São Paulo – O novo embaixador do Brasil no Iraque, Miguel Júnior França Chaves de Magalhães, desembarca em Bagdá na próxima semana com a missão de ampliar as exportações brasileiras para o país árabe. “Tenho como missão retomar o trabalho que já foi feito por meus antecessores e expandir a nossa pauta de comércio, que hoje é desfavorável ao Brasil”, afirmou o diplomata em entrevista à ANBA nesta quarta-feira (05), após uma reunião com diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da qual participou também o diretor geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
Magalhães, que assume posto no dia 13, lembra que o Brasil teve uma relação comercial bem intensa com o Iraque nos anos 1970 e 1980 e chegava a importar 70% do petróleo que necessitava do país do Oriente Médio. “Chegamos a construir refinarias com especificações para o petróleo iraquiano, como a refinaria de Paulínia”, afirmou o diplomata. Na mesma época, o Brasil exportava uma gama grande de produtos e serviços ao mercado iraquiano. “E exportávamos de tudo, serviços, construção de estradas, de ferrovias, exportamos automóveis”, contou ele.
As guerras e as sanções econômicas impostas ao país, porém, interromperam essa relação. “Mas com o fim da guerra e extintas as sanções, se abre novamente o Iraque para o mundo”, afirma Magalhães, lembrando a importância que o país tem no Oriente Médio.
O Brasil faturou com exportações ao Iraque US$ 226 milhões no ano passado, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os produtos comercializados foram tubos de liga de aço, carnes, arroz, niveladores, máquinas, tratores, escavadeiras, motores, entre outros. Nos seis primeiros meses deste ano, as vendas para o país árabe foram de US$ 138 milhões.
Já os iraquianos venderam ao mercado brasileiro US$ 1,04 bilhão no ano passado, principalmente em petróleo. No primeiro semestre deste ano, porém, os envios caíram bastante e somaram apenas US$ 157 milhões. Quase que a totalidade da pauta foi petróleo, mas também houve envio de naftas em 2015, segundo dados da Secex.
Em conversa com as lideranças da Fiesp, o embaixador do Iraque prometeu identificar as necessidades do mercado iraquiano e repassar essas informações ao empresários brasileiros. “Meu trabalho será mapear, identificar as necessidades do mercado iraquiano e encontrar aqui os provedores dispostos a suprir esse mercado”, afirmou o diplomata à ANBA. Ele disse que o Brasil consegue vender alimentos como açúcar e frango a preços imbatíveis, mas também é possível trabalhar para aumentar o comércio em outras frentes, como na de bens de consumo duráveis e não duráveis. O dólar valorizado deve favorecer a inserção.
Os diretores da Fiesp falaram sobre uma série de possibilidades no comércio com o Iraque e vão aguardar também a sinalização do novo embaixador sobre as necessidades locais. As áreas agrolimentar, de máquinas, produtos de defesa e cooperação na área de ensino técnico foram algumas das discutidas. A coordenadora de Relações Exteriores, Comércio e Promoção de Investimentos do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, Carla Rossetti, sugeriu a vinda de uma missão compradores de empresários iraquianos ao Brasil.
O dirigentes da Fiesp relataram o atual momento pela qual passam as indústrias paulistas (e brasileiras), de contenção de gastos frente ao cenário de retração no mercado doméstico. Por isso, elas não têm feito investimentos em missões internacionais e a vinda de empresários iraquianos foi apontada como uma boa saída para estreitar as relações. Mas já há algumas ações de aproximação programadas pelos governos dos dois países. Estão sendo planejadas visitas recíprocas de ministros do Brasil ao Iraque e vice-versa.
O embaixador do Brasil no Iraque também tem vontade de desenvolver as relações dos dois países em outras áreas, como a cultural. “O Iraque é o berço da civilização, a primeira escrita da qual se tem notícias, a cuneiforme, vem de lá”, lembra o diplomata, citando a história rica de mais de cinco milênios do Iraque e a importância dos seus sítios arqueológicos. “Infelizmente nos últimos anos o Iraque esteve imerso em conflitos internos e externos que impediram que o mundo compartilhasse um pouco da sua riqueza cultural”, disse, complementando que espera que com a melhora da situação de segurança se possa ter missões culturais ao país.
Magalhães é cearense de Fortaleza e tem 35 anos de carreira diplomática. Ele atuou em várias áreas neste universo, desde a econômica e comercial até cultural, de cooperação técnica e administração. Magalhães foi embaixador por três anos em São Cristóvão e Nevis, no Caribe, e seu último posto foi na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O embaixador anterior do Brasil no Iraque foi Ánuar Nahes, que saiu há pouco mais de um ano para assumir o consulado do Brasil em Montevidéu, no Uruguai.
Do encontro com Magalhães na Fiesp também participaram o diretor titular do Derex, Thomaz Zanotto, o diretores titulares adjuntos do Derex, Newton Mello e Antonio Bessa, o gerente de Relações Institucionais do Brazil Machinery Solutions, Casemiro Taleikis,o presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, embaixador Rubens Barbosa, o diretor do Departamento da Indústria de Defesa da Fiesp (Comdefesa), Sérgio Vaquelli, e o diretor também do Comdefesa, José Carlos Carvalho, além de assessores. O embaixador também visitou a Câmara Árabe.