Abu Dhabi – Depois de passar pelo Japão e pela China, o presidente Jair Bolsonaro desembarca neste sábado (26) em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, como parte de um giro por países do Golfo que vai incluir também o Catar e a Arábia Saudita. Em entrevista à ANBA nesta sexta-feira (25), o embaixador do Brasil em Abu Dhabi, Fernando Igreja (foto acima), disse que a visita irá marcar uma mudança de patamar nas relações do Brasil com os Emirados.
Sob a ótica diplomática, os Emirados já são o país da região com o qual o Brasil está no estágio mais avançado em termos de negociação de acordos. Em pouco mais de dois anos foram assinados tratados de isenção de vistos para turistas – já em vigor -, para evitar bitributação sobre investimentos recíprocos e um Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI).
Faz mais de 15 anos que um presidente brasileiro visitou os Emirados pela primeira e última vez. Segundo Igreja, isso levou a uma aproximação maior entre os dois países e ao início dos investimentos de fundos da nação árabe no Brasil, hoje avaliados em cerca de US$ 5 bilhões.
Ele acrescentou, porém, que, após este primeiro momento, houve certa redução no ritmo das relações, mas nos últimos três a quatro anos elas voltaram a se intensificar. Prova disso são os acordos firmados mais recentemente. Os Emirados têm realizado uma série de iniciativas diplomáticas em direção ao Brasil.
O embaixador contou que há algum tempo o país árabe vem tendo interesse especial pela América Latina em sua busca por maior projeção internacional. “Eles querem ser conhecidos e ter boas relações com as diferentes regiões. Na América Latina não estavam tão presentes, e como com o Brasil eles têm um comércio maior e mais contato político, então elegeram o País faz algum tempo para ter uma relação privilegiada”, ressaltou.
Em sua avaliação, o Brasil tem correspondido. “E neste último ano, com o presidente Bolsonaro, houve mais impulso do Brasil para buscar os Emirados Árabes”, afirmou o diplomata. Ele lembrou que em 2019 visitaram o país árabe os ministros da Cidadania, Osmar Terra, da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SL), filho do presidente e, na época da visita, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
“Agora estamos em um patamar mais elevado das relações, com a cooperação se ampliando para diferentes áreas, como ciência e tecnologia, meio ambiente, economia e comércio, e política”, declarou.
Nesse sentido, segundo Igreja, durante a visita de Bolsonaro podem ser assinados acordos nas áreas de ciência e tecnologia, meio ambiente e defesa. “Estes acordos vão mostrar que as relações subiram para um patamar superior”.
Com diversos tratados assinados, o diplomata acredita que os Emirados podem “passar a investir mais pesado” no Brasil. “Eles têm interesse em investir na cadeia produtiva brasileira, muito interesse no agronegócio, querem garantir que os produtos cheguem em seu mercado, então têm predisposição para investir em infraestrutura”, observou.
Ele acrescentou que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, participará da visita acompanhado por integrantes da Secretaria Especial do Programa de Parcerias da Investimentos (PPI). Serão apresentados 18 projetos que somam R$ 1,3 trilhão, principalmente de privatizações e concessões.
Negócios
Na área de negócios, será realizado no domingo (27) um seminário empresarial Brasil-Emirados. Segundo o embaixador, são esperados cerca de 100 empresários brasileiros e um número equivalente de homens de negócios da nação árabe. O evento é organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e contará com a participação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Paralelamente, uma delegação chefiada pelo secretário-geral do Ministério da Defesa, almirante Almir Garnier, com 29 empresas, vai participar de um seminário voltado exclusivamente ao setor de defesa. “De fato, há uma grande movimentação nesta área, espero que possamos anunciar ganhos”, declarou o embaixador.
A corrente de comércio entre o Brasil e os Emirados chegou a US$ 2,12 bilhões de janeiro a setembro deste ano, um aumento de 28% sobre o mesmo período de 2018. Igreja acredita que o valor pode chegar a US$ 2,7 bilhões até o final do ano. “Os acordos aumentam a confiança [recíproca] e geram mais contatos, então a tendência é o comércio se expandir ainda mais”, observou.
Ele disse ainda que os Emirados querem também atrair empresas brasileiras e, nesse sentido, se apresentam como uma porta de entrada para a Ásia. O diplomata lembrou o exemplo da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, que tem uma fábrica em Abu Dhabi.
Logo após sua chegada, Bolsonaro vai visitar o Monumento dos Mártires da Pátria, onde vai oferecer flores. No domingo, além da participação no seminário empresarial, ele terá reuniões com o príncipe-herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed Bin Zayed Al Nahyan, e com outras autoridades dos Emirados. O presidente irá ainda assistir a uma apresentação de jiu-jítsu – esporte muito popular no emirado, que está repleto de treinadores brasileiros – e visitará a Grande Mesquita Xeique Zayed.