São Paulo – Ao final de 2015 havia 65,3 milhões pessoas deslocadas à força no mundo, 9,7% a mais do que em 2014 e o maior volume desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Os dados constam no relatório “Tendências globais – deslocados forçados em 2015”, divulgado nesta segunda-feira (20), Dia Mundial do Refugiado, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Segundo o documento, do total de pessoas que deixaram seus lares até o final do ano passado, 40,8 milhões são deslocados dentro de seu próprio país, 21,3 milhões são refugiados e 3,2 milhões são requerentes de asilo em países industrializados.
A principal fonte de refugiados em 2015 foi a Síria, país que desde 2011 enfrenta um conflito interno entre as forças do governo do presidente Bashar Al Assad e opositores. Ao fim do ano passado, havia 4,9 milhões de refugiados sírios, quase um milhão a mais do que no fim de 2014. Síria, Afeganistão, Somália, Sudão do Sul, Sudão, República Democrática do Congo, República Centro Africana, Mianmar, Eritreia e Colômbia foram os dez países que mais enviaram refugiados no ano passado.
A Turquia foi o país que mais recebeu: ao fim de 2014, o país abrigava aproximadamente 1,6 milhão de refugiados. No ano passado, o número passou para 2,5 milhões de pessoas. Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia, Jordânia, Quênia, Uganda, República Democrática do Congo e Chade foram os principais receptores de refugiados.
No mesmo levantamento, o Acnur mostra a proporção de refugiados em relação à população do país receptor. Neste dado, o Líbano lidera. O país do Oriente Médio abrigava 183 refugiados a cada 1.000 habitantes no ano passado. Na Jordânia, o segundo colocado neste cálculo, havia 87 refugiados para 1.000 habitantes. Em Nauru, na Oceania, a proporção era de 50 refugiados para cada 1.000 habitantes.
Ao lançar o documento, o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou em nota que a cada ano o Acnur procura por um “lampejo de esperança” nas estatísticas de refugiados para mostrar como o mundo está buscando soluções para o trauma destas pessoas. “Mas neste ano foi difícil encontrar sinais de esperança”, afirmou.
“Em vez de compartilhar este desafio, vemos fronteiras sendo fechadas. Em vez de vontade, vemos paralisia política. E, a organizações humanitárias como a minha, cabe lidar com as consequências no mesmo momento em que lutamos para salvar vidas com orçamentos limitados”, afirmou.
O documento mostra que a maior parte das pessoas que deixam suas casas busca viver no mesmo país. Entre aqueles que procuram outra nação, a maioria se refugia em países vizinhos. Dos sírios a maioria foi para a Turquia, Líbano e Jordânia. Entre os afegãos, os principais refúgios foram o Paquistão e o Irã.
Outros foram mais longe. No ano passado, mais de um milhão de pessoas arriscaram cruzar o Mar Mediterrâneo em botes superlotados para tentar alcançar a Europa. Desses, aproximadamente 850 mil cruzaram o Mar Egeu a partir da Turquia para chegar à Grécia, Itália e Espanha. Nessa tentativa, 3.770 morreram ou desapareceram em naufrágios. Metade dos refugiados que chegaram à Europa pelo Mediterrâneo era formada por sírios.
A Alemanha foi o país europeu que mais recebeu pedidos de refúgio: 441,9 mil. Desses, 158,7 mil pedidos foram feitos por sírios. Ucrânia, Afeganistão e Iraque tinham mais de 150 mil solicitações de asilo em 2015.
Em sua mensagem por ocasião do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou que os refugiados precisam ser recebidos com uma política de não discriminação, respeito aos direitos humanos e ao princípio de não aversão.
"Com a retórica anti-refugiados tão estridente é difícil às vezes ouvir as vozes de boas-vindas. Mas elas existem, no mundo inteiro. No ano passado, em muitos países e regiões, testemunhamos uma extraordinária manifestação de compaixão e solidariedade, de como pessoas comuns e comunidades abriram suas casas e seus corações aos refugiados, e Estados que receberam recém-chegados enquanto já abrigavam uma elevada quantidade de refugiados”, disse.