São Paulo – A socióloga Natália Nahas Carneiro Maia Calfat é a presidente eleita do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) para o biênio 2025-2026. Entre os diversos projetos que pretende colocar em prática, estão promover mais encontros literários e musicais, os chamados “diwan” (em árabe), e aproximar as pessoas que trabalham com a cultura árabe. “Tem muita gente fazendo a promoção de língua, cultura, arte, pesquisa científica em muitas frentes separadas e eu queria colocar todo mundo junto”, diz.
Na última terça-feira (10), Natália esteve na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, onde se reuniu com o presidente, Osmar Chohfi, e com a vice-presidente de Comunicação e Marketing da instituição, Silvia Antibas. Ela estava acompanhada do vice-presidente eleito, Francisco Miraglia, e do diretor financeiro do ICArabe, Gabriel Sayegh. Ao final do encontro, conversou com a reportagem da ANBA.
Formada em Sociologia com mestrado e doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Natália atuou por quase dez anos em comércio exterior. Trabalhava com exportação de commodities e tinha os países árabes entre seus parceiros comerciais. Quando os negócios com os árabes começaram a ser substituídos por clientes no Brasil e na América do Sul, a socióloga decidiu voltar para a academia. Participa de um grupo de trabalho sobre Oriente Médio na USP e tem entre suas áreas de pesquisa e interesse os temas: compartilhamento de poder, veto de minorias, sectarismo, sistema político libanês e xiismo.
Neste ano, atuou como pesquisadora no documento “Cooperação Sul-Sul Brasil-Líbano em setores-chave: o caminho a seguir no mundo do trabalho – pontos de encontro Sul-Sul” (tradução livre do inglês)“, elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
No ICArabe, ocupou diversos cargos antes de ser escolhida como presidente: diretora de Relações Internacionais, diretora administrativa, diretora cultural e secretária-geral, etapas de uma trajetória que começou há cerca de dez anos.
“Entrei como a maioria dos jovens que se interessaram pelo instituto entrou, que era pela produção cultural que o instituto difunde, pelas atividades e pelos cursos. Aos poucos fui me envolvendo, naturalmente de forma voluntária, para ajudar nesta divulgação da cultura, nesta promoção de conhecimento e de promoção de eventos”, diz.
Parte fundamental da tarefa do ICArabe é promover a cultura árabe em suas diversas faces, pois são 22 os países árabes, ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe e compartilhar com a sociedade o que se produz nos campos culturais e científico.
O ICArabe e a produção artística contemporânea
“Acho que é exatamente isso que a gente precisa rediscutir. Quer dizer, sem negar a instabilidade política que existe no mundo árabe, mas que tipo de produção cultural se faz a partir desta instabilidade? A mostra de cinema, por exemplo. Que tipo de produção literária, que tipo de poesia é feita?”, diz Natália, sobre o papel do ICArabe em dar essas respostas à sociedade.
Parte das respostas deverá vir, afirma, com um planejamento de médio e longo prazo para a instituição e com o incremento de algumas atividades do ICArabe mantendo a Mostra Mundo Árabe de Cinema, uma parceria anual entre o ICArabe, a Câmara Árabe e o CineSesc, que apresenta a produção contemporânea da cinematografia árabe.
“Um dos grandes projetos para o biênio 25/26 é a retomada de cursos, a retomada de eventos culturais como diwans, que são eventos de poesia, de leitura de prosa, com música”, afirma, citando também como objetivos estabelecer mais parcerias dentro e fora do Brasil. Diwans são, também, coletâneas de poemas ou obras literárias muçulmanas.
Natália é a segunda mulher a presidir o ICArabe. A primeira foi a farmacêutica Soraya Smaili, integrante do Conselho Superior da instituição e do Conselho de Administração da Câmara Árabe. Aos 40 anos, Natália é uma das mais jovens a assumir o comando do instituto.
“Teve uma demanda [do instituto] de que os jovens estivessem participando mais e de uma renovação. Isso é uma demanda interna nossa e acho que represento um pouco isso. É importante que a gente tenha sim uma mulher em cargo de liderança. Acho que em alguns momentos coordenei algumas funções nesse aspecto, então digamos que é um caminho que, como passei por vários setores, é uma espécie de coroação, de unificação das várias fortalezas e das várias dificuldades que encontrei nesses setores”, diz.
Fundado em outubro de 2004, o ICArabe foi resultado da iniciativa de pesquisadores e intelectuais dedicados a estudar e difundir a cultura árabe, entre eles o matemático Francisco Miraglia, o geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber (1924-2012), o escritor Milton Hatoum, o jornalista José Arbex Jr., os sociólogos Ricardo Antunes e Emir Sader e Soraya Smaili. Durante seus 20 anos de história promoveu a difusão da cultura árabe por meio de cursos, mostras e parcerias com diversas instituições brasileiras, como a própria Câmara Árabe.
Natália afirma que pretende trabalhar com estas instituições e com os tantos intelectuais que se dedicam a promover a cultura do mundo árabe. Ela deseja, além de unir as pessoas, promover as atividades do ICArabe para além do eixo Rio-São Paulo. “Essas pessoas já se conhecem, se encontram, mas são vários núcleos separados, muita coisa está sendo feita”, completa.
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