São Paulo – Entre os árabes e descendentes que vivem no Brasil, os de religião muçulmana são os que mais dominam o idioma árabe. No grupo dos que seguem o Islã, 82% fala árabe. Entre os árabes católicos que moram no Brasil esse percentual é bem menor, de apenas 10%, e entre os árabes que são evangélicos, apenas 4% é falante da língua árabe.
Os dados são parte de uma pesquisa encomendada pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que apontou que 6% da população brasileira, cerca de 11,6 milhões de pessoas, é árabe ou tem ascendência árabe. O levantamento, divulgado em julho de 2020, foi realizado pelo Ibope Inteligência e a H2R Pesquisas Avançadas.
A antropóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP), Francirosy Campos Barbosa, acredita que o domínio maior do idioma árabe pelos muçulmanos tem relação com a religião. Francirosy é muçulmana e coordena o Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes na unidade da USP em Ribeirão Preto, interior paulista.
A antropóloga conta que as cinco orações diárias dos muçulmanos são feitas em árabe e que o idioma é o utilizado nas celebrações nas mesquitas. Mesmo os brasileiros convertidos – ou revertidos – devem orar na língua árabe e na maioria das vezes aprendem o idioma na mesquita. “Eu tenho amigos que falam muito bem o árabe, são brasileiros, mas falam árabe e leem o Corão em árabe com fluência”, conta Francirosy, ela também uma estudante de árabe.
O ponto central da celebração das sextas-feiras nas mesquitas é o sermão do líder religioso e esse normalmente é feito em árabe. Francirosy conta que no Brasil há mesquitas com sermões apenas em árabe, as que oferecem tradução para o português e outras nas quais os próprios xeques falam aos presentes em português e em árabe.
A antropóloga diz que os muçulmanos recebem bênçãos quando aprendem a recitar as orações em árabe ou ensinam a alguém um capítulo do Alcorão, por exemplo. Quem pratica o Islã, mesmo não sendo de país ou ascendência árabe, também acaba incorporando expressões de agradecimento, cumprimento e outros no idioma árabe no seu cotidiano.
Além da ligação do idioma árabe com o Islã, há outros fatores que explicam a maior preservação da língua pelos muçulmanos no Brasil. Um deles é a imigração deles ao País, bem mais recente que a dos árabes cristãos. Francirosy lembra que recentemente chegaram muitos sírios com nível superior. Muitos dos que vieram trabalham ensinando o idioma árabe, mesmo sendo de outras áreas profissionais, pois não conseguiram validar os diplomas.
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Do total de árabes e descendentes que vivem no Brasil e foram identificados na pesquisa da Câmara Árabe, 56% fala apenas português. Dos 44% que falam também outros idiomas, a maioria (26%) domina o inglês, seguido pelo árabe (24%), o espanhol (10%) e o francês (7%). Quando se trata de idioma árabe, entre os homens da comunidade árabe do Brasil, 31% fala árabe, percentual que cai para 13% entre as mulheres. O domínio do idioma também é maior nas classes sociais mais altas (A/B) e entre as pessoas com idades entre 24 e 34 anos. Entre os árabes do Brasil, 43% são católicos, 18% evangélicos e 16% muçulmanos, segundo a pesquisa.