Trípoli – O governo da Líbia está disposto a dar preferência às empresas de nações consideradas amigas, entre elas o Brasil, nos negócios com o país. A informação foi dada neste domingo (25) pelo ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, após reunião com o ministro líbio da Infraestrutura e Habitação, Abuzaid Omar Dorda, em Trípoli.
“Ele [Dorda] reforçou muito a necessidade de empresas brasileiras virem para cá, nas exportações terão preferências os países amigos”, disse o ministro brasileiro, que está na capital líbia para a primeira etapa de uma missão comercial ao Norte da África.
Segundo Jorge, seu colega líbio disse que não há razão em comprar produtos europeus, por exemplo, quando nações como o Brasil têm as mesmas mercadorias para oferecer. Ele acrescentou que há nisso um componente político, pois a Líbia, assim como o governo brasileiro, apóia a chamada cooperação Sul-Sul, entre os países em desenvolvimento.
Essa preferência, segundo o ministro, pode favorecer uma empresa brasileira quando estiver disputando um contrato com uma companhia de outro país. “Ao decidir por uma empresa, quando houver igualdade de condições, pode prevalecer a opção pela brasileira”, afirmou Jorge.
Durante o encontro, Dorda falou sobre projetos em andamento no país. Entre eles está um programa de construção de 1 milhão de habitações populares. De acordo com Jorge, o ministro líbio quer que o governo brasileiro incentive a participação de empresas nesse processo.
Além disso, a Líbia tem forte demanda por materiais de construção, pois passa por um momento de forte expansão nessa área e precisa importar muito. O governo local quer estimular a formação de joint-ventures para produção de mercadorias no próprio país.
Jorge declarou que pretende estimular a realização de uma missão comercial formada por companhias especializadas na construção de casas populares e por fabricantes de material de construção. Ele acrecentou que empresas brasileiras interessadas em negócios na Líbia podem ter apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Nesse sentido, os dois ministros decidiram firmar um memorando de entendimentos, o que deve ser feito já nesta segunda-feira, que cria uma comissão bilateral para acompanhar de perto os entendimentos empresariais na área.
Portas abertas
Antes, Jorge participou de um seminário sobre oportunidades de negócios entre Brasil e Líbia no hotel Corinthia Bab Africa. Ao lado dele estavam o ministro da Economia, Comércio e Desenvolvimento do país Árabe, Ali Abdel Aziz Isawi, o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, o secretário-geral da União das Câmaras de Comércio da Líbia, Joumar Al Austa, o embaixador da Líbia no Brasil, Salem Omar Ezubedi, e o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Trípoli, Alexandre Barboza.
Eles falaram a um auditório lotado de empresários brasileiros e líbios. À ANBA, o ministro Isawi disse que, além da construção, outros ramos com bom potencial de negócios em seu país são os de turismo, capacitação profissional e tecnologias da informação. “São setores que têm crescido muito nos últimos anos”, declarou.
Isawi ressaltou que a Líbia está de “portas abertas” para a empresa brasileira e que a presença da missão liderada por Miguel Jorge é importante para ampliar o conhecimento bilateral. Ele acrescentou que o país busca diversificar sua economia.
Jorge destacou que há na delegação um grupo grande de empresários da área de informática. “A Líbia precisa se modernizar, por isso o interesse dessas empresas em participar da missão”, afirmou. Ele acrescentou, porém, que a maior parte das companhias brasileiras que o acompanham é do ramo de alimentos, afinal a Líbia importa 75% da comida que consome.
Atuação da Câmara
O presidente da Câmara Árabe declarou que existem amplas possibilidades para aumentar o comércio com a Líbia, sendo que a entidade pretende atuar nesse sentido. “Há um mercado enorme para os dois lados”, disse.
Em material distribuído aos participantes do seminário, Schahin destacou que a Câmara oferece um grande número de serviços para seus parceiros, sejam exportadores, importadores, profissionais da área de turismo ou investidores. “Nós trabalhamos com empresários líbios há muitos anos e ficaremos felizes em ampliar e desenvolver essa relação”, disse, acrescentando que a Câmara deve ser considerada a “casa de todos os árabes no Brasil”.
Ele deu também uma série de informações sobre a influência da comunidade de origem árabe no Brasil, o que garante tranqüilidade aos empresários da região para fazer negócios no país. Entre elas o tamanho da coletividade, estimada em 12 milhões de árabes e descendentes; o fato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter quatro ministros descendentes de árabes; e do prefeito de São Paulo, a maior cidade brasileira, Gilberto Kassab, ser também um descendente.
Schahin disse ainda que integrantes da comunidade têm papel de destaque em diferentes áreas, como a saúde, mantendo, por exemplo, dois hospitais considerados referência no país: o Sírio-Libanês e o Hospital do Coração. A coletividade mantém também várias entidades de assistência social, além de clubes esportivos ao redor do Brasil. Nos negócios, empresários de origem árabe comandam companhias de todos os portes.
Ele acrescentou que a língua portuguesa tem mais de 5 mil palavras de origem árabe, que a culinária árabe é muito apreciada e diferentes pratos são bastante comuns no país. “Temos orgulho que, nesse ambiente, por mais de 56 anos a Câmara Árabe contribui para o aprimoramento do comércio e da cultura entre o Brasil e os países árabes”, afirmou.
Miguel Jorge ainda visitou obras da construtora Norberto Odebrecht em Trípoli, como o novo terminal do aeroporto da cidade.