Alexandre Rocha
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São Paulo – O Itaú, um dos três maiores bancos do Brasil, também vai fincar sua bandeira nos Emirados Árabes Unidos. Em breve a Itaú Securities, corretora de valores da instituição, vai abrir uma subsidiária em Dubai e o banco em si terá um escritório de representação em Abu Dhabi, capital do país.
Em entrevista ontem (29) à ANBA, o presidente da Itaú Securities, Roberto Nishikawa, disse que o banco espera a aprovação dos negócios pelas autoridades dos Emirados, mas já selecionou os locais onde serão instalados os escritórios e espera inaugurá-los no segundo semestre. Só na instalação da subsidiária da corretora a instituição pretende investir US$ 5 milhões.
O objetivo é captar investimentos para negócios na América Latina, especialmente no Brasil. “Já fizemos vários eventos na região. Em janeiro, por exemplo, levamos para lá representantes da Petrobras, Br Malls (administradora de shopping centers) e Gafisa (construtora). Membros da nossa equipe têm ido ao país o tempo todo, eu mesmo já estive lá pelo menos seis vezes nos últimos 10 meses”, disse Nishikawa.
Mesmo antes de ter uma estrutura física, o banco já despertou o interesse local. Por meio de sua estratégia de promoção, segundo o executivo, investidores da região participaram das ofertas públicas iniciais de ações da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e da Redecard (administradora de cartões) no ano passado.
Nishikawa disse que a idéia de ter uma presença física na região já existe há três anos, mas o plano para se instalar nos Emirados começou a ser executado em junho de 2007. “Fui para lá e fiquei impressionado, voltei em julho e, desde então, todo mês tem alguém da nossa equipe que vai. Tomamos em agosto a decisão de abrir a subsidiária em Dubai e, em setembro, a de ter um escritório em Abu Dhabi”, afirmou.
A ampla disponibilidade de recursos nos países do Golfo, turbinada pelo alto preço do petróleo, tem atraído cada vez mais a atenção de bancos brasileiros. O Banco do Brasil abriu recentemente um escritório em Dubai e outras instituições têm intenção de fazer o mesmo. De acordo com um relatório divulgado esta semana pela consultoria norte-americana A.T. Kearney, o capital disponível para investimentos nos países do Oriente Médio gira em torno de US$ 4 trilhões, boa parte nas mãos de fundos soberanos.
“Houve uma migração das riquezas no mercado global”, disse Nishikawa. Além das praças financeiras tradicionais, como Nova York e Londres, cresce sensivelmente a disponibilidade de recursos e de poder de decisão no Oriente Médio e na Ásia. Nesse sentido, a corretora do Itaú decidiu em 2008 ampliar de maneira agressiva sua presença no exterior.
Hoje a instituição tem subsidiárias em Nova York, Londres, Hong Kong e Tóquio. Este ano, além das estruturas em Dubai e Abu Dhabi, a Itaú Securities vai transformar suas instalações no Japão em corretora e abrir novas filiais em Pequim, na China, e Cingapura. “Nosso objetivo é estar próximo de onde estão os recursos”, afirmou o executivo.
Segundo ele, o braço em Dubai terá cinco funcionários. O banco quer tanto pessoas que conheçam bem o mercado da região, como gente que conheça o Brasil para casar os interesses dos potenciais clientes com as oportunidades existentes no país. Em Abu Dhabi a idéia é manter dois representantes.
O Itaú pretende atrair o interesse para o mercado de capitais brasileiro, seja para investimentos em ações, renda fixa, ou outros, além de participações em projetos e serviços de gestão de ativos. “O mercado de capitais no Brasil está dando um show”, disse Nishikawa. “Enquanto bolsas ao redor do mundo vêm sofrendo desde o final do ano passado, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) tem tido uma performance muito boa”, acrescentou.
De acordo com Nishikawa, há muito interesse por projetos na área imobiliária e também no agronegócio, tanto que o banco criou um fundo de participações no ramo do etanol estruturado exclusivamente para a região.
“As perspectivas são muito positivas. Há bastante interesse pelo Brasil, estou otimista”, disse o executivo, acrescentando que há muita simpatia pelo Brasil na região e os negócios ficaram mais fáceis com a criação do vôo direto entre Dubai e São Paulo pela Emirates Airline. Ele ressalta, porém, que sua expectativa não é de retorno rápido, pois o trabalho mira resultados de médio e longo prazos.
Grau de investimento
Outro fator que facilita o trabalho de captação de investidores é a elevação do Brasil ao “grau de investimento” pela Standard & Poor’s, no final de abril, e pela Fitch Ratings, ontem. Segundo Nishikawa, isso chama a atenção para o país e aumenta o interesse nas oportunidades de negócios por aqui. “Isso gera mais confiança no Brasil e faz com que ele fique no centro das atenções do mercado internacional”, concluiu.
O Itaú disputa com o Bradesco e o estatal Banco do Brasil a posição de maior banco do país. No ano passado, em termos de resultados, o Itaú ficou na frente com um lucro líquido de quase R$ 8,5 bilhões, o maior da história do setor bancário brasileiro, com retorno sobre o patrimônio líquido (rentabilidade) de 32,1%. No primeiro trimestre deste ano, o banco teve um lucro líquido de mais de R$ 2 bilhões.
No final de março, o valor de mercado do banco em bolsa de valores chegou a R$ 93,9 bilhões. Forte no varejo, o Itaú tem 3.533 agências e postos de atendimentos, além de quase 24 mil caixas eletrônicos. O grupo emprega 66,4 mil pessoas.