Isaura Daniel
São Paulo – A Síria fez em fevereiro a sua maior venda mensal para o Brasil em pelo menos 16 anos. O país árabe faturou, no último mês, US$ 13,9 milhões com exportações para o mercado brasileiro. Quase a totalidade deste valor, US$ 13,5 milhões, correspondeu a naftas para petroquímica, matéria-prima utilizada pela indústria petroquímica nacional para a fabricação de resinas. O petróleo e seus derivados são o pilar da economia do país do Oriente Médio e representam 70% do total vendido pelos sírios no mercado externo.
"O Brasil é um importador de nafta. O que produzimos não é suficiente para abastecer o mercado interno", diz o presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. De acordo com Pires, cerca de 30% das necessidades internas brasileiras do produto são abastecidas com importações.
No mês de fevereiro o Brasil comprou no exterior US$ 83 milhões em naftas para petroquímica. Deste total, US$ 41,7 milhões vieram de países da Liga Árabe. Além da Síria, também a Argélia e o Marrocos venderam o produto para o mercado brasileiro, com US$ 15 milhões e US$ 13 milhões respectivamente. A Síria, porém, não é um tradicional exportador do produto para o Brasil. "O nosso grande fornecedor de naftas para petroquímica (entre os árabes) é a Argélia", diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Michel Alaby.
No ano passado, o Brasil importou US$ 838 milhões em naftas para petroquímicas. A Argélia foi o segundo maior fornecedor do produto, com US$ 236,4 milhões, atrás apenas da Argentina, que faturou US$ 397 milhões com vendas do produto para o mercado brasileiro. Além dos dois países, figuraram na lista de maiores fornecedores do produto em 2004, por ordem, a Líbia, Arábia Saudita, Aruba, Grécia, Rússia, Emirados, Nigéria, Egito e Cuba. Juntos, os árabes responderam por 41% do total.
A Síria do petróleo
A Síria faz apenas exportações esporádicas de naftas petroquímicas para o Brasil. Antes de fevereiro, a última venda registrada na Secretaria de Comércio Exterior (Secex) é de agosto de 2003, quando foram vendidos US$ 6,9 milhões do produto para o país. Antes disso, ocorreu uma venda no valor de US$ 8,5 milhões em abril de 2001. O secretário-geral da CCAB acredita que o aumento da demanda por resinas pela indústria brasileira pode ter impulsionado a compra do produto sírio.
Além das naftas, a Síria chegou a fazer outras exportações mensais significativas para o Brasil de 1989 até agora, mas nenhuma delas ultrapassou US$ 10 milhões. Em setembro de 1999, os sírios venderam cerca de US$ 9 milhões em óleo de petróleo bruto para o Brasil.
De acordo com informações do Ministério do Petróleo da Síria, o governo sírio está fazendo uma série de parcerias com companhias internacionais para ampliar a exploração e as reservas de petróleo. O país está construindo novas refinarias e melhorando as que já existem para se adequar às exigências européias por derivados de petróleo. Hoje, entre os quatro maiores parceiros comerciais dos sírios estão Itália, Alemanha e França, além da China.
O faturamento obtido pelos sírios com vendas ao Brasil em fevereiro é inédito. Nos últimos 12 meses, o valor mensal das importações brasileiras do país árabe variou entre US$ 300 mil e US$ 700 mil. Entre os produtos tradicionais da pauta estão sementes, monofilamentos de plásticos, alcaparras e couros.
Além do petróleo, a agricultura é uma das bases da economia síria e responde por 25% do Produto Interno Bruto (PIB). O país tem população de 17,8 milhões de pessoas e renda per capita de US$ 1,2 mil. Em 2004, a corrente comercial entre a Síria e o Brasil foi de US$ 166,6 milhões e cresceu 18% sobre ao ano anterior.