Alexandre Rocha
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São Paulo – Os investimentos estrangeiros diretos (IED) nos países do Oriente Médio chegaram ao nível recorde de US$ 60 bilhões no ano passado, um aumento de 44% em comparação com 2005. Os dados constam do Relatório Mundial de Investimentos 2007, divulgado ontem (16) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
Na avaliação da entidade, o forte crescimento econômico da região encorajou os investimentos, assim como o alto preço do petróleo, que tem atraído cada vez mais recursos às indústrias ligadas ao petróleo e ao gás. As privatizações foram também um fator de atração de capitais externos. Houve ainda uma melhora generalizada no ambiente para investimentos.
A Unctad considera como parte do Oriente Médio, ou Ásia Ocidental, em sua nomenclatura, 14 países, entre eles os árabes Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano, Kuwait, Omã, Palestina e Síria, além dos não árabes Irã e Turquia.
Em entrevista à ANBA, o encarregado de assuntos econômicos da Unctad, Kalman Kalotay, disse que o crescimento do fluxo de investimentos diretos é um fenômeno verificado ao redor do mundo, e no Oriente Médio não é diferente. “Eles acompanham o crescimento econômico”, disse. Em escala global, o fluxo de IED chegou a mais de US$ 1,3 trilhão, um aumento de 38% em comparação com 2005 e perto do recorde atingido no ano 2000, que foi de US$ 1,41 trilhão.
No caso dos países árabes, isto se reflete no aumento de aportes necessários em infra-estrutura, telecomunicações, imóveis e no setor financeiro. Para Kalotay, a atratividade da região para os investidores ficou clara na continuidade do fluxo de recursos para o Líbano mesmo após os ataques promovidos por Israel ao país árabe em meados de 2006. “O Líbano demonstrou que os investidores estão vendo a região de um modo diferente, pois eles não abandonaram o país por causa do conflito”, disse. O Líbano atraiu US$ 2,8 bilhões em IED no ano passado, um aumento de 1,6% em comparação com 2005.
A Arábia Saudita foi o país árabe que mais atraiu investimentos em 2006, um total de US$ 18,3 bilhões, 51% a mais do que em 2005. No Oriente Médio, em seguida aparece os Emirados, que receberam US$ 8,4 bilhões. Embora existam restrições à participação estrangeira na exploração de petróleo, segundo Kalotay os investidores têm interesse também em outros segmentos da indústria, como a petroquímica. No caso dos Emirados, de acordo com o relatório, as zonas francas existentes no país atraíram boa parte dos recursos internacionais.
Na avaliação da Unctad, os esforços dos países do Golfo para diversificar suas economias e reduzir a dependência do petróleo, auxiliaram também na atração de investimentos para outros setores da indústria. O ramo de serviços, no entanto, foi o que mais recebeu IED em 2006, especialmente o setor financeiro, como resultado de políticas de privatizações e liberalização econômica adotadas em diversos países.
Segundo a organização, grandes operações de fusões e aquisições e privatizações no setor bancário fizeram da Turquia o maior receptor de IED na região em 2006, com US$ 20 bilhões. No país ocorreram também negócios de grande volume na área de telecomunicações. Assim como na Jordânia, que foi o quarto país da região a receber mais recursos em 2006, US$ 3,1 bilhões, um aumento de 103,7%. Em seguida aparecem o Bahrein (US$ 2,9 bilhões), Líbano, Catar (US$ 1,8 bilhão), Omã (US$ 952 milhões), Irã (US$ 901 milhões) e Síria (US$ 600 milhões).
Como origem de investimentos, o Kuwait ficou em primeiro lugar. O país aplicou US$ 7,9 bilhões no exterior em 2006, um aumento de 53,5% em relação a 2005, especialmente no setor de telecomunicações, de acordo com a Unctad. Os Emirados ficaram em segundo lugar, com investimentos de US$ 2,3 bilhões. No total, os países da região foram origem de US$ 14 bilhões em IED no ano passado, 5% a mais do que em 2005. Os principais motivos, segundo o relatório, foram o alto preço do petróleo e o superávit em conta corrente das nações produtoras da commodity.
