Alexandre Rocha, enviado especial
alexandre.rocha@anba.com.br
Dubai – As empresas que participaram do estande da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e do Ministério da Agricultura na Gulfood, feira da indústria alimentícia que terminou na quarta-feira em Dubai, fecharam cerca de US$ 10 milhões em negócios e têm perspectivas de receber pedidos no valor de US$ 60 milhões nos próximos 12 meses, segundo dados coletados pelo ministério junto às companhias. O pavilhão recebeu em torno de 3 mil visitantes.
O desempenho foi considerado por muitos dos participantes como melhor do que o obtido em outras mostras do setor, como a Anuga, na Alemanha, e a Sial, na França. “Faz tempo que eu digo que o Brasil deveria ampliar sua participação na feira, especialmente com produtos que não são tradicionalmente exportados para a região”, disse o secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, que esteve no evento.
O laticínio Itambé, por exemplo, representado pela sua trading Serlac, fechou cerca de US$ 3 milhões em negócios, com a venda de leite em pó, leite condensado e leite evaporado para importadores de países como Sudão, Emirados Árabes Unidos e Omã. “Conseguimos atingir países onde antes não tínhamos negócios, especialmente na Ásia, Oriente Médio, África e até no Ocidente”, disse gerente de exportação da empresa, André Massote.
Segundo ele, na Sial e na Anuga é mais difícil atingir certos mercados, pois essas mostras são muito voltadas para grande tradings européias e ao mercado do Norte da África. Massote acrescentou que o espaço da empresa na Gulfood recebeu cerca de 500 visitas.
“A aceitação dos produtos brasileiros é total. Quando eles ficam sabendo que a mercadoria é do Brasil ficam imediatamente abertos para considerar a compra”, afirmou o gerente de exportação da Tirolez, indústria de queijos, Paulo Hegg. “A feira surpreendeu pelo acesso que ela dá a mercados que em quatro anos de participação em feiras européias eu nunca tive, como Paquistão, Índia e Cingapura”, ressaltou.
Durante os quatro dias do evento, Hegg recebeu o equivalente a US$ 300 mil em pedidos, mas espera fechar cerca de US$ 1,5 milhão no futuro a partir dos contatos feitos, isso se o real não continuar a se valorizar muito frente ao dólar, o que tornaria seus produtos mais caros na moeda norte-americana. Ele acrescentou que pretende voltar na edição do próximo ano.
Já a Pacific recebeu encomenda de oito contêineres de produtos como biscoitos, balas e bolos de importadores de Dubai e da República dos Camarões. “Para a gente foi interessante, pois ainda não estávamos nesse mercado”, disse a trader da empresa, Adriana Valente. “Recebemos visitas de pessoas de Madagascar, Kuwait, Irã, países com os quais não tínhamos contato em outras feiras”, afirmou.
A fábrica de massas Selmi, que teve um estande próprio, fez negócios com importadores de cinco países do Oriente Médio e Norte da África. A companhia vendeu cerca de US$ 350 mil em massas e bolos e fez cerca de 120 contatos com empresários de diferentes origens, segundo a representante da empresa, Nancy Gonzáles. A Selmi é dona da marca de massas Renata.
Além das 12 empresas que participaram do estande da Câmara e do ministério, outras companhias brasileiras estavam presentes com estandes próprios ou em parceria com entidades setoriais. No total foram cerca de 40 expositores.
Mais espaço
O diretor da Câmara Árabe, Bechara Ibrahim, que também participou da feira, avalia que ainda há mais espaço para ser ocupado na Gulfood. “A mostra vai bem além dos alimentos, pois lá estão também os setores de máquinas e equipamentos para a indústria, de embalagens e de produtos para hotéis e restaurantes, como louças, talheres e copos”, afirmou. “É uma feira bem completa e merece que futuramente outros empresários brasileiros tenham a oportunidade de conhecê-la”, acrescentou.
Michel Alaby acrescentou que as empresas da região olham com muito interesse para o Brasil como fornecedor de alimentos. Ele citou o exemplo da visita que fez hoje à Dubai Co-operative Society, indústria de alimentos halal dona da marca Al Islami. “Eles estão indo ao Brasil nos próximos dias e estudam a possibilidade de comprar participação ou a integralidade de uma indústria de frangos”, afirmou.
Ele acrescentou que ficou claro na feira e nas visitas feitas pelos representantes da Câmara e do ministério, inclusive na Arábia Saudita, que os empresários brasileiros devem investir no mercado do Oriente Médio para ampliar significativamente a presença do país.
De acordo com a organização do evento, a Gulfood gerou pelo menos US$ 300 milhões em negócios aos expositores. Esta, no entanto, ainda é uma avaliação preliminar. Os organizadores acreditam que o volume de negócios pode chegar até a US$ 500 milhões. Os dados preliminares mostram também que mais de 39 mil pessoas visitaram a mostra.