São Paulo – Um deles é médico, o outro é dentista e o outro contador. Mas no Brasil eles são empreendedores. Said Mourad, Mohamad Mourad e Khaldoun Mourad saíram da Síria para São Paulo em função do conflito que o país árabe atravessa e encontraram nos negócios da gastronomia uma nova forma de vida e de sustento. Eles abriram no bairro de Pinheiros, na capital paulista, o Damascus, um restaurante que serve refeições e quitutes árabes.
O primeiro a chegar foi Khaldoun, o contador, que diferente dos demais, hoje já se comunica bem no idioma português. No mesmo endereço, há um ano e meio, ele abriu as portas de uma doceria com as conhecidas receitas da culinária árabe. O negócio funcionou com esse perfil por cerca de um ano, mas com a vinda do restante da família da Síria, a renda dos doces ficou pequena. Entre parentes de Khaldoun e da esposa, eram 18 pessoas no total.
“Meu pai veio e falou que não dava para toda a família”, conta Khaldoun. O pai é Said, um médico ortopedista que chegou a viver e a estudar na Europa. O dentista é o outro filho do senhor Said, Mohamad. A solução foi alugar o imóvel todo, não apenas a parte frontal ocupada pela doceria e a cozinha, e transformar o local, originalmente uma casa, em restaurante. Desde então sete pessoas da família retornaram à Síria porque não se adaptaram ao idioma e aos costumes locais, e atualmente o Damascus mantém onze integrantes da família Mourad.
Eles estão no Brasil na condição de refugiados. Khaldoun acredita que não será possível atuar na sua profissão no País em função das regras contábeis e leis totalmente diferentes, mas não pensa em voltar para a Síria para morar novamente, apenas para passear. A terra de origem, no entanto, é muito querida por ele. “Tenho muita saudade”, diz. Khaldoun se sentiu bem recebido pelos brasileiros. “Todos aqui somos iguais, o Brasil é uma mistura, todos vieram como imigrantes”, afirma, reproduzindo o que ele ouve dos próprios brasileiros desde que chegou.
Mohamad e Said pensam em atuar com suas profissões e estão aguardando a validação dos seus diplomas. Com os documentos em mãos, porém, o caminho será procurar emprego em clínicas e hospitais, já que investiram no restaurante e não terão como abrir consultórios próprios, conta Khaldoun. No restaurante Damascus, eles se movimentam de cá para lá e apesar de terem funcionários, atuam até nas tarefas mais básicas, como repor os doces e recolher os pratos. De acordo com o contador, o negócio dá para o sustento da família.
Um apoio para os sírios se comunicarem no idioma dos clientes é o garçom Bilel Kefi, tunisiano que mora no Brasil e que fala português.
No restaurante Damascus, são servidos salgados árabes como esfiha e quibe, doces como bolo de semolina, bolacha de gergelim, folheados de pistache, nozes, castanha e outros tradicionais na Síria. Também é vendido café árabe. Na hora do almoço há um buffet de comida árabe. O buffet tem como base 20 tipos de pastas, além de quibes, esfihas, charutinhos de folha de uva, falafel e outros pratos típicos. As receitas usadas são as da casa dos Mourad na Síria.
No sábado e domingo não há o buffet, mas há sempre um prato árabe diferente, como shishbarak, uma sopa de coalhada fresca, ou maklube, com arroz, carne e legumes. Durante a semana o preço do buffet é R$ 25 e no final de semana o prato do dia custa R$ 30. Nos dois casos se pode comer à vontade. O restaurante funciona das 8h às 20h.
Serviço:
Restaurante Damascus
Aberto das 08 às 20 horas
Rua Cônego Eugênio Leite, 764 – Pinheiros – São Paulo – SP
Telefone: +55 (11) 4883-0429