São Paulo – As empresas brasileiras estão encontrando na comercialização via plataformas na internet, o e-commerce, uma forma ágil de chegar ao mercado internacional. Marcas novatas como a mineira Coffee ++, nasceram digitais, fazendo por via virtual o caminho para alcançar o consumidor estrangeiro. Mas como utilizar o comércio eletrônico para exportar? Especialistas descrevem um cenário de processos um tanto quanto simples, mas recomendam cuidar bem de áreas como a logística, a tecnologia e o marketing digital.
Criada em 2020, a Coffee ++, empresa de cafés especiais, começou sua trajetória de comercialização na internet pelo mercado interno. A empresa surgiu com e-commerce próprio e foco em vender para consumidores brasileiros. Dois anos depois, passou a exportar seus produtos para os Estados Unidos por meio do e-commerce da Amazon.
“Historicamente existem mais barreiras para vender no Brasil em lojas físicas do que on-line. Por isso, desde o começo atendemos de forma on-line para chegar a mais pessoas”, explica o diretor de E-commerce da Coffee ++, Tiago Alvisi.
No site da empresa são vendidos quatro tipos de produtos: café em grãos, café torrado e moído, café em cápsula e drip coffee, um sachê individual de café torrado e moído que pode ser coado na hora. A matéria-prima é comprada de fornecedores nacionais.
Depois de atender todos os estados brasileiros, ser vendida em grandes redes de supermercados como a St. Marche e outras, a marca passou a ser comercializada em vários marketplaces no Brasil, como Amazon, Mercado Livre, Shopee, Magazine Luiza e Americanas.
“Vendemos em outros sites porque gostamos de dar opções para os clientes comprarem. Tem comprador que só compra na Amazon e comprador que só usa o Mercado Livre, por isso esses e-commerces acabam servindo de ferramenta de marketing para que outras pessoas conheçam a nossa marca. Respeitamos o preço para que o produto não seja muito maior ou muito menor em um determinado e-commerce”, diz Tiago.
Em 2022, visando atender novos mercados, a marca mineira de cafés especiais passou a exportar para os Estados Unidos. “Como não conhecíamos o mercado norte-americano, fizemos uma parceria com uma empresa de lá. Ela nos treinou, falou do mercado e fez o meio de campo para chegarmos. Como já vendíamos via Amazon Brasil, não tivemos dificuldade de começar a vender via Amazon dos Estados Unidos. As regras eram bem parecidas e com relação à logística, para facilitar nós enviamos uma quantidade dos produtos para a Amazon e quando a compra é feita, eles distribuem”, conta o diretor de E-commerce da Coffee ++.
Como vender via e-commerce
Antes de começar a vender em diferentes sites de comércio eletrônico e em marketplaces, Tiago indica que as empresas façam uma análise cuidadosa a respeito do funcionamento e das regras de cada plataforma.
“Existem marketplaces que vão ficar com 15% do valor do que a empresa vender, tem outros que ficam com uma porcentagem menor. Para você vender nestes sites é necessário ter uma rede de logística bem estruturada para poder atender o tempo de entrega aceitável de cada local. Você não pode demorar 20 dias para entregar enquanto seu concorrente demora cinco dias, por exemplo”, diz Tiago.
Quando se está presente em um marketplace como Amazon, Tiago ressalta a importância de participar de campanhas da marca, por exemplo o Amazon Prime Day, para poder ser destacado como uma empresa confiável. Amazon Prime Day é um evento com ofertas e promoções para assinantes.
“Os marketplaces funcionam de forma similar. Você precisa entender a tecnologia do sistema, subir imagens e as descrições dos produtos, colocar os preços. A parte burocrática, de documentação, geralmente é bem simples.”
O presidente do Conselho Administrativo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Arthur Pimentel, chama a atenção do empresário brasileiro para que observe diversos aspectos antes de entrar nesse meio.
“O mercado global de compra e venda, exportação, é muito dinâmico e as oportunidades são criadas diariamente, é preciso estar atento. O e-commerce não pode ser só uma loja virtual, ele precisa ser uma nova forma de se comercializar. Ele precisa ser a composição entre canais de venda, redes sociais, marketing, etc.”
Por envolver diferentes frentes é necessário fazer as contas para entender se a empresa está preparada. Os investimentos em logística e redes sociais estão entre aqueles que precisam de atenção, de acordo com o presidente do Conselho Administrativo da AEB.
O que mais levar em conta
Quando a empresa passa a atender em outro e-commerce, precisa ter uma equipe e uma estrutura muito bem resolvidas para ter capacidade de satisfazer a demanda de todos.
“Se você tem uma empresa de distribuição de tecidos, por exemplo, atende a região Sudeste do país, mas quer atender a região Nordeste também, você precisa atualizar a sua equipe para poder atender essa demanda que vai crescer. Como é o mesmo idioma, o público vai ser parecido, por isso só serão necessárias algumas adaptações”, diz Roberto Kanter, economista e professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), especialista em varejo.
Já quando a marca quer vender fora do País, precisa entender o comportamento do consumidor, se vai ser necessário ter uma fábrica no local ou fazer um estoque prévio, montar uma estratégia de distribuição, tendo em mente se será preciso fazer parceria com uma empresa local.
“Você precisa fazer um estudo da região antes de sair vendendo para fora. Não vai poder fazer o comércio da mesma forma que é feito no Brasil porque cada local tem suas especificidades. Se você sabe que existe um mercado em potencial para seu produto, será necessário seguir um passo a passo para desenvolver sua marca lá, começando com o entendimento do regulamento e documentação do país de interesse”, explica Roberto.
Se for possível, para entender o público, o economista e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas indica que o empresário passe um tempo no país de interesse, faça negociações com associações locais e o governo.
Para estar sempre em movimento, esse mercado apresenta uma série de oportunidades. “Quando falamos de uma forma de comércio que envolve diretamente a marca e o consumidor final, que é feito no e-commerce, existe uma expectativa bem alta para este ano”, completa Arthur.
Empresas exportadoras
O comércio exterior brasileiro vem crescendo a cada ano e uma das causas é a atuação de um maior número de empresas no mercado internacional. No ano passado, as exportações do País atingiram um resultado inédito. Na comparação com 2022, o crescimento foi de 1,7%, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Os valores das exportações chegaram a US$ 339,67 bilhões. Em relação a 2022, o total de firmas exportadoras cresceu 2% em 2023 para 28,5 mil empresas.
*Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA