Isaura Daniel
São Paulo – As micro e pequenas empresas brasileiras encontraram uma maneira de fugir da concorrência das confecções chinesas no mercado internacional: a criatividade. A originalidade na criação das peças está abrindo a porta da exportação para centenas de indústrias têxteis de micro e pequeno porte. "Hoje o consumidor não quer se sentir uniformizado e as indústrias brasileiras estão apresentando soluções criativas para esse consumidor", diz o presidente da Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário do Paraná (Vestpar), Valdir Scalon.
Para a confecção III Milenium, da cidade gaúcha de Caxias do Sul (RS), foi essa a fórmula encontrada para entrar no mercado externo. A empresa produz roupas femininas para festas com a marca Carmem Venzons e abusa da criatividade na hora de criá-las. As peças, que vão desde vestidos até blusas, saias e corpetes, são bordadas com miçangas, vidrilhos, cristal e lantejoulas. "Procuramos o inusitado, usamos materiais diferentes para que as peças se tornem únicas", diz uma das sócias da III Milenium, Maria Mezzomo.
A empresa fez as suas primeiras vendas internacionais no ano passado para os Estados Unidos e a Colômbia, um ano antes do planejado. "Em 2003 estipulamos como meta começar a exportar em 2005", diz Maria. A III Milenium está negociando agora também com importadores do México, Venezuela, Panamá, Itália e Suécia. "A concorrência com os chineses não nos afeta diretamente porque nosso produto é bem inovador", afirma a sócia proprietária. No exterior, as roupas são vendidas em lojas de grife e butiques.
A Fhio de Linha, confecção de pequeno porte de Belo Horizonte, em Minas Gerais, tem uma história parecida com a III Milenium. A fábrica produz também roupas para festa e exporta há cerca de dois anos. Na Fhio de Linha, a mistura de panos, como tule, tecidos indianos, crepe e seda pura, é o grande diferencial. Além de bordado, a empresa utiliza também tecidos desfiados, drapeados e aplicações de flores feitas artesanalmente. "Fujo do estilo norte-americano, certinho. Trabalho com tudo o que é diferenciado", diz o estilista Jairo Eustaquio Di Matosinhos, que também é proprietário da empresa.
A Fhio de Linha comercializa as roupas da marca em um show-room na Espanha, juntamente com outras confecções brasileiras, e já vendeu também para butiques de Portugal e da Flórida. As exportações ainda são pequenas, mas a empresa está disposta a investir no mercado externo. "Queremos que as exportações absorvam 50% da produção", diz Matosinhos.
"As pequenas empresas estão se qualificando, se diferenciando, fazendo mais pesquisas, comprando revistas internacionais, estão preocupadas com estilo, com acabamento", diz Mariza Drummond, a coordenadora do Minas Mostra Moda, entidade que congrega 60 indústrias têxteis mineiras de confecções de micro e pequeno porte. Cerca de dez já exportam.
"Em preço ainda não conseguimos concorrer com os chineses. Mas as empresas brasileiras estão agregando valor aos produtos e então, no mercado internacional entram em outro segmento", diz Scalon. Tanto a III Milenium quanto a Fhio de Linha tiveram como porta para o exterior a participação em feiras nacionais que têm participação de estrangeiros.
Estilo brasileiro
Em grande parte das pequenas e micro empresas brasileiras quem comanda o departamento de estilismo são os proprietários. Isso está longe de significar, porém, amadorismo. Matosinho, da Fhio de Linha, faz pelo menos duas viagens por ano para pesquisar moda. O destino normalmente é Europa, mas ele já foi para a Índia e costuma se abastecer também em Nova York. "Estou sempre fazendo cursos, participando de palestras", conta.
Na III Milenium, é a estilista e proprietária Carmem Venzons quem cuida da criação. Carmem faz em torno de quatro viagens internacionais ao ano e também costuma reciclar seu conhecimento em cursos e seminários. "Ela acompanha revistas nacionais e internacionais, está sempre buscando informações na internet, conversando com pessoas da área de moda", relata Maria a respeito da sócia Carmem. As coleções da III Milenium têm cerca de 150 modelos.
Na Polignum, pequena confecção de Maringá, no Paraná, também é a proprietária, Zenaide Demito, que cuida da criação de moda. A expansão, porém, fez a empresária buscar a ajuda de uma estilista graduada, além de uma modelista. A Polignum fabrica moda feminina, como calças, saias e blusas, e vende oito mil peças por mês apenas no mercado nacional. "Quando exportamos, aumentamos o volume de produção", diz Zenaide. Atualmente são atendidos cerca de cinco pedidos internacionais por ano, que variam de mil a 10 mil peças.
As exportações começaram há cerca de três anos e vão para Estados Unidos, Panamá e Costa Rica. Elas são feitas por meio de um consórcio chamado BRCia. Zenaide acredita que o diferencial da empresa, no mercado externo, é o preço e o acabamento. "Não podemos competir com os chineses e coreanos, mas temos preços e acabamentos bons. Sou muito exigente na modelagem. Se não é uma roupa que eu usaria, também não vendo", diz.
A pesquisa de moda é feita no Brasil, por meio de cursos, internet e conversas com fornecedores. Uma das preocupações da empresária é, justamente, acompanhar a moda com a velocidade que ela exige. "Chegamos a usar estampas de verão lá fora quando aqui ainda era inverno", conta.