São Paulo – O Egito quer ampliar suas relações comerciais com o Brasil e aposta no impulso que pode ser dado pela entrada em vigor do acordo de livre comércio assinado com o Mercosul. Isso daria mais competitividade para os produtos egípcios no mercado brasileiro, ajudando a equilibrar uma balança comercial desfavorável ao país árabe. É o que avalia Alaa Roushdy, novo embaixador do Egito em Brasília. O tratado foi assinado em 2010, mas ainda não está valendo porque ainda não foi ratificado pelos parlamentos de todos os países do bloco sul-americano.
Roushdy visitou a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, nesta quarta-feira (20) e foi recebido por Marcelo Sallum, presidente da entidade, Michel Alaby, diretor-geral, Ramez Goussous, conselheiro sênior de Relações Institucionais e Internacionais, e Tamer Mansour, gerente de Relações Governamentais da instituição. O embaixador estava acompanhado por Mohamed Elkhatib, cônsul comercial do Egito em São Paulo, e Yasser Hegazy, vice-cônsul comercial em São Paulo.
“O acordo de livre comércio entre o Egito e o Mercosul será vital e de grande importância. Três países já ratificaram, o Brasil foi o primeiro, seguido de Uruguai e Paraguai. Agora estamos esperando pela Argentina para ratificar. Com isso, poderemos colocar o acordo em vigor e nos beneficiar dele”, disse o diplomata. O texto foi ratificado pelo Egito em janeiro de 2013.
Roushdy considera que as relações políticas e econômicas entre o Brasil e o Egito são muito fortes e que a desaceleração da economia mundial torna muito importante a cooperação entre os países do eixo Sul.
“Eu quero dizer cooperação Sul-Sul nos setores privado e governamental. É sobre isso que falamos [no encontro na Câmara Árabe], sobre como aumentar as relações econômicas, o comércio. A balança comercial atualmente está muito a favor do Brasil. Queremos ver como tentar fechar essa diferença trazendo exportações do Egito para o Brasil, e também levar investimentos do Brasil ao Egito e [trazer investimentos] do Egito ao Brasil”, destacou.
Para o embaixador, há vários setores do Egito que poderiam ampliar sua presença no Brasil. “A indústria petroquímica, alguns alimentos como alho, frutas cítricas, que o Brasil importa e o Egito exporta, tecidos e roupas, coisas como essas. Para isso será necessário que o acordo com o Mercosul passe a valer, porque muitas vezes as barreiras são grandes e às vezes é muito caro para os empresários egípcios virem para o mercado brasileiro. Então, uma vez que o acordo entre em vigor e as taxas comecem a ser menores, temos uma boa chance de competir”, avaliou.
O diplomata considera que, para os brasileiros, investir no Egito pode ser bastante vantajoso. “O Egito tem acordo de livre comércio com países do Oriente Médio e da África, notadamente com toda a área da África Ocidental. Esse é um ponto de acesso [àqueles mercados]”, disse.
A posição geográfica do Egito, dando acesso aos continentes africano, europeu e asiático, também é algo que pode ser estratégico para os negócios brasileiros, avaliou Roushdy.
“A posição central do Egito é uma vantagem quando se considera a distância do Brasil e o tempo de navegação [de cargas até a região]. Ter investimentos no Egito e poder operar a partir de lá é muito mais fácil”, ressaltou, lembrando de empresas brasileiras que já operam em seu país, como a construtora Camargo Correa, por meio da fabricante de cimentos Amreyah Company, e a Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus.
Para aumentar as relações com o Brasil, Roushdy diz contar com o apoio da Câmara Árabe. “A Câmara é muito importante não somente para o Egito, mas para todos os países árabes e suas embaixadas. A Câmara tem nos ajudado de muitas formas, cooperando conosco no acesso a oportunidades de investimentos, de comércio e econômicas, assim como na maneira de implementá-las e em como aumentar o volume de cooperação econômica”, ressaltou.
Roushdy destacou ainda que o Egito foi o quinto destino de viagem dos brasileiros na última temporada de férias. Segundo ele, o nível de segurança em seu país não é inferior ao de outros destinos turísticos.
“A situação no Egito, eu diria, está como em qualquer lugar no mundo. Tivemos ‘acidentes’ em Paris e em outros lugares. Houve tiroteios nos Estados Unidos. Infelizmente, há terrorismo em muitos lugares. A situação no Egito é que há muitos turistas lá e eles continuam indo. A segurança é levada muito a sério pelas autoridades egípcias, tendo o mais alto nível de segurança para que os visitantes possam aproveitar o esplendor da natureza e dos lugares históricos no Egito”, afirmou.
Nascido em 1967, Roushdy é formado em Economia. O diplomata, que assumiu o posto de embaixador no Brasil em novembro no ano passado, já atuou nas embaixadas do Egito em Washington, nos Estados Unidos, Roma, na Itália, e na Missão Permanente do Egito na Organização das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça.