São Paulo – A brasileira Paula Breves, de 57 anos, tem no currículo a experiência de pilotar na Arábia Saudita. Ela e sua dupla, Vilma Rafael, participaram do Rally Jameel, no país do Golfo, em março de 2024, e se prepararam para enfrentar novamente essa competição em terras árabes, em março do ano que vem, com largada na Jordânia, mas novamente passando pela já conhecida Arábia Saudita.
“Participamos de ralis há 16 anos e essa foi nossa primeira competição internacional. Como somos praticamente a única dupla de mulheres brasileiras com experiência suficiente neste esporte, em razão dos grandes eventos que participamos, recebemos o convite da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) para representar nosso País”, contou Paula para a reportagem da ANBA, em uma entrevista sobre o seu trabalho como piloto e sobre a experiência na Arábia Saudita.
O Rally Jameel teve a sua 3ª edição este ano com participação de 40 equipes. Além das próprias árabes e das brasileiras, no evento esportivo também estavam presentes norte-americanas, francesas e canadenses, que sempre competiam em duplas. Com equipamento e carro diferentes do que Paula está acostumada a utilizar, a disputa se mostrou bastante desafiadora.
“Fomos sem nosso treinador e tivemos dois a três dias para treinar com aquele equipamento (um tipo de GPS) antes de começar as corridas. No total, o evento teve quatro dias de duração, onde foram percorridos 1.600 quilômetros. A gente passava o dia todo praticamente em cada circuito, por isso acabava sendo bem cansativo. Mas, ao mesmo tempo, também me senti muito lisonjeada pelo convite e fiz meu máximo para deixar uma boa impressão do nosso País”, diz a esportista.
Muito orgulhosa em representar o Brasil, a piloto conta que precisou se adaptar bastante durante os dias de competição. “Apesar das sauditas terem começado a dirigir apenas em 2017, elas são ótimas no volante e já têm mais experiência neste tipo de rali, que é diferente do que estamos acostumadas. Nas competições do Brasil, a força do piloto é mais exigido e por lá a parte de navegação é mais importante”, relembra Paula.
“Tive que aprender muito em pouco tempo. Mesmo com todas as dificuldades, ficamos entre as 30 melhores da competição e fomos convidadas para participar novamente em março do ano que vem. A competição vai começar na Jordânia e depois vai passar por locais da Arábia Saudita. Nessa próxima vez, como vamos ter mais tempo para treinar, queremos conquistar uma posição melhor.”
Por nunca ter competido fora do Brasil, o medo estava presente também quando Paula chegou em solo árabe. “A gente não sabia o que esperar, mas acabou sendo uma grata surpresa. Foi uma competição muito organizada, fomos muito bem tratadas e respeitadas. Gostei muito de ver o quanto o país árabe está incentivando as mulheres a dirigir e participar de ralis”, diz Paula.
A Paula Breves dos ralis
Formada em Medicina Veterinária, a brasileira se tornou piloto de rali sem nenhuma pretensão. “Sempre gostei muito de dirigir e há alguns anos comecei a ajudar meu marido como navegadora. Eu o acompanhava em competições e prestava muita atenção no que ele fazia. Até que um dia ele não pôde competir e eu fui substituí-lo. Depois disso, não parei mais e neste tempo já participei de ralis em vários estados do País ao lado da Vilma, que curiosamente era minha dentista.”
Diferentemente de Paula, Vilma não tinha uma experiência prévia no esporte, mas ao longo dos anos se dedicou e foi aprendendo mais. “A gente foi aprendendo competindo, no dia a dia mesmo. Agora com mais experiência, quando sabemos que vamos competir, começamos a estudar o terreno, entendemos qual tipo de pneu precisamos usar e nos preparamos, etc.”
No começo, a esportista competia com mulheres, mas conforme foi subindo de categoria, não achou mais competidoras para disputar campeonatos, por isso passou a concorrer com homens.
“Até hoje em dia, esse ainda é um esporte majoritariamente masculino e por conta disso somos a única dupla feminina que compete na categoria Master, uma das mais altas do rali brasileiro. Enquanto atuo como piloto, minha dupla trabalