São Paulo – O economista Eduardo Gianetti da Fonseca traçou três possíveis cenários para a economia brasileira após as eleições de outubro, que definirão o próximo presidente da República. Professor do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec) e integrante da equipe que assessora a campanha do PSB, que deve confirmar o nome da ex-ministra Marina Silva como candidata, Fonseca fez uma palestra na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, na terça-feira (19).
Ele previu um mesmo cenário nos campos das políticas macro e microeconômicas em caso de vitória de Marina ou do candidato Aécio Neves (PSDB), ambos de oposição, e duas outras possibilidades para o País no caso da atual presidente Dilma Rousseff (PT) ganhar o pleito.
Gianetti falou que o tripé macroeconômico brasileiro – formado por câmbio flutuante, metas de inflação e de superávit primário – está extremamente fragilizado e que a oposição terá que fazer ações corretivas no início de um eventual mandato para se reconectar com o período econômico do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) e o primeiro de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).
“Teremos dois ou três trimestres de ajustes”, disse ele se referindo a ações que terão que ser feitas para fortalecer novamente o tripé econômico.
No caso de continuidade da atual presidente, Fonseca falou que uma das possibilidades é a curva de aprendizado, na qual Dilma reconheceria os erros da sua gestão e passasse a corrigi-los, se aproximando novamente do tripé e criando condições para que o setor privado invista em infraestrutura. O outro seria o prevalecimento do pensamento “fui tão bem que me reelegeram”, com uma “argentinização” do Brasil e desfecho em uma crise financeira.
Fonseca traçou um panorama da situação econômica do Brasil e explicou como chegamos ao atual momento. Ele lembrou que o País passou pela crise de 2008/2009 praticamente imune, após período de crescimento, inclusão social, aumento de renda, pleno emprego, macroeconomia estável. “O último ano que essa ilusão se sustentou foi em 2010”, afirmou.
Segundo ele, atualmente a economia brasileira enfrenta três problemas que, juntos, causam apreensão: o baixo crescimento, a inflação próxima do teto e o déficit em conta corrente. “Se você está com crescimento baixo, deveria estar com a inflação bem comportada”, afirmou.
O que levou o Brasil a esta situação? Um dos fatores, segundo ele, foi a mudança no ambiente externo. “O mundo vinha soprando vento ao nosso favor”, disse Fonseca, citando o preço alto de commodities que o País vende (como as agrícolas e minérios) em relação ao valor dos produtos que o Brasil compra no exterior, a política monetária de países desenvolvidos com juros baixos, que fez capitais migrarem para o País. O preço das commodities não desabou, mas não segue crescendo, e os recursos estrangeiros passaram a fazer o movimento de volta.
Outro fator citado por ele é a situação fiscal do País, que vem desde a Constituição de 1988, quando o estado passou de centralizado para federativo, com estados e municípios passando a ter atribuições do setor público. Apesar disto, a União aumentou seu nível de gastos em vez de diminuí-los, criando impostos chamados de “contribuições”, brecha que a Constituição deixou aberta. A carga tributária bruta do Brasil passou de 24% a 25% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1988 para 36%. “Cresceu linearmente em todos os governos que se sucederam”, afirmou.
E grande parte dos gastos do País são com Previdência, que atualmente consome 12% do PIB, de acordo com o economista. “É exorbitante para um País ainda jovem.” Isso, segundo ele, explica a baixa capacidade de investimento do Brasil, não apenas em capital físico, mas também em capital humano. Segundo ele, o País não tem como resolver o problema da Previdência se não ganhar produtividade. Cada brasileiro precisa ser mais produtivo.
Outro fator que causou piora da economia, segundo Fonseca, foi a qualidade da política econômica. Segundo ele, a transição do governo FHC para o governo Lula foi feita de maneira extremamente competente. “Foi uma grande e bem vinda surpresa”, afirma, lembrando que houve a manutenção do tripé econômico, com câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e de metas fiscais. “No segundo mandato de Lula, mas principalmente no governo Dilma, é que esse acordo foi rompido”, afirmou Fonseca.
Como fatores que fragilizaram o tripé, o economista citou superávit primário reduzido, com o governo recorrendo à “contabilidade criativa” como atrasos de pagamentos para chegar à meta, se endividando em uma ponta para transferir recurso para a outra; o teto da meta de inflação, que passou a ser o centro da meta, com o uso de preços administrados, como transporte coletivo e combustíveis; além de intervenções no mercado de câmbio, para segurar o aumento de preços.
Segundo ele, o governo passou ao microgerenciamento, se colocando no lugar do mercado e elegendo setores para serem “vitoriosos”. Segundo o economista, esta filosofia está errada. As medidas de governo devem ser horizontais para favorecer o ambiente de negócios como um todo. Isso, de acordo com Fonseca, faz o mercado perder a confiança nas regras.
O evento foi apresentado e conduzido pelo presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, e o ex-diretor Mário Rizkallah. Ela faz parte do ciclo de palestras que a entidade vem promovendo sobre temas da economia, cultura, carreiras, entre outros.