São Paulo – A partir de 23 de setembro, o diplomata Roberto Abdalla assume a embaixada do Brasil em Doha, no Catar, com a missão de dinamizar as relações entre o país árabe e o Brasil. A decisão de elevar o relacionamento das duas nações a um novo nível de adensamento foi tomada pela presidente Dilma Rousseff e o emir do Catar, Tamim Bin Hamad Al Thani, durante viagem da chefe de estado brasileira ao Catar, no ano passado. Na época, os dois resolveram buscar aproximação nas áreas de energia, esporte, educação, comércio e investimentos.
Abdalla chega a Doha já com uma tarefa imediata, a organização de uma missão do Catar ao Brasil para encontros entre chanceleres e empresários no final de novembro. Abdalla afirma que o Catar é o país, no Oriente Médio, com relacionamento mais fluído com o Brasil. Foi o único país do Oriente Médio visitado por Dilma Rousseff e também foi destino de duas viagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, o emir anterior, Hamad Bin Khalifa Al Thani, e sua mulher, Mozah Bint Nasser Al Missned, também fizeram visita oficial ao Brasil.
O diplomata afirma que as cinco áreas definidas pelos líderes dos países poderão alavancar as relações a um patamar diferente, e que o encontro programado para novembro já é um “arcabouço” formidável para tal. Entre as vertentes pelas quais o relacionamento pode avançar, Abdalla vê o aumento das compras brasileiras de gás do Catar, a atração de investimentos da Qatar Investment Authoriy, fundo soberano da nação árabe, para áreas como infraestrutura e energia.
Ele acredita também na possibilidade de aproximação na área esportiva, já que o Brasil sediou a Copa do Mundo em 2014, receberá as Olimpíadas em 2016, e o Catar receberá a Copa do Mundo em 2022. O diplomata cita ainda o fato de o Catar estar trabalhando para se tornar um centro internacional de conhecimento. “Em todas essas áreas o Brasil tem muito a contribuir e também pode se beneficiar”, afirmou o embaixador em entrevista à ANBA.
O Catar e o Brasil têm uma pauta de comércio pequena, mas crescente. No acumulado deste ano até agosto, o Brasil faturou US$ 270 milhões com exportações ao país árabe e o Catar, US$ 577,7 milhões com vendas ao mercado brasileiro. A exportação brasileira é concentrada principalmente em carnes, químicos inorgânicos e minérios, e a exportação do Catar em adubos e fertilizantes, combustíveis e lubrificantes, além de plásticos, segundo o diplomata. Mas, de acordo com Abdalla, o comércio aumentou 800% nos últimos dez anos.
Apesar de o comércio não ser significativo diante dos volumes que o Brasil exporta e importa, Abdalla cita uma série de razões que fazem do Catar um país atrativo e importante para o Brasil. Entre elas estão as reservas e exportações de gás do país, o seu fundo soberano que é um dos maiores do mundo, e a riqueza do país bem maior do que a população. Ele lembra também a liderança do país na região e a coesão social interna que o Catar tem.
Abdalla afirma que assume a embaixada em um momento em que as relações bilaterais entre Brasil e Catar estão excelentes. Ele lembra que o Brasil tem dez anos de embaixada em Doha e 41 anos de relação diplomática com o país.
Nascido no Recife, em Pernambuco, e descendente de libaneses, Abdalla estava há dois anos no cargo de diretor de Serviço Exterior do Itamaraty. Antes ele foi embaixador do Brasil na Cidade do Kuwait, cumulativamente com o Bahrein, por quatro anos. Mas a experiência do diplomata com o mundo árabe começou ainda antes, na chefia da Divisão do Oriente Médio II do Ministério de Relações Exteriores, onde esteve por cinco anos.
A carreira diplomática de Abdalla começou em 1985 e desde lá, até assumir a chefia da Divisão de Oriente Médio II, Abdalla passou por uma série de funções, no próprio Itamaraty e no exterior, em cidades como Caracas, na Venezuela, e Londres, na Inglaterra. Os primeiros anos foram marcados pela atuação com promoção comercial.