Alexandre Rocha
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São Paulo – Pelo menos 35 empresas brasileiras vão participar da Gulfood, principal feira do ramo de alimentos e bebidas do Oriente Médio, que vai ocorrer em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre os dias 24 e 27 de fevereiro. Destas, 12 serão levadas pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa) e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que pela primeira vez terá um estande próprio na mostra. As outras são associadas da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef) e Instituto Brasileiro de Frutas.
Ontem (17), representantes de várias companhias estiveram na sede da Câmara, em São Paulo, para discutir detalhes da viagem com representantes da entidade e do ministério. “O crescimento das exportações brasileiras aos países árabes se deve muito ao agronegócio, mas há espaço ainda para produtos do Brasil, especialmente alimentos”, disse o secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, que deu um panorama do mercado da região.
As exportações do agronegócio para o mundo árabe renderam US$ 4,6 bilhões no ano passado, 66% de tudo o que o Brasil vendeu para a região. O diretor do Departamento de Promoção Comercial do Mapa, Eduardo Sampaio Marques, observou, no entanto, que os negócios ainda estão muito concentrados em poucos produtos, como carne bovina, carne de frango e açúcar.
Marques deu exemplos de nichos que podem ser mais bem explorados pelas empresas brasileiras em países da região, como lácteos, bolachas e produtos de panificação, frutas, chocolates e produtos de cacau e café na Arábia Saudita; lácteos, frutas, chocolates, arroz e especiarias nos Emirados; soja, milho e lácteos no Egito; e café, milho, maçãs e lácteos na Argélia.
O Brasil já exporta produtos destes setores para os árabes, mas a demanda existente permite ampliar ainda mais as vendas. A Argélia, por exemplo, é o segundo maior comprador de lácteos do Brasil, atrás apenas da Venezuela, mas o país importa o equivalente a US$ 650 milhões em mercadorias do ramo por ano e a participação brasileira é de US$ 55 milhões.
A Gulfood, como várias das feiras realizadas em Dubai, serve como ponto de encontro de importadores de diversos países da região e de fora dela. Segundo Alaby, 40% dos visitantes da mostra são estrangeiros. No ano passado, 37.618 visitantes de 140 países compareceram ao evento.
Alaby destacou, no entanto, que no mercado do Golfo Arábico o Brasil concorre com outros fornecedores fortes, como os Estados Unidos, países da Europa e da Ásia. “O produto tem que ser diferenciado”, afirmou. Como exemplos ele citou os alimentos orgânicos e papinhas para bebês halal, preparadas de acordo com rituais islâmicos. Ele ressaltou também que a certificação halal para carnes serve como um atestado de qualidade da mercadoria, não só do ponto de vista religioso, mas também sanitário.
O secretário-geral da Câmara Árabe acrescentou que o mercado do Golfo tem poucas barreiras tarifárias e deve ser visto como um mercado complementar para os brasileiros, especialmente num momento em que a União Européia impõe empecilhos para as importações e há incertezas em relação à economia norte-americana.
“Temos que trabalhar um pouco mais o Golfo”, disse ele, lembrando que a maioria esmagadora dos produtos agropecuários consumidos na região é importada. Alaby disse ainda que ao fincar o pé nos países árabes os produtores de alimentos passam a ter condições de vender para outros países islâmicos, como Irã, Indonésia e Malásia.
Ele destacou também que os Emirados servem como centro de distribuição para um Oriente Médio “ampliado”, que inclui o Norte da África, os países do Levante (Síria, Líbano, Palestina e Jordânia), o Golfo e nações asiáticas, como o Paquistão e ex-repúblicas soviéticas. Só para se ter uma idéia, o país de apenas 4,9 milhões de habitantes tem exportações anuais de US$ 172 bilhões e importações de US$ 134 bilhões, ou seja, uma corrente comercial maior do que a do Brasil, aliada a um crescimento médio anual do PIB na casa dos 7%.
Empresas
Entre as companhias que vão participar do estante da Câmara e do Mapa estão fornecedores de café, lácteos, queijos, massas, chocolates, balas, doces, entre outras. Uma delas é a Itambé, um dos maiores laticínios do Brasil, que estará pela primeira vez na feira. “É um mercado muito importante para o leite em pó e nós já vendemos grandes quantidades para a Jordânia e o Iraque”, disse o gerente de exportação da empresa, André Luiz Massote Monteiro. “De uns tempo para cá focamos muito na África e nas Américas, agora vamos focar o Oriente Médio”, acrescentou.
A companhia vende regularmente para a Argélia, Sudão, Líbia e Líbano e, durante a Gulfood, quer conhecer o mercado do Golfo e prospectar possíveis clientes. Ela vai oferecer leite em pó, leite condensado e leite vaporizado. “Nossa idéia é abrir novos mercados cativos com produtos de maior valor agregado”, disse Monteiro.
Outra empresa que estará na mostra é a Tirolez, fabricante de queijos. Segundo o responsável pelo departamento de exportação, Paulo Hegg, a companhia havia decidido anteriormente concentrar seus esforços em duas das principais feiras de alimentos do mundo, a Anuga, na Alemanha, e a Sial, na França, mas agora está expandindo os horizontes.
“Pela primeira vez nós vamos participar para valer de uma feira fora dessas duas principais”, disse Hegg. Ele quer conhecer quem são seus concorrentes no mercado, achar importadores, verificar quais adaptações necessárias aos produtos e concretizar negócios. Na região a Tirolez já exporta para o Líbano e vai oferecer queijos como provolone, mussarela, minas padrão e parmesão.
Quem quer participar também é a Florestal Alimentos, dona da marca de chocolates Neugebauer. Ela pretende mostrar uma ampla linha de produtos, como chocolates, balas, pirulitos e chicletes. A empresa, segundo Daniella Padilha, da área de exportação, já vende ao mercado árabe há mais de 10 anos e tem a Palestina como um de seus principais destinos na região. A companhia nunca participou da Gulfood. “Participar da feira é bom para manter as relações com os clientes e talvez desenvolver novos negócios”, disse Daniella.
Outra que já exporta tradicionalmente para a região é a Cacique, dona da marca Café Pelé. De acordo com Argélia Andrade, responsável pelos negócios no mundo árabe, a empresa quer consolidar mercados onde ainda não tem representantes, como Dubai, Arábia Saudita, Argélia e Egito. “Queremos encontrar representantes e fechar negócios”, afirmou.
A Gulfood ocorre desde 1987. No ano passado ele reuniu 2.471 expositores de 75 países em 56 pavilhões. Segundo Alaby, este ano a área deverá ser 20% maior. Ela é aberta somente para profissionais do ramo e maiores de 21 anos.