Randa Achmawi
Cairo – Presidente do Conselho da Wind Telecomunicazioni SpA e da Orascom Telecom Holding SAE, o empresário egípcio Naguib Sawiris está no 62° lugar na lista das 100 maiores fortunas do mundo publicada pela revista Forbes. Em 2007 seu patrimônio foi estimado em US$ 10 bilhões, o maior do continente africano.
Em maio do ano passado, o magnata esteve a ponto de por os pés no cenário empresarial brasileiro, quando fez uma proposta de compra da Brasil Telecom, empresa que opera redes de telefonia fixa e móvel no Brasil. O negócio, no entanto, não foi concretizado.
Sawiris prefere não falar muito sobre a transação não finalizada, mas, em entrevista exclusiva à ANBA, ele disse que continua de olho no Brasil e está apenas esperando uma oportunidade propícia na área de telecomunicações para voltar a pensar em investimentos no país.
Ele, que vive no Cairo, diz estar bastante entusiasmado com as transformações positivas que estão ocorrendo no cenário econômico egípcio. Para o empresário, este é um dos melhores momentos da economia do país. Sawiris pensa que o renascimento econômico chegou para ficar, contrariamente ao que dizem alguns analistas egípcios, que falam de um boom temporário.
O empresário começou a trabalhar na empresa de sua família, a Orascom, em 1979, e contribuiu desde então para seu crescimento e diversificação, até que ela se transformasse no que é hoje: um dos maiores conglomerados egípcios e até do mundo.
O grupo Orascom é composto pela Orascom Telecom, Orascom Construction Industry, Orascom Technology System e Orascom Hotels and Development. Desde sua criação, em 1997, a Orascom Telecom Holding é dirigida por Sawiris, filho mais velho da família.
A Orascom Telecom tinha cerca de 51 milhões de assinantes em 2006, um aumento de 70% frente a 2005, segundo o último relatório anual da companhia. O faturamento da empresa foi de US$ 4,4 bilhões, 36% maior que o registrado em 2005. Ela teve lucro líquido de US$ 719 milhões, 8% maior do que o de 2005.
Naguib Sawiris nasceu no Egito em 1954, é diplomado em engenharia mecânica pelo Instituto Suíço de Tecnologia e concluiu mestrado em administração técnica na mesma instituição. Ele fala árabe, inglês, alemão e francês. Segue a entrevista:
ANBA – O senhor esteve a ponto de comprar uma parte da Brasil Telecom. O que aconteceu?
Naguib Sawiris – Nosso interesse pelo Brasil surgiu quando começamos a perceber que as oportunidades de investimentos na área de telecomunicações começaram diminuir nos últimos tempos. Ao mesmo tempo, obtivemos a informação, no ano passado, sobre a oportunidade de compra de uma parte da Brasil Telecom. O negócio me pareceu bastante bom, porque o preço nos convinha e a idéia de entrar no Brasil nos interessava. Pensei em por os pés no país e, uma vez lá, explorar a possibilidade de ampliação de nossos investimentos na região. Era um bom negócio porque, como disse antes, não há muitos mercados disponíveis na área de telecomunicações neste momento. Mas, infelizmente, a operação não foi concluída. Mas depois pensei que talvez fosse melhor assim, por causa das dificuldades com a distância e o fato da língua e a cultura nos serem ainda um pouco desconhecidas.
Mas o senhor perdeu o interesse em investir no Brasil?
Não, ainda continuamos alertas para a possibilidade de investimentos no país. Se ficarmos sabendo de alguma grande oportunidade de entrar no país faremos isto.
Mas o Brasil sempre foi chamado de país das mil e uma oportunidades de investimentos e é, hoje em dia, depois da Holanda, o segundo país na lista dos que mais atraem investimentos internacionais…
O fato é que a nossa área de interesse é a de telecomunicações e no Brasil este mercado já foi conquistado por outras corporações internacionais, como Telefônica, America Movil e Portugal Telecom. Existe lá, neste momento, pouco espaço para a nossa entrada. Eu tinha pensado em entrar no país e criar uma marca independente de todas essas. Mas, do ponto de vista prático, esta idéia dificilmente poderá ser concretizada neste momento. Isto porque os grupos que citei chegaram mais cedo e já consolidaram sua presença.
O senhor não se interessaria em entrar no país pelo investimento em algum outro setor?
Minha principal área interesse, e de trabalho, é a de telecomunicações. Se tomarmos conhecimento de alguma oportunidade de investimento neste setor nos interessaremos imediatamente por ela. Trabalhamos basicamente nesta área. Num segundo momento, quando a nossa presença já estiver consolidada neste setor, podemos estudar eventualmente em expandir nosso trabalho para outras áreas, mas isso só acontece quando já estamos presentes e fortes numa determinada região.
E como lhe chegam as informações sobre oportunidades de investimentos?
Temos nossas fontes. Mas os bancos internacionais sempre nos avisam quando existe uma oportunidade determinada em nossa área. E quando ficamos sabendo de algo que nos interessa, tomamos as medidas necessárias para entram em contato com os agentes das referidas empresas.
Como nasceu o seu interesse pelo Brasil?
É claro que o país hoje em dia não passa despercebido para ninguém. Existe muito interesse por ele. Além disso, é um lugar bastante agradável com gente muito simpática, onde já estive de férias e gostei muito. Tenho certeza de que ainda vão haver outras oportunidades para trabalhar com o país.
Hoje o senhor é um dos maiores empresários do Egito e sua empresa é um gigante que controla boa parte do mercado de telecomunicações, a ponto de muitos o considerarem como uma fonte de esperança para o país, por causa de seu estilo moderno, civilizado de conduzir os negócios e administrar suas empresas. Como a Orascom Holding contribui para melhorar a vida dos egípcios?
Antes de qualquer coisa, ninguém pode negar que somos hoje em dia um dos maiores empregadores do Egito, uma das empresas que mais geram oportunidades de trabalho. Somos também um dos maiores pagadores de impostos do país. Por isso estou certo de que contribuímos para a melhoria dos recursos do governo, para que ele possa atender melhor as necessidades da população. Além disso, temos inúmeros projetos filantrópicos dirigidos, sobretudo, aos jovens. Fornecemos microcrédito aos jovens que têm projetos para a criação de microempresas. Fornecemos 40 bolsas de estudo anualmente para estudantes egípcios que queiram fazer especializações nas melhores Universidades da Europa ou dos Estados Unidos, com a condição de que eles se comprometam em voltar para trabalhar no Egito. Temos também a Fundação Sawiris que dá assistência a todas as ONGs egípcias especializadas no treinamento de jovens. Enfim, estamos muito concentrados nos trabalhos ligados à multiplicação de oportunidades de trabalho, educação e treinamento das novas gerações.
E como um dos maiores contribuintes para as receitas do país, como o senhor avalia o trabalho do atual governo egípcio?
Acho a equipe que dirige o atual governo excelente, a melhor que o Egito teve desde a revolução de 1952.
Como o senhor vê o futuro da economia do Egito?
Ao meu ver o Egito esta caminhando na direção certa e sua economia vai, sem dúvida, florescer. Hoje em dia há uma quantidade muito grande de fundos e liquidez nos países do Golfo. Estes fundos estão sendo inevitavelmente investidos no Egito, por causa de sua capacidade de absorção e, sobretudo, por causa do seu importante mercado.
Mas muitos analistas egípcios dizem que o atual boom econômico é temporário e não vai durar mais do que 3 ou 4 anos…
Este tipo de analise não tem sentido algum, em minha opinião. Eu, que sou hoje um dos importantes pilares desta economia, que estou dentro da “cozinha econômica” do país, digo que todos estes analistas estão simplesmente errados.