São Paulo – Os desperdícios gerados com o manuseio e o transporte de frutas estão com os dias contados. Um projeto tocado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e Instituto de Macromoléculas (IMA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveu embalagens de poliuretano e fibras vegetais que acompanham o formato das frutas e colaboram para evitar lesões ou desperdícios no manuseio.
Quase um terço da produção global de alimentos é perdida na distribuição ou desperdiçada no consumo, sendo que metade dessas perdas ocorrem na manipulação, armazenamento e comercialização, segundo informa a Embrapa com base em dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Embalagens inadequadas contribuem significativamente para as perdas das frutas que, amontoadas e sem ventilação adequada, estragam antes mesmo de chegar ao seu destino.
As embalagens desenvolvidas pelos pesquisadores possibilitam o encaixe perfeito das frutas, colocando-as lado a lado com segurança. Antonio Gomes, pesquisador da Embrapa e líder do projeto, explica que mesmo os tamanhos diferentes de frutas do mesmo tipo foram levados em conta no desenvolvimento.
“Na hora de armazenar é possível encaixar as frutas nos lugares corretos. Uma maior pode ser colocada ao lado de uma menor, sem prejudicar a capacidade total”, explica.
As embalagens, em forma de bandeja, são rígidas, podem ser empilhadas em paletes e possuem o desenho perfeito para acomodar cada fruta. Por enquanto estão disponíveis para manga, mamão, morango e caqui. “As duas primeiras pelo significativo volume de venda nacional e internacional e as demais pela importância econômica para o estado do Rio de Janeiro”, disse Gomes.
Fez parte do projeto uma exportação-piloto de mamão para o mercado europeu. “O resultado foi excelente”, conta o pesquisador. “Os frutos chegaram ao seu destino na Europa sem injúrias, amassados e totalmente protegidos. O palete com as embalagens estava ereto, não apresentando inclinação e as embalagens totalmente íntegras.”
Segundo dados do Ministério da Indústria Comércio e Serviços (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, foram exportadas quase 18 mil toneladas de frutas para os países árabes de janeiro a dezembro do ano passado. O volume de embarques pode ser ampliado com as novas embalagens, que proporcionam melhor refrigeração e reduzem o desperdício, algo que muitas vezes inibe o comércio exterior de frutas.
A fabricante de embalagens catarinense Santa Luzia se interessou e fechou contrato para produzir comercialmente as bandejas e os suportes de plástico. Os moldes, inclusive, já estão em suas instalações – os desenvolvedores do projeto emprestaram as peças, que compõem a maior parte do investimento para a produção, para reduzir os custos iniciais.
Mas o projeto ainda não acabou. Segundo Gomes, novas frutas serão contempladas: já há desenvolvimento de embalagens de tomates e outras estão em discussão, como uva e pêssego. Cada projeto leva, em média, quatro anos para ficar pronto.