São Paulo – Pensando no baixo índice de reciclagem no Oriente Médio e Norte da África (Mena), uma startup egípcia desenvolveu solução para ajudar a mudar esse cenário. A região vive um momento de despertar para as questões do meio ambiente, sustentabilidade e gerenciamento de resíduos sólidos, mas abriga ainda desde países com os menores índices de reciclagem do mundo até os que ainda não o fazem.
Nesse contexto, a empresa TileGreen criou uma tecnologia que utiliza lixo plástico para produzir blocos para pavimentação e já está testando outros produtos para introduzir no mercado de construção civil. A tecnologia é patenteada e há interesse de outros países na inovação sustentável.
A ANBA entrevistou o cofundador e CTO da TileGreen, Khaled Raafat. Junto com o sócio, cofundador e CEO Amr Shalan, Raafat viu uma oportunidade de transformar resíduos plásticos em algo útil para a sociedade. “O Amr trabalhava na indústria de gerenciamento de resíduos, trabalhamos juntos em várias empresas e vimos essa oportunidade, que 85% do resíduo de plástico, em geral, não é reciclado. A maioria é de plástico descartável, aqueles produtos de uso único”, disse o CTO.
Mais de 100 milhões de toneladas de resíduos plásticos são descartados todos os anos no mundo, contou Raafat. “Então vimos essa oportunidade de transformar o lixo plástico em algo útil e decidimos trabalhar com materiais de construção com vida útil longa. Queremos oferecer produtos que durem centenas de anos”, declarou o empresário.
A TileGreen começou essa jornada produzindo blocos ecológicos para pavimentação à base de plástico e minerais, como um paralelepípedo, que podem substituir aqueles feitos de cimento e até o asfalto em locais ao ar livre, como ruas, passeios e estacionamentos. “É uma opção prática e um bom substituto para o asfalto ou os blocos de cimento e por um valor proporcional”, disse.
Esse é só o começo para a TileGreen. Segundo Raafat, a fábrica, que fica nos arredores de Cairo, pode acomodar a produção de cerca de 40 tipos de materiais de construção, levando mais opções sustentáveis para o mercado de construção civil.
A tecnologia dos paralelepípedos feitos com resíduos plásticos é patenteada pelo escritório de patentes dos Estados Unidos. A TileGreen começou como uma startup há cerca de seis anos e em 2021 conseguiu fundos para montar uma instalação industrial, na cidade industrial de Ashir min Ramadan, a cerca de 60 quilômetros de Cairo.
“Já estamos com boa tração e mais de dez países já solicitaram o licenciamento para a exploração da patente”, disse Raafat. Entre os solicitantes estão Filipinas, Chile, Marrocos, Emirados Árabes Unidos e alguns países da Europa.
O bloco não é 100% plástico. Ele é composto de mais ou menos 20% de resíduos plásticos e cerca de 80% de aditivos minerais, que dão a densidade e a termocondutividade ideal para que o produto seja resistente a impactos e ao calor, de acordo com Raafat.
“Cimento e asfalto não derretem ou pegam fogo facilmente. Nosso produto foi testado e é muito seguro. Só acima de 200 graus Celsius ele começa a ter alguma deformação”, informou o CTO.
A missão da TileGreen, segundo Raafat, é tornar a construção um setor sustentável. O empresário contou que atualmente estão sendo conduzidos testes para três novos produtos, todos materiais de construção, e que sua meta é lançar mais de dez novos produtos no ano que vem.
Outra meta é “existir em cinco países nos próximos cinco anos”, disse Raafat. Entre eles, Emirados Árabes Unidos, que no final deste ano recebe a Conferência do Clima da ONU (COP28) e Arábia Saudita, que vive um crescimento imobiliário exponencial, com a construção de novas cidades como The Line, dentro do projeto Neom, e a preocupação com um ecossistema sustentável, dentro da Visão 2030 do país.
“O mercado é enorme no Egito e na região do Mena, nossa produção ainda é pequena perto da demanda desse mercado”, contou. Ele disse ainda que até 2025 quer licenciar produtos e um modelo de franquia industrial.
“Esse é nosso objetivo, materiais de construção são necessários em todo o mundo. Claro que ainda precisamos atingir alguns KPIs [indicadores de desempenho], atualmente estamos no processo de melhoria da nossa tecnologia. Nosso maquinário foi todo desenhado por nós, faz parte da patente”, informou.