São Paulo – Dois dias antes da abertura da Sharjah International Book Fair, a feira de livros que ocorre anualmente em Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, é organizada a Jornada Profissional dos Editores, uma espécie de rodada de negócios entre profissionais de editoras do mundo inteiro. Dos 207 participantes reunidos na edição de 2016, um era brasileiro: Luiz Álvaro Salles Aguiar de Menezes, gerente de relações internacionais da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e responsável pelo projeto Brazilian Publishers, uma parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil).
Ele foi o único representante da América Latina e dos países de língua portuguesa ali. Sua presença, entretanto, teve uma razão: a escolha de Sharjah como convidada de honra da 25ª Bienal do Livro de São Paulo, em 2018. “O convite veio da própria Sharjah Book Fair. Existe uma vontade de aproximar o mercado editorial árabe com o brasileiro”, conta Menezes, em entrevista à ANBA.
O mercado editorial árabe é extenso e ainda pouco explorado pelos escritores e editores brasileiros. A feira de Sharjah recebeu neste ano mais de 2 milhões de pessoas, grande parte de origem árabe. Segundo o gerente da CBL, em torno de 80% dos livros comercializados no evento, que tem como foco o público final, está disponível nas línguas inglesas e árabe. Ele não viu nenhum de origem brasileira.
Isso não quer dizer que não há interesse na literatura nacional. Ao contrário: segundo Menezes, os livros infantis, infanto-juvenis e romances de autores brasileiros chamaram a atenção de algumas editoras árabes. “Eles têm US$ 350 mil disponíveis em bolsa de tradução para estimular o intercâmbio de direitos autorais”, conta o gerente.
As bolsas-tradução funcionam da seguinte maneira: o dinheiro é oferecido pela feira às editoras que participam da Jornada Profissional de Editores. Estes, por sua vez, selecionam as obras de seu interesse e usam essa verba para contratar um tradutor, para que a obra esteja disponível na língua local.
“Quinze publicações brasileiras se inscreveram para essa bolsa. Ainda não houve fechamento de nenhum negócio, nem com brasileiros e nem com editoras de outras nacionalidades, algo que só deverá ocorrer nos próximos meses”, diz Menezes, que acredita em boas chances de acordos com alguns livros infantis: “Os traços e as ilustrações, muito coloridas, agradam”.
De toda forma, uma comitiva da Emirates Publisher Association (EPA), uma das organizadoras da feira de Sharjah, deverá visitar o Brasil novamente no primeiro semestre de 2017 – novamente porque estiveram aqui entre agosto e setembro deste ano, para um primeiro contato. Já no segundo semestre uma delegação de editores brasileiros visitará a feira árabe, que tem dez dias de duração e começa sempre na primeira quarta-feira de novembro.
“Neste ano a feira contou com a presença da chef brasileira Morena Leite”, conta Menezes. A chef, dona dos restaurantes Capim Santo e Santinho, de São Paulo, participou da programação cultural e cozinhou por três dias seguidos na feira. Suas receitas, inspiradas na culinária brasileira, já agradaram os árabes. Agora pode ser a vez dos livros.