país produziu no ano passado cerca de 25 milhões de toneladas de açúcar e exportou ao redor de 18 milhões. Neste ano a produção deve ser de 28 milhões de toneladas e cerca de 20 milhões terão como destino o exterior. Os dados são da Theca.
O crescimento na produção de açúcar é decorrente também do aumento da safra de cana. O Brasil colheu 380 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na última safra, 2004/2005. Na colheita anterior foram apenas 260 milhões de toneladas. Até a safra 2010/2011 a meta é chegar a 560 milhões de toneladas.