São Paulo – A editora Dublinense fechou negócio com duas companhias árabes para publicação de três obras brasileiras até 2022. Uma delas, aliás, já está circulando no mercado do Kuwait. ‘Longe das Aldeias’, de Robertson Frizero, está disponível no país do Golfo pela editora local Takweenkw. Na imagem acima, reprodução das capas de ‘Longe das Aldeias’, nas versões em árabe e português.
Já ‘Setenta’, de Henrique Schneider, e ‘Elas Marchavam Sob o Sol’, de Cristina Judar, chegarão ao mercado egípcio. O primeiro deve ser publicado ainda neste ano, e o segundo até o final do ano que vem, ambos pela editora Sefsafa, do Cairo.
Os contatos com os editores árabes datam de quase uma década, explicou o editor Gustavo Faraon. “O meu primeiro contato com editores árabes foi na Feira de Frankfurt, porque nós ficamos em um programa de capacitação [para editoras independentes], então ficamos todos no mesmo hotel fazendo esses cursos e conheci a maioria dos meus contatos com o mundo árabe”, disse o brasileiro em entrevista por telefone à ANBA.
Um dos contatos que Faraon fez na Alemanha foi com a editora sírio-libanesa Samar Haddad. “Ela é da editora Atlas e depois foi consultora da Feira Internacional do Livro de Doha, no Catar, onde eles fizeram um programa [levando editores estrangeiros] e esse contato nos gerou o convite para ir a Doha, em janeiro de 2020. E lá eu conheci muitos outros editores, inclusive a editora do Kuwait”, contou ele.
O brasileiro explica que o processo de tradução de obras do português ao árabe pode demandar mais tempo do que para outras línguas mais habitualmente traduzidas, como o inglês e o francês. “Esses contatos demoram para acontecer porque os editores primeiro precisam encomendar uma leitura crítica [de alguém que domine a Língua Portuguesa] e confiar nessa leitura. O mundo está conectado, mas a língua ainda é uma barreira. A literatura exige um conforto com a língua e nós precisamos confiar nos tradutores porque são eles que conseguem chegar nos leitores, de fato”, afirmou Faraon.
- Ainda sobre literatura, ouça o episódio do podcast da ANBA que entrevista Laura di Pietro, da Tabla
Para o brasileiro, apesar de contar com grande número de falantes no mundo, o português ainda não é uma ‘língua de exportação’. “Por isso, é um pouco surpreendente e muito legal [ter obras traduzidas]. E vai abrindo uma portinha. Por exemplo, o Longe das Aldeias, acabou sendo vendida para outra língua, que é o persa. O editor do Irã viu a obra em árabe. É muito interessante isso, que as obras possam circular”, lembrou.
No caso do romance ‘Elas Marchavam Sob o Sol’, a própria reportagem veiculada pela ANBA com tradução em árabe serviu como ponte para fortalecer a tratativa com a editora egípcia. “Eu até usei a matéria em árabe para ‘provocar’ o editor e voltar a conversar [sobre a publicação]”, disse Faraon.
Além das três obras com direito de publicação já fechados ao árabe, a Dublinense está em negociação com uma terceira editora para a publicação de outro livro brasileiro. Segundo Faraon, as obras têm temáticas diferentes e refletem justamente a diversidade editorial do mercado literário dos países árabes.