Isaura Daniel
São Paulo – O Brasil está exportando um modelo bem sucedido de escolas de informática e cidadania voltadas para comunidades carentes. A responsável é a organização não-governamental brasileira Comitê para Democratização da Informática (CDI) que criou um sistema de ensino pelo qual crianças, jovens e adultos de bairros pobres aprendem informática a partir da discussão de problemas das suas comunidades. O projeto foi criado no Brasil em 1993 e começou a ser levado ao exterior em 1999. Hoje já existem 891 escolas deste modelo no mundo, 716 no Brasil e 175 em outros oito países.
O aprendizado da informática começa com conversas sobre o cotidiano da comunidade na qual o curso está sendo dado. Se um problema local for gravidez entre adolescentes, por exemplo, os aprendizes vão pesquisar o tema na internet, e assim aprender a lidar com a rede mundial, ou até fazer um jornal sobre métodos anticoncepcionais, para o que terão que mexer com editores de texto.
O ensino é baseado no método do educador Paulo Freire, que diz que o aprendizado deve partir da realidade dos alunos. De acordo com o diretor de operações do CDI, Mário Vieira, há o caso de uma escola, por exemplo, que fez, a partir das aulas, um projeto para que as pessoas parassem de jogar lixo no córrego da comunidade.
O curso oferecido é básico e dura cerca de quatro meses. Os alunos aprendem sistema operacional, internet, editor de texto, apresentações (Power Point) e planilhas (Excel). Para crianças em idade pré-escolar é dado um curso diferente, no qual são dadas noções de informática em meio a brincadeiras. Também são dados cursos para a terceira idade, mas estes seguem o mesmo método usado para adolescentes e adultos.
Na maioria das escolas os alunos não pagam mensalidade. Em algumas, eles pagam apenas uma taxa básica de R$ 5 para despesas da unidade. Todo o trabalho do CDI é mantido hoje com o apoio de empresas e fundações. O projeto funciona como um sistema de franquia, mas sem cobrança de valores. Para abrir uma escola, por exemplo, é preciso que haja alguma outra instituição, como uma ONG, igreja ou escola, representativa da comunidade local, para ser parceira do CDI.
O Comitê entra no projeto com o fornecimento da sua metodologia de ensino, cedendo os computadores em regime de comodato e com a capacitação dos professores, que serão jovens da comunidade local. A instituição parceira fica responsável pelo local e a infra-estrutura para as aulas.
O CDI foi criado oficialmente em 1995 e tem hoje toda uma estrutura no país. Existe uma sede principal, no Rio de Janeiro, e também os CDIs regionais, que coordenam o trabalho das escolas. Tanto a ONG se mantém com o apoio financeiro das fundações e empresas como os escritórios regionais e as escolas podem buscar recursos por conta própria. A rede tem grandes empresas, tais como Companhia Vale do Rio Doce, Microsoft, Esso e Philips, apoiando o seu trabalho no Brasil.
No mundo
O CDI foi criado pelo professor de informática e empresário Rodrigo Baggio. Hoje existem escolas do CDI em 290 municípios de 19 estados brasileiros. No exterior, a rede está na Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, África do Sul, México, Equador e Estados Unidos. No Equador, por exemplo, o parceiro do CDI no trabalho é o Rotary Club. Na Colômbia, é uma ONG da área educativa chamada Escuela Nueva.
De acordo com Vieira, o CDI não tem metas de expansão no exterior. Normalmente, ela ocorre a partir de interesse de potenciais parceiros. Tanto para abrir uma escola no Brasil como no exterior, porém, é necessário ter uma série de pré-requisitos e passar por um processo de seleção.
O CDI nunca chegou a receber manifestação de interesse de países árabes, mas, segundo Vieira, está aberto a manter contatos e avaliá-los. "Normalmente quem manifesta interesse são pessoas ou organizações que já desenvolvem um trabalho social", afirma.