São Paulo – No bairro da Barra Funda, na capital paulista, oito mulheres de diferentes religiões levam adiante a produção de homus da recém-criada marca Com.Pot. São muçulmanas, cristãs ortodoxas, espíritas, evangélicas e católicas que produzem homus tradicional e em mais quatro sabores: cenoura com gengibre, abóbora e pimenta dedo de moça, pimentão e alho, e beterraba e alho. Em breve também farão homus com wassabi, condimento japonês.
Um novo negócio de alimento árabe no Brasil? Sim, mas também um projeto social. Quem está por trás é Sheila Mann, judia que nasceu no Líbano e vive no Brasil desde os seus 18 anos. Sheila é artista plástica e profissional da gastronomia especializada em comida libanesa. Ela criou em 2010 um projeto chamado Peace On The Table com a ideia de reunir ao redor da mesa pessoas de diferentes religiões ou grupos, como judeus e árabes, cristãos e islâmicos.
Sheila promove uma série de iniciativas pelo projeto Peace On The Table, mas em agosto do ano passado resolveu dar um novo passo. Com a parceria do seu genro e sócio, o empresário argentino Marcos Shayo, ela abriu a Com.Pot. No contrato social ficou estabelecido que só mulheres serão contratadas e que elas serão de diferentes religiões. Também ficou escrito que o lucro será doado para trabalhos pela paz e o bem-estar social no Brasil.
Sheila cuida da criação de novas receitas da fábrica e da difusão do projeto. Shayo toma conta do negócio em si. O homus é vendido em potes de 200 gramas com validade de cinco semanas. Atualmente ele está em estabelecimentos como empórios e hortifrútis na cidade de São Paulo. Também há negociação para que seja vendido no Rio de Janeiro. Para o setor de food service, como restaurantes e bares, são oferecidas embalagens de meio quilo e um quilo.
A chef sabe que o grão de bico, matéria-prima do homus, não é muito difundido no Brasil, e já começou a trabalhar pela promoção do produto. “É muito saudável, sem glúten, sem lactose”, afirma ela, sobre a pasta. Segundo Sheila, o grão de bico tem 30% mais proteína que o feijão, e tem triptofano, que aumenta a serotonina. “É o grão da felicidade”, diz.
A Com.Pot pretende difundir o consumo do homus de outras maneiras, além do que os brasileiros estão acostumados, que é como pasta para o pão. Entre as demais utilizações que o homus pode ter, Sheila cita que pode ser posto na salada e em sanduíches, e também usado como acompanhamento de grelhados, entre outros.
A chef e artista plástica escolheu a comida como símbolo de paz. O negócio do homus tem para ela um valor bem maior que o de mercado. “Todos nós precisamos comer para viver, apenas isso já faz de nós iguais”, afirma, lembrando que conviver com as diferenças enriquece as pessoas. Para Sheila, não poderia haver melhor lugar para tocar o projeto que no Brasil em função da sua tradição em acolher os imigrantes. “As comunidades árabe e judaica convivem muito bem juntas aqui, temos que exportar esse modelo de convivência”, afirma ela.
O projeto Peace On The Table, que no Brasil é chamado Culinária pela Paz, ainda não foi concluído, está em andamento, segundo Sheila, que ainda tem muitos planos para ele. Ela começou a colocar a ideia em prática fazendo performances artísticas em museus. Nestas oportunidades, fazia um discurso pacifista e servia comida árabe. Ela mesma é um símbolo disso já que é uma judia cozinhando receitas árabes. O passo seguinte foi promover um jantar no qual reuniu membros das comunidades judaica e muçulmana, antes da partida do então embaixador brasileiro para a Palestina, Paulo França.
Depois, há cerca de três anos, Sheila criou um grupo de mulheres muçulmanas e judias da capital paulista que se reúnem uma vez por mês para confraternizar. Hoje são 54 integrantes. Elas falam de tudo, menos das questões religiosas e políticas. O encontro ocorre cada vez em uma casa diferente. Há um ano se formou grupo similar no Rio de Janeiro, mas os encontros são esporádicos e ocorrem em restaurantes. Cerca de 14 mulheres participam.
Sheila acompanha os dois grupos e segue fazendo a atividade que começou o Peace On The Table, as palestras sobre paz acompanhadas do preparo da comida libanesa. Os jantares para diferentes grupos, ela gostaria de promover mais e maiores, mas precisa de patrocínio para tal. Sua ideia é fazer algo grande e transformar o encontro ao redor da mesa, com seus diálogos e encontros, em um livro ou em um filme. Ela aguarda por quem queira bancar a ideia.
De Beirute
Sheila nasceu em Beirute. Aos 13 anos ela foi com a família para Israel. A mudança para o território brasileiro ocorreu depois que ela conheceu o marido (hoje ex), também judeu nascido no Líbano. Ele já morava no Brasil. A chef e artista sempre teve talento para artes e o desenvolveu mais em sua nova casa, com cursos e o acompanhamento de professores.
A culinária veio depois. “Quando cheguei no Brasil eu não sabia fazer arroz”, diz. A mãe de Sheila fazia comida libanesa em casa, mas ela só aprendeu já no Brasil pegando as receitas por telefone, ou quando voltava a Israel, ou com sua sogra, com quem morou por um ano no Brasil. Sheila conta que foi descobrindo o talento para a culinária. “Quando eu cozinhava alguma coisa acontecia, havia uma química”, afirma, sobre a reação das pessoas servidas. Os convidados só queriam comer a comida libanesa e assim ela foi se especializando na área.
No dia 18 de maio, a chef fará uma apresentação do projeto Culinária pela Paz no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo, como parte do ciclo Cultura e Identidade no Mundo Árabe. Além de falar sobre a iniciativa, ela preparará um prato árabe, que será oferecido aos participantes. Ocorre pela noite, das 19h30 às 21h30. É preciso se inscrever.
Contatos:
Com.Pot
Site: www.compot.com.br
Telefone: +55 (11) 3392-3121 ou marcos.shayo@compot.com.br
Peace On The Table
Site: http://www.peaceonthetable.org/
Telefone: +55 (11) 9 8203-7984 ou sheila@peaceonthetable.org