São Paulo – Está disponível para os brasileiros um livro sobre como os palestinos e descendentes vivem e conservam seus laços com a pátria de origem no Brasil. Lançada nesta sexta-feira (14) em São Paulo, a obra partiu da pesquisa de doutorado da brasileira Bárbara Caramuru Teles. “Como é que se constitui uma “palestinidade” estando na diáspora brasileira? Como essas pessoas vão se reconhecer enquanto palestinas estando no Brasil?”, explica Bárbara, sobre as perguntas que a levaram até o livro.
Nascida no Rio de Janeiro, mas vivendo em Curitiba, capital do Paraná, desde criança, Bárbara se interessou pelos assuntos da Palestina no despertar da vida adulta, apesar de não ter ascendência árabe. “Conheci o movimento Pró-Palestina em 2008, quando aconteceu o genocídio em Gaza e fiquei chocada com o absurdo que era aquilo”, relata, referindo-se a um período em que tinha apenas 18 anos e quando ocorreu grande ofensiva israelense na região. O sentimento fez a brasileira levar a temática para sua vida na universidade.
A primeira inserção acadêmica no assunto foi analisando questões jurídicas dos acontecimentos em Gaza, na área de Direito, quando ainda estava na graduação em História. A Primavera Árabe no Egito foi tema de conclusão do curso, seguida pelo estudo da comunidade palestina no Chile no mestrado. “No doutorado finalmente vim a trabalhar com a comunidade brasileira”, fala. A pesquisa resultou no livro “Palestina em Movimento: A Diáspora a Partir de um Olhar Interseccional”, publicado pela Editora Appris.
A vivência dos palestinos no Chile também faz parte do livro. No Brasil, Bárbara percorreu vários pontos, falando com a diáspora nas principais cidades em que se encontram, desde o Chuí até Manaus. Ela viajou também para a própria Palestina. “Uma coisa que é bem perceptível é que, embora passe gerações, existe uma manutenção da identidade palestina e essa manutenção é passada muitas vezes pelas mães, através da língua”, diz a pesquisadora sobre uma das respostas que encontrou para as suas perguntas.
Ao pesquisar a identidade palestina, Bárbara se deparou com questões de religião; de comida; de práticas cotidianas; do cuidado materno; da chegada dos imigrantes como mascates e a narrativa da prosperidade econômica; dos desembarques em diferentes tempos da história; dos que vieram como cristãos e dos que são muçulmanos; das viagens de retorno que os jovens fazem mantendo laços bastante fortes. A acadêmica falou com quem chegou há dois anos e com quem desembarcou na década de 1950, tempo de grande fluxo de imigração por causa da Nakba, quando os palestinos foram expulsos em massa de suas terras.
A autora fez um percorrido pela imigração para falar da conexão com a Palestina atual. Foram cinco anos de pesquisa. “Eles ainda vivem como palestinos, ainda têm uma narrativa, uma manutenção da palestinidade que passa pela educação da língua, pela educação cultural, pelas famílias”, diz Bárbara. O fato de haver uma questão de território reforça a identidade palestina, não apenas como terra de origem, mas também como causa. “Mesmo vivendo no Brasil, eles se entendem como palestinos brasileiros”, diz.
O livro é voltado para o universo acadêmico, mas também deve atrair a leitura dos membros da diáspora, segundo a percepção da autora. Ela explica que a obra tem como eixo central pensar o gênero. E aí se enquadra, por exemplo, a análise da figura masculina do mascate como heroica. “E aí eu penso também esse estereótipo da masculinidade árabe, como isso é construído como um sucesso comercial”, explica. Também entram na análise questões do cuidado materno e paterno, de raça, entre outros.
Pesquisadora
A autora é professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre e pós-doutora em Antropologia pela mesma instituição, além de doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bárbara realizou estudos na Universidade do Chile e atualmente é também pesquisadora externa do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (Neom) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Bárbara teve apoio da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) para fazer as pesquisas que resultaram no livro. Entre outras iniciativas, a Fepal ajudou a pesquisadora a abrir as portas para falar com a diáspora. Na quinta-feira (13), a pesquisadora visitou a sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na cidade de São Paulo, acompanhada do presidente da Fepal, Ualid Rabah. Os dois foram recebidos pelo secretário-geral e vice-presidente de Relações Internacionais da instituição, Mohamad Mourad.
Lançamento
Nesta sexta-feira, o lançamento da obra ocorre às 18h no espaço Expressão Popular, em São Paulo, em um evento em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). O lançamento é aberto para o público em geral e comportará também um debate entre Bárbara e Ualid Rabah sobre a diáspora palestina. O livro pode ser adquirido em plataformas online, entre elas no site da editora Appris.
Serviço:
Livro Palestina em Movimento: A Diáspora a Partir de um Olhar Interseccional
Autora: Bárbara Caramuru Teles
Editora Appris
Páginas: 285
Preço: R$ 110
Vendas no site da editora
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