São Paulo – Com cidades cada vez mais populosas, desordenadas e castigadas pelos eventos climáticos extremos, se faz necessário um novo olhar sobre o urbanismo. Pensando nessa demanda e no conceito cada vez mais conhecido de “smart cities” (cidades inteligentes) foi criada, em 2018, a Bright Cities, startup sediada em Campinas, interior de São Paulo, cujo objetivo é oferecer soluções para os problemas dos municípios – sejam eles pequenos ou imensos, como São Paulo e Rio de Janeiro.
A partir do diagnóstico feito através do levantamento de dados de um local específico, a empresa oferece soluções que podem ser nas áreas de mobilidade, meio ambiente, saúde, governança, segurança, entre outros tantos segmentos – sempre alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) das Nações Unidas.
No próprio site da Bright Cities qualquer pessoa pode pesquisar quais são os indicadores de sua cidade (há informações dos 5.571 municípios brasileiros), organizados a partir de dados que são públicos. Quando um município quer um levantamento mais detalhado, é possível acessar através de um pacote básico da startup.
“Mas também fazemos diagnósticos personalizados, atendendo caso a caso, com soluções específicas”, explica Fábio Silva, gerente de Projetos na empresa. Muitas das soluções oferecidas estão no próprio marketplace do site da empresa que está disponível gratuitamente.
Outra frente na qual a startup atua é na de auxiliar na busca pelas certificações. As normativas ABNT ISO 37120, ISO 37122 e ISO 37123 se referem respectivamente a “cidades e comunidades sustentáveis”, “cidades inteligentes” e “indicadores para cidades resilientes”. Segundo Fábio, mais de 100 cidades já foram certificadas no mundo e apenas sete no Brasil. São elas: Recife, São Paulo, Salvador, São José dos Campos, Jundiaí, Pindamonhangaba e Lagoa Dourada. Todas monitoram os indicadores das ISO, sendo que parte delas conquistaram a certificação após a assessoria da Bright Cities.
Riad, cidade habitável
A startup também é contratada por cidades de fora do Brasil. Em 2019, a Royal Commission for Riyadh City (RCRC), da capital da Arábia Saudita, procurou a empresa com o objetivo de encontrar soluções de meio ambiente, especialmente relacionadas à qualidade do ar e ao resfriamento do clima. “Eles encontraram a gente pela internet e nos contataram porque Riad quer ser uma das 100 cidades mais habitáveis do mundo”, conta Raquel Cardamone, criadora da Bright Cities, especialista em cidades inteligentes.
A ação faz parte de um projeto ainda maior, o Saudi Vision 2030, programa anunciado pelo governo saudita em 2016 para diversificar a economia, muito dependente do petróleo, fomentar novos negócios, investir em educação (uma das metas é ter pelo menos cinco universidades entre as 200 melhores do mundo), entre outras tantas metas, incluindo ter a capital Riad como uma das melhores cidades para se viver.
Mesmo se tratando de uma cidade estrangeira, do Oriente Médio, e com fontes oficiais em árabe, a Bright Cities captou mais de 80% dos dados de Riad, que foram validados pelos membros da RCRC. “Além disso, comparamos os dados da cidade em meio ambiente, energia, mobilidade e urbanismo com outras 10 cidades globais, dando um panorama dos indicadores mais críticos para Riad”, explica Raquel. (Veja aqui os principais pontos fortes e necessidades de Riad para se tornar uma cidade inteligente).
Foram indicadas mais de 100 soluções cadastradas no marketplace, focadas nos planos estratégicos da capital da Arábia Saudita, classificadas de acordo com as ações de cada plano. Uma das soluções indicadas para a cidade foi o CityTree, primeiro filtro de biotecnologia do mundo a melhorar de forma quantificável a qualidade do ar (reduz a poluição por poeira fina em seu entorno em até 53%) e a resfriar a temperatura em até 2,5°C. “É um mobiliário que resfria o ambiente, quem senta ali sente o clima mais fresco”, explica Raquel.
A fundadora da Bright Cities é uma entusiasta do tema e participa ativamente do ecossistema global de inovação urbana, incluindo feiras e eventos sobre o tema, como o Smart City Expo World Congress, em Barcelona. “Meu propósito é claro: transformar cidades por meio de inteligência de dados, inovação e governança eficiente, promovendo um futuro urbano mais conectado, sustentável e inclusivo”.
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Reportagem de Débora Rubin, em colaboração com a ANBA.