São Paulo – O comércio global deverá encerrar 2016 com crescimento de 1,7% sobre o ano anterior e registrar a expansão mais lenta desde o começo da crise econômica mundial, em 2008. De acordo com o relatório “Estatísticas e previsões de comércio” divulgado nesta terça-feira (27) pela Organização Mundial do Comércio (OMC), um dos motivos para a desaceleração na troca global de mercadorias é a contração de economias de países em desenvolvimento, especialmente Brasil e China.
O relatório faz uma revisão de projeções divulgadas em abril. Naquela ocasião, a expectativa da OMC era de que o comércio global cresceria 2,8%, e foi revista para o atual patamar de 1,7%. Para 2017, a previsão inicial era de expansão de 3,6%, porém a nova estimativa indica uma ampliação entre 1,8% e 3,1% do comércio global. A OMC calcula o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2,2%, o menor desde a crise.
Um dos motivos que levou a OMC a revisar as projeções para baixo foi o desempenho do comércio nos dois primeiros trimestres deste ano. Entre janeiro e março, as trocas de mercadorias caíram 1,1% em comparação com o mesmo período do ano passado, e foram maiores do que o esperado. Já o crescimento de 0,3% registrado no segundo trimestre ficou aquém do que indicavam as projeções.
“A dramática lentidão no crescimento do comércio é séria e deveria ser um alerta. É particularmente preocupante em um contexto de crescente sentimento anti-globalização. Precisamos garantir que isso não se traduza em políticas desorientadas que possam tornar a situação muito pior, não somente da perspectiva do comércio, mas também do crescimento da geração de empregos e do desenvolvimento, que são tão intimamente ligados a um sistema comercial aberto”, afirmou em comunicado o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo.
A OMC alerta que o mundo precisa de uma ampla troca comercial entre os países, pois entre seus benefícios está incluir países pobres na rede global de fornecimento, promover a inclusão de pequenos empreendedores, micro e pequenas empresas e “grupos marginalizados” em todas as economias. “Enquanto os benefícios do comércio são claros, também é óbvio que precisam ser compartilhados mais amplamente”, afirma a OMC.
A OMC atribui parte desta previsão de desaceleração aos países em desenvolvimento, com atenção ao Brasil. Ao comparar as exportações brasileiras em meses de agosto, o País exportou aproximadamente US$ 22 bilhões em 2014, US$ 12 bilhões em 2015 e US$ 11 bilhões em 2016. As importações caíram de cerca de US$ 21 bilhões em agosto de 2014, para US$ 16 bilhões no ano passado e aproximadamente US$ 10 bilhões neste ano. Rússia, Índia e África do Sul, outros países em desenvolvimento, também tiveram queda no seu volume de comércio.
Devido ao desempenho da economia brasileira, a OMC estima que as exportações dos países da América do Sul e Central irão crescer 4,4% neste ano. As importações, porém, terão retração de 8,3%. Na maioria das regiões, a expectativa é de queda nas exportações, porém a previsão é diferente para a América do Sul devido às taxas de câmbio favoráveis aos exportadores. No geral, as exportações das economias desenvolvidas deverão crescer 2,1% neste ano, e as importações 2,6%. Os países em desenvolvimento deverão ampliar suas exportações em 1,2% e as importações em 0,4%.
“A perspectiva para o restante deste ano e para o próximo ano é afetada por um número de incertezas, incluindo volatilidade financeira decorrente de políticas monetárias em países desenvolvidos, a possibilidade de crescimento de uma retórica anti-comércio que pode se refletir nas políticas comerciais e potenciais efeitos do voto pelo Brexit no Reino Unido, que ampliou as incertezas sobre o futuro dos acordos comerciais na Europa, região em que o crescimento do comércio tem sido relativamente forte”, afirma o documento.