São Paulo – Considerado o presente que não pode faltar em ocasiões especiais, como aniversários e Dia dos Namorados, o chocolate brasileiro tem ganhado destaque mundial com premiações importantes e a conquista do mercado árabe. A Arábia Saudita já é o quinto maior importador do produto nacional.
Enquanto a Argentina, principal comprador do chocolate brasileiro no exterior, adquiriu US$ 30,3 milhões (ao redor de R$ 176 milhões) do produto de janeiro até outubro de 2024, no mesmo período o país árabe importou cerca de um terço deste total, totalizando US$ 10,2 milhões (cerca de R$ 59 milhões), de acordo com dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
“Arábia Saudita aparece atrás apenas dos nossos vizinhos, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, no ranking de maiores importadores de chocolate brasileiro. Esse mercado tem se mostrado bastante promissor e a gente tem olhado com bastante atenção”, conta o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), Jaime Recena. “Ao mesmo tempo eles têm consumido muito os nossos produtos e elogiado bastante.”
Ainda de acordo com Jaime, além de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Bahrein aparecem como outros importadores árabes de chocolate brasileiro, tendo comprado, os cinco juntos, quase US$ 6,2 milhões (cerca de R$ 36 milhões) até outubro deste ano.
“Com uma aceitação muito boa, o chocolate brasileiro tem entrado com grande força neste mercado. E posso dizer que essa presença tem aumentado expressivamente nos últimos cinco anos em razão da maior participação do Brasil em feiras e eventos da indústria de alimentos no Oriente Médio. Apesar de vendermos pouco para eles, em comparação a outros compradores, é um mercado que tem grande chance de crescimento”, explica Jaime.
Ocupando a 33ª colocação no ranking mundial de exportadores de chocolates, o Brasil é responsável pela comercialização de 0,43% do chocolate mundial, mas está em busca de aumentar esses números.
“Quando falamos sobre diferenciais do chocolate brasileiro, podemos dizer que é um produto com muita qualidade. Além disso, nos últimos anos, o País tem investido na produção de cacau fino, algo que nossos vizinhos, como Equador e Peru, já fazem há um tempo. Quanto mais a gente trabalha esse produto, mais qualificado fica”, disse o presidente-executivo da Abicab.
Divine Chocolate
A Divine Chocolate está entre as marcas brasileiras que já exportaram para os árabes. Criada em 2011 no Rio Grande do Sul, a empresa vendeu seus chocolates para o Catar entre os anos de 2019 e 2020.
“Para o Catar conseguimos exportar durante dois anos. Tínhamos uma parceria muito boa, mas a chegada da pandemia acabou parando o negócio. Entretanto, temos a intenção de voltar a negociar com eles, para que o Catar sirva de porta de entrada para outros países árabes. O interesse em fechar (negócio) aconteceu depois que participamos de uma feira na região”, conta o gerente de exportação da Divine Chocolate, Diego Heineck.
Além do Catar, o mercado árabe como um todo é de interesse da marca. “Desde 2018, já participamos de pelo menos quatro edições da Gulfood. Nesses eventos conversamos com interessados árabes, mas não fechamos os negócios”, explica Diego. A Gulfood é uma feira de alimentos realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, sempre no primeiro semestre de cada ano.
Com as informações das embalagens em árabe, o negócio pode ser facilitado para um público sofisticado que gosta de produtos com maior valor agregado e com grande qualidade. Para os próximos anos, o objetivo da Divine Chocolate, que já vende no exterior para Argentina, Uruguai, Costa Rica, Paraguai e Estados Unidos, é aumentar as exportações da marca.
“A exportação é muito importante para as marcas brasileiras porque serve como alternativa quando temos alguma dificuldade de consumo no mercado interno. Além disso, participar de feiras internacionais nos ajudar a trazer mais ideias e novidades para os nossos próximos produtos”, completa Diego.
Baianí Chocolates
Foi pensando em se diferenciar no mercado brasileiro de chocolate existente que as marcas Baianí Chocolates e Mission Chocolate foram criadas. Entre 2017 e 2018, ao lado da esposa Juliana Aquino, Tuta Aquino fundou a Baianí Chocolates para vender chocolates Bean to Bar.
Para serem feitos, os produtos da marca baiana seguem três pilares: sustentabilidade, tanto social quanto ambiental; o comércio direto e justo entre o agricultor e o chocolateiro; e o processo diferenciado de fabricação de chocolate, onde o fabricante utiliza amêndoas de cacau integral, ao invés da massa do cacau como a maioria da empresas de chocolate faz.
Contando com uma fazenda de cacau própria, a empresa tem uma loja e fábrica em São Paulo e outra sede na Bahia, de onde saem os chocolates que são vendidos para representantes comerciais de diferentes estados brasileiros e de outros países como Estados Unidos, Suíça, Bélgica, Japão, Noruega, Itália, Alemanha e Inglaterra.
“Temos interesse em fazer negócios com árabes, mas acho que falta um parceiro de negócios que nos ajude. Sabemos que é um mercado interessante e já estivemos perto deles em uma feira que participamos em Dubai. Acredito que eles são consumidores que se interessaram por nossos produtos porque são compradores que gostam de produtos de luxo”, diz o sócio proprietário da Baianí Chocolates, Tuta.
Entre os principais produtos comercializados pela marca está a barra de chocolate e laranja, que ganhou cinco edições do prêmio Academy of Chocolate e duas edições do International Chocolate Awards. Quem também recebeu os prêmios da International Chocolate Awards foi a barra de chocolate de goiaba da marca Mission Chocolate.
Mission Chocolate
Criada pela chocolatier Arcelia Gallardo em 2013, a marca Mission Chocolate usa ingredientes locais do Brasil. Nascida em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, Arcelia veio para o Brasil há alguns anos para estudar a produção de cacau.
“Depois de passar quatro anos estudando os produtos nativos, decidi criar uma marca que elevasse os sabores brasileiros comuns para um chocolate sofisticado, coisa que ninguém fazia na época. Após visitar muitos estados brasileiros, criei chocolates com sabores muito característicos, como pão de mel, arroz doce, rapadura, rabanada, cupuaçu e goiabada. A minha ideia era valorizar o que tinha dentro do País onde o cacau crescia e eu consegui”, explica Arcelia Gallardo, CEO da Mission Chocolate. “Acredito que o chocolate brasileiro se destaca muito dos outros porque é terroso, tem um gosto mais amadeirado.”
Com barras de chocolate feitas com o tipo mais amargo, os produtos são vendidos e exportados de uma loja, que está localizada na cidade de São Paulo. Além de vender para diversos estados do Brasil, a Mission Chocolate tem uma fábrica na Califórnia, Estados Unidos.
“Em um futuro próximo queremos exportar para o Canadá, México, China e Japão. Sabemos que o mercado árabe pode ser interessante, porém ainda não fizemos nenhum negócio lá porque não temos contatos comerciais por lá”, completa Arcelia.
Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA.
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