São Paulo – Um grupo de médicos brasileiros se juntou a profissionais de saúde do Líbano para realizar uma campanha de atendimento e prevenção ao câncer com mulheres no país árabe. De iniciativa do projeto Moça Bonita, liderado pelo radioterapeuta brasileiro Aref Muhieddine, e com apoio de entidades médicas libanesas, a ação ocorreu no começo deste mês nas cidades de Harissa, Khiara e Bint Jbeil. Participaram cerca de mil mulheres.
O Moça Bonita é um projeto que prevê a integração de médicos brasileiros e libaneses para um trabalho focado no atendimento a mulheres jovens com câncer. O objetivo é prevenir, tratar e dar seguimento aos casos. Muhieddine explica que apesar da incidência de câncer nessa população ser menor, a doença é mais agressiva e tem mais riscos. “O câncer de mama é mais agressivo em uma mulher que tem 30 anos do que em uma que tem 60 anos. O linfoma é mais comum em jovens”, relata.
Quatro médicos brasileiros passaram uma semana no Líbano debruçados sobre essa causa: o próprio Muhieddine, o cirurgião de cabeça e pescoço Roberto Elias Miguel, o cirurgião plástico Romeu Fadul, o dentista e médico bucal Luís Marcelo Seneda, além da advogada Aieda Muhieddine, que deu orientações sobre direito na área de saúde. Também participaram quatro médicos libaneses, entre eles Bechara Athie. A parceria da ação no Líbano foi com a Sociedade Libanesa de Radioterapia e a Sociedade Libanesa de Cirurgia Plástica.
Apesar da iniciativa ser voltada para mulheres jovens, principalmente brasileiras que vivem no Líbano, a campanha teve um tamanho maior do que o estimado e atraiu o público feminino de todo tipo de perfil. Além de libanesas de idades variadas, procuraram os serviços refugiadas que vivem no Líbano, entre elas sírias, iraquianas e sudanesas. As palestras foram ouvidas por mil mulheres. Parte delas foi atendida e fez exames de ultrassom, mamografia e papanicolau.
Muhieddine conta que nas cidades em que havia parceria de hospitais foi possível realizar os exames. Quando ocorreu em outros locais, elas receberam encaminhamento para realiza-los depois, o que está sendo feito ainda nesta semana. Os resultados chegarão eletronicamente para o Moça Bonita e, se for o caso, as pacientes serão orientadas para tratamento. O médico conta que uma moça atendida em Khiara, que teve câncer e precisava de reconstrução mamária, receberá a prótese do projeto Moça Bonita e será atendida pelo médico libanês Ghasan Said.
O radioterapeuta Muhieddine tem como sonho abrir centros especializados em mulheres jovens com câncer em hospitais de excelência no Brasil e em outras regiões do mundo, como no próprio Líbano, África, Europa e até Estados Unidos. “A ideia é não perdermos essas mulheres e essas famílias pela doença que pode ser curada”, afirma.
O projeto prevê também o ensino aos médicos de como tratar pacientes com esse perfil. O estudo destes casos fez com que Muhieddine chegasse a várias necessidades peculiares a elas, como a importância de seguir em atividade física após o câncer diagnosticado, o apoio da família, além de outras questões comportamentais ou especificas do tratamento. A mamografia, por exemplo, é boa para ser feita em mulheres acima de 35 anos, mas as mais jovens, em função da mama ser glandular, precisam de outros exames. As que tem prótese mamária, segundo o médico, necessitam de ressonância magnética.
A campanha de saúde no Líbano teve 70% do seu custo coberto pelo blog Na Segunda Lú Começa, da jornalista brasileira Lú Braga. Os outros 30% foram bancados pela cidade de Harissa e por empresários libaneses. O blog da brasileira também atuou na organização das atividades da campanha.