Norte da África
No Norte da África, onde estão localizados Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Sudão e Tunísia, a entrada de investimentos diretos chegou a US$ 23,3 bilhões em 2006, um aumento de 72,4% em comparação com 2005.
O Egito foi o país que mais atraiu recursos no continente africano, e ficou na segunda colocação entre os árabes. Mais de US$ 10 bilhões entraram no país, um crescimento de 86,8% em relação a 2005. Segundo a Unctad, 80% destes investimentos foram destinados a novos empreendimentos e projetos de ampliação em áreas não relacionadas à indústria petrolífera.
O Sudão aparece em segundo lugar no Norte da África, com investimentos de US$ 3,5 bilhões, 53,6% a mais do que em 2005. Os recursos, de acordo com a Unctad, foram destinados principalmente à exploração de petróleo e mineração. Em seguida vem a Tunísia, com US$ 3,3 bilhões, quatro vezes mais do que no ano anterior, resultado principalmente de privatizações na área de telecomunicações.
Na quarta posição está o Marrocos, que atraiu US$ 2,9 bilhões em IED, seguido da Argélia (US$ 1,795 bilhão) e da Líbia (US$ 1,734 bilhão).
Para Kalman Kalotay, a maioria dos países do Norte da África tem grande população, o que por si só os torna atraentes para os investidores. Além disso, a região tem a vantagem da proximidade geográfica com a Europa, o que a torna grande receptora de recursos europeus por meio da iniciativa Euromed, de cooperação entre países europeus e mediterrâneos. Nações como Argélia, Egito, Marrocos e Tunísia têm inclusive acordos de associação com a União Européia.
Embora as estatísticas não mostrem claramente, Kalotay afirmou que os investimentos entre os próprios países árabes têm contribuído fortemente para o aumento do fluxo de IED no Oriente Médio e no Norte da África. No total, os 22 países árabes, incluindo os da África e do Oriente Médio, atraíram US$ 62,4 bilhões em 2006.
Segundo ele, os investimentos nas duas regiões deverão continuar a crescer, embora não no ritmo acelerado registrado no ano passado. Recentemente a Unctad divulgou a uma pesquisa sobre perspectivas de investimentos até 2009, feita com 192 empresas multinacionais, e ela não mostra possibilidade de recuo do fluxo de recursos para o Oriente Médio e Norte da África.
Brasil é o 12° maior investidor
No Brasil, a entrada de investimentos chegou a US$ 18,8 bilhões, um aumento de 24,7% em comparação com 2005, o que colocou o país na 19ª posição entre os principais receptores de IED. A América Latina como um todo recebeu US$ 84 bilhões em investimentos diretos no ano passado, um crescimento de 11%. O Brasil ficou atrás apenas do México como principal destino dos recursos na região.
No ano passado, pela primeira vez, o país investiu mais no exterior do que atraiu recursos. Foram US$ 28,2 bilhões, o que pôs o Brasil no 12° lugar entra as nações que mais investem. O desempenho foi influenciado pela compra da mineradora canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce, um negócio de US$ 17 bilhões.
Para Kalotay, o crescimento do fluxo de IED para o Brasil deverá se acelerar ainda mais. “O total de IED não é grande o bastante para o tamanho da economia brasileira, existe ainda um grande potencial de crescimento dos investimentos”, disse.
A Sociedade Brasileira de Estudos Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) também pensa assim, conforme a ANBA noticiou na semana passada. Segundo a Sobeet, o fluxo de IED para o Brasil tende a aumentar ainda mais com a proximidade do país conseguir o “grau de investimento” de agência internacionais de rating, uma espécie de atestado da segurança da economia.
Segundo Kalotay, o “grau de investimento” deverá em primeiro lugar incentivar o aumento dos investimentos nos mercados financeiro e de capitais, mas depois terá impacto no fluxo de IED. “O Brasil recebeu um grande fluxo de IED no final dos anos 90 com as privatizações. A expectativa agora é de que os recursos serão direcionados para a indústria de transformação”, disse. As multinacionais que responderam à pesquisa da Unctad sobre perspectivas de investimentos colocaram o Brasil na 5° posição entre os destinos mais atrativos, atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia.