São Paulo – O turismo nos países africanos, incluindo os do Norte da África, vai passar por período de ‘seca’ até retomada de confiança das pessoas em viajar além das fronteiras de seus países. A conclusão é do ex-vice-presidente e chefe de Redução da Pobreza e Gestão Econômica do Banco Mundial, Otaviano Canuto. O economista participou de webinar promovido pelo Instituto Brasil África (Ibraf) nesta segunda-feira (13). Com o tema “Cooperação Econômica diante da covid-19: Impactos e reações à pandemia na África”, também participaram o presidente do Ibraf, João Bosco Monte, e a ex-ministra de Relações Exteriores da Guiné-Bissau, Maria Nobre Cabral.
O debate, centrado no avanço da covid-19 na África, abordou como a pandemia está afetando áreas da economia destas nações. “Os países têm que minimizar seus problemas. O coronavírus vai afetar também o turismo e é necessário medidas fiscais para ajudar a África. Nenhum turista vai visitar nenhum lugar e a situação ainda vai ficar piorar”, apontou Cabral sobre as próximas semanas.
Questionado sobre os caminhos para o setor em países como Egito (foto acima), Mauritânia e Marrocos, Canuto explicou que há saídas na busca por benefícios dados por entidades privadas e públicas, mas que a retomada das atividades deve demorar. “Nos países que têm suas fontes tradicionalmente em turismo, sejam os da África subsaariana, sejam os do Norte da África, as fontes do setor de turismo ainda vão permanecer ‘secas’ até que a confiança de que não há mais coronavírus [se estabeleça]”, apontou.
Para ele, os países devem ter foco na saúde para enfrentar o que ele definiu como um grande abalo para a confiança das pessoas. “Vamos ser realistas. O que precisamos fazer é ajudar esses países a gerenciar, a minimizar a crise para as pessoas pobres”, afirmou. Segundo o escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 8 de abril a África já tinha 10 mil casos confirmados do novo coronavírus. O Egito, primeiro país do continente a reportar um caso de covid-19, já soma 1.065 casos, e 159 mortes.
Para Cabral esse é um desafio global que tem afetado tanto países em desenvolvimento quanto os desenvolvidos. “O mundo não vai ser mais o mesmo”, disse ela.
Questionado sobre as medidas de isolamento social, Canuto lembra que é preciso agir agora. “As cidades que adotaram isolamento social, foram melhor [na contenção da pandemia]. Por outro lado, esse isolamento não pode acontecer sozinho. Você precisa prover crédito, dar suporte aos estados dentro da federação. [A pandemia] É uma catástrofe, e é preciso dar segurança para as pessoas passarem por ela. O que me assusta? A adoção do distanciamento social sem nenhum suporte para as pessoas pobres”, apontou ele, lembrando que no caso de países como o Brasil, onde há muitos empregos informais, o auxílio é ainda mais essencial.
O economista explicou, ainda, que as alternativas ao isolamento, como monitoramento social, não são viáveis para países pobres já que demandam maior investimento e muita tecnologia. Para ele, é preciso que os países desenvolvidos auxiliem a África imediatamente, não apenas com ventiladores e máscaras, mas com outras formas de apoio e créditos.
A chamada cooperação Sul-Sul é uma das saídas para definir como aplicar as medidas emergenciais. “Eu acredito que a experiência é um bom caminho para a cooperação neste caso. Não é sobre dinheiro, mas é sobre compartilhar as lições aprendidas sobre políticas econômicas contra a pobreza. Nesses casos, acho que o Norte tem menos para oferecer. As políticas sociais do Brasil têm sido reconhecidas. O Brasil tem boa parte da população vivendo na pobreza. Não na miséria, mas na pobreza. Mas o fato é que é possível adotar políticas similares através de cruzamento de aprendizagem”, concluiu Canuto.
O risco caso as medidas não sejam implementadas é de uma nova crise para o continente. Para João Bosco Monte, depois do coronavírus é preciso discutir melhor a segurança alimentar em todos os países africanos. Os especialistas apontam, ainda, o receio de que os países com fronteiras fechadas enfrentem dificuldade para receber ou escoar produtos.