Dubai – No bairro histórico de Al Fahidi, em Dubai, uma casa de 150 anos é um convite para tomar café e conhecer mais de perto a história do grão e do seu consumo mundo afora. Os Emirados Árabes Unidos não são tradicionais produtores de café, mas a paixão de um emirati pela bebida fez com que o país tivesse um Museu do Café como atração turística.
O museu está instalado no local que serviu de residência para uma família dos Emirados e esse ambiente, de lugar para sentar, conversar e relaxar, segue presente na edificação. São dois andares de cômodos pequenos, aconchegantes e cheios de histórias sobre o café. Tudo fica melhor ainda se o museu for apresentado por seu dono e fundador, Khalid El Mulla.
As memórias sobre o café presentes no primeiro e segundo andar são muitas, começando por antiguidades internacionais como a primeira cafeteira que chegou nos Emirados vinda do Japão, equipamentos para torrar e preparar o café das mais diversas partes do mundo e épocas. Um moedor da realeza britânica? Tem. Máquina antiga de fazer café na Etiópia, país berço do grão e vizinhos dos árabes? O museu possui.
Em um cantinho do museu, aliás, é possível experimentar um pouco a sensação do ritual do consumo do café na Etiópia. Em banquinhos espalhados, os turistas se sentam ao redor do equipamento de café e de quem vai manejá-lo, e esperam suas cumbucas cheias. Mulla conta que costuma ser o membro principal da família etíope que prepara o café. O consumo é acompanhado por pipoca, também tradição da Etiópia.
No museu é possível ver o café sendo preparado em uma peça que é releitura de equipamento usado nos palácios egípcios, em que a bebida é esquentada em recipientes dentro de uma chapa com areia. O próprio dono do museu, grande importador de café, importa essas máquinas da Grécia e distribui nos Emirados e região.
O museu é uma grande caixa de surpresas de café. Um grande quadro em uma das salas centrais mostra a paisagem do deserto árabe, com camelos, montanhas, palmeiras e beduínos sentados ao chão preparando seu café. A pintura foi feita com café. Mulla conta que o artista levou oito meses para aprontar a obra.
O local tem uma sala chamada Majlis, cheia de tapetes e almofadas para sentar, na qual o ritual ao redor do café árabe pede pés descalços. “Mesmo se não tiver nada no bolso, se a pessoa quer receber bem suas visitas, serve café e tâmaras”, afirma o fundador, sobre o costume árabe de receber com a bebida.
Essa era uma forma de demonstrar hospitalidade pelos povos árabes já há 100 anos e hoje é reproduzida em hotéis cinco estrelas, lounges de companhias aéreas e departamentos de governos na região, de acordo com Mulla. Segundo o empreendedor, oferecer café dessa forma quer dizer que a pessoa é bem-vinda.
No segundo andar do museu, há uma cafeteria (foto acima) igualmente decorada com itens da história do grão. Uma boa surpresa ali são os chapéus pendurados em uma das colunas, usados por fazendeiros no cultivo do café em diferentes partes do mundo, como Indonésia, Iêmen, Jamaica e países da América Latina. Outra boa surpresa é o quadro do mundo gigante, indicando as regiões produtoras do mundo e os museus temáticos do café.
Há ainda livros de países diversos em seus idiomas sobre o café, exibições gráficas sobre o processo de produção, sobre o cultivo acima e abaixo do nível do mar, entre outros. O Brasil está presente em quadros, bandeiras, equipamentos, no mapa da produção e em outros espaços, além da fala de Mulla, quando conta sobre os grandes produtores de café. O fundador importa café do Brasil – e de outros países – para distribuir na região.
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A ideia de abrir o espaço turístico e histórico sobre o produto, aliás, surgiu depois que Mulla já atuava no ramo com sua empresa, a Easternmen & Co. Ele conta que, ao participar de uma feira, colocou uma peça histórica sobre café em frente ao estande, o que chamou muito a atenção. Ele começou a colecionar equipamentos, mas quando esteve em museu da área em Hamburgo, na Alemanha, quis fazer algo no segmento.
O museu foi visitado na última semana por uma equipe da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, o presidente Rubens Hannun, a gerente de Relações Institucionais, Fernanda Baltazar, o chefe do escritório internacional da entidade em Dubai, Rafael Solimeo, além da reportagem da ANBA. O grupo foi recepcionado por Mulla, que mostrou pessoalmente o estabelecimento.
O empreendedor conta que muitos brasileiros e latino-americanos visitam o museu. Ele não tem o número de visitantes do Brasil, mas diz que dá para ter ideia do fluxo de cada país quando os grupos chegam ao segundo andar, onde é possível ver as bandeiras dos países. A expressão facial de orgulho do turista denuncia a origem.
Além de levar adiante o museu e sua empresa, Khalid Al Mulla é coordenador nacional nos Emirados da Associação de Cafés Especiais. Entre as várias ações feitas por meio da associação estão a organização de campeonatos de café no país árabe, com a chancela dos eventos mundiais, e um trabalho social que inclui o treinamento de pessoas com necessidades especiais em atividades ligadas ao café.
É possível fazer visitas individuais ao museu e também em grupo. Os guias turísticos dos Emirados são treinados e têm informações a respeito do estabelecimento. A entrada custa 10 dirhams.
Serviço
Museu do Café de Dubai
Villa 44 – Al Fahidi Historical Neighborhood
Bastakiya – Dubai – Emirados
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