São Paulo – Em países onde a vacinação anda a passos largos, como na Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, varejistas de menor porte voltaram a investir com mais força, o que representa uma oportunidade para empresas brasileiras exportadoras. É o que mostra a experiência de Alain Wehbe, gerente de exportações da empresa brasileira de alimentos Bauducco. “Nosso produto na Arábia Saudita é vendido muito em docerias, são lojas especializadas e ficaram por bastante tempo fechadas [durante medidas restritivas]. Com a reabertura desses varejistas pequenos, tivemos uma alavancada grande no mercado”, detalhou sobre ele sobre o retorno desse nicho.
Wehbe falou durante webinar promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, nesta quarta-feira (05). O executivo frisou, entretanto, que onde a vacinação ainda não está avançada a situação é outra. “Nos países que ficaram para trás, esse varejista está com medo da retomada, de fazer compra, acabar tendo dívidas e ficar com um produto que tem prazo de validade. O que ele vai fazer se tiver que fechar de novo?”, afirmou o trader da Bauducco.
Um exemplo é o Líbano, no qual Wehbe explica que o comerciante está bastante inseguro e não quer investir ainda. “O comerciante [libanês] não está comprando mais do que contêineres para dois meses, enquanto Arábia Saudita, Emirados e Catar estão ansiosos com a retomada, estão querendo comprar””, disse.
Moderadora do evento, a diretora de Marketing e Conteúdo da Câmara Árabe, Silvana Scheffel Gomes, trouxe a questão das categorias de produto que tiveram aumento de consumo na pandemia. “Existe tendência de consumo de produtos mais sustentáveis, mas isso realmente se confirma na prática, há procura por produtos mais sustentáveis e orgânicos?”, questionou ela a outro executivo presente no webinar, Issam Hassan, empresário brasileiro libanês que tem uma trading nos Emirados Árabes Unidos para comercializar marcas brasileiras.
“Estamos, sim, tendo procura maior por produtos orgânicos, funcionais e mais saudáveis”, disse Hassan. Segundo ele, isso ocorreu principalmente no período de maior restrição do mercado, no qual a demanda a maior foi vista nos supermercados.
O executivo lembrou que no caso dos Emirados, onde a empresa está baseada, os negócios ligados ao turismo foram os que mais sofreram. “Produtos comercializados em food service, restaurantes e hotéis, tiveram uma queda tremenda, enquanto vimos a demanda aumentar naqueles itens que o consumidor final leva para casa”, explicou o empresário brasileiro libanês.
Para o secretário e CEO da Câmara Árabe, Tamer Mansour, a demanda pelos produtos é uma oportunidade para investir em itens industrializados. “Esse ano precisa ser divisor de águas em relação aos produtos de valor agregado no GCC”, afirmou ele durante a conferência.
Eventos presenciais
Está nos Emirados, inclusive, o foco das retomadas em eventos presenciais. O chefe do escritório internacional da Câmara Árabe em Dubai, Rafael Solimeo, falou sobre a atividade em solo árabe. “Um dos maiores eventos ocorreu já esse ano, a Gulfood, e foi um grande respiro para o empresário que precisava negociar e mostrar seus produtos. Na feira, os corredores estavam mais largos, tinham medidas de segurança. Pude perceber que o país está pronto para receber a Expo 2020”, afirmou ele, que participou do evento.
Solimeo lembra que a organização da Expo 2020 realizou, inclusive, um teste. Ela abriu áreas para visitação entre janeiro e abril deste ano para ver como tudo vai funcionar. Na ocasião, o evento recebeu 100 mil visitante e puderam ser avaliadas as medidas de segurança. No radar de eventos do Golfo neste ano há, ainda, feiras como a Big 5, a Index e a Beautyworld Middle East, além da Arab Health.
A palestra principal do evento foi feita pelo especialista em risco-país na EuroMoney Country Risk, Helmi Hamdi, que focou na situação dos Emirados Árabes Unidos. Já o gerente de Inteligência de Mercado da Câmara Árabe, Marcus Vinícius, deu detalhes de pesquisa sobre as mudanças que a pandemia geraram no consumo nos países árabes. O levantamento foi realizado pelo instituto H2R Pesquisas Avançadas a pedido da Câmara Árabe.
- Ouça sobre o tema no #Podcast 23: Como o varejo árabe se reinventou na pandemia
Também falou na conferência o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi, que fez a abertura e encerramento do evento. Tamer Mansour anunciou, ainda, um acordo firmado entre a Câmara Árabe e os governos do Catar e do Egito no contexto de um projeto de blockchain da entidade. A Câmara Árabe irá anunciar em breve novos detalhes do acordo na área de digitalização de documentos. “É o objetivo dessa administração ingressar com grande ênfase em uma nova economia chamada economia 4.0 “, concluiu Chohfi.
Leia mais uma reportagem sobre o evento:
Vacinação em massa possibilita retomada no mercado árabe
O webinar completo já está disponível no canal da Câmara Árabe no Youtube. Veja, abaixo: