Claudia Abreu
São Paulo – A troca cultural entre sul-americanos e árabes deve tomar corpo no segundo semestre deste ano. Em outubro acontecerá um simpósio que definirá as diretrizes para a criação de uma biblioteca básica para a América do Sul e os países árabes.
A decisão foi tomada na semana passada por diplomatas e acadêmicos das duas regiões, durante uma reunião em Brasília. Até lá, os envolvidos no processo estão encarregados de buscar soluções para as diversas questões do projeto, principalmente sobre o financiamento do empreendimento.
O local do simpósio ainda não foi definido. "O governo sírio fez uma proposta para que a reunião seja realizada lá. São Paulo também se ofereceu para abrigar os debates", afirmou a embaixadora Heloísa Vilhena, diretora do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI).
Segundo Heloísa, a idéia é que a biblioteca não seja simplesmente um depósito de livros, mas sim um ambiente de estudos "vivo", no qual se possa trocar informações constantemente. "Até agora, a cultura árabe, nos países sul-americanos, ficou dentro dos centros árabes. O mesmo acontece do lado sul-americano. É tudo muito restrito, então, existe um desconhecimento mútuo. A biblioteca é um mecanismo para mudar esse cenário, disseminar o conhecimento e estimular estudos", afirmou.
O projeto é uma iniciativa da organização da cúpula dos chefes de estado árabes e sul-americanos, que acontece na terça (10) e na quarta-feira (11), em Brasília. O documento da proposta de declaração da cúpula, ao qual a ANBA teve acesso, prevê que a biblioteca seja um instrumento de cooperação acadêmica – por meio de concessão de bolsas de estudo dos dois lados -, que promova conferências e, por fim, adote a sua "função biblioteca", ou seja, tenha obras de referência árabes e sul-americanas.
Segundo Heloísa, o objetivo é, no primeiro momento, traduzir os livros fundamentais para o conhecimento das duas regiões. Os textos em árabe terão versões para o espanhol e português e vice-versa. "Esse primeiro passo é essencial. Quanto mais os países se conhecerem, melhor. Assim se cria um ambiente de amizade, de aproximação, e é isso o que a gente quer", afirmou.
Para a embaixadora, é preciso mobilizar editoras – universitárias ou comerciais – para que as traduções aconteçam rapidamente. Iniciativas como a da editora Globo, que lançou ontem (7), o Livro das mil e uma noites traduzido, pela primeira vez, direto dos originais árabes para o português, devem ser aproveitadas. A tradução foi feita pelo professor de língua e literatura árabes da Universidade de São Paulo (USP) Mamede Mustafá Jarouche.
Casa da Sabedoria
A biblioteca deve receber o nome de Casa da Sabedoria, em alusão àquela instalada em Bagdá, no século IX. Ela serviu inspiração para os organizadores do projeto, que escolheram este título porque a instituição foi um dos grandes motores da transformação intelectual da Europa, no século IX. A entidade reintroduziu no Ocidente todo o pensamento da Grécia Antiga, que havia se perdido e que foi resgatado com as traduções árabes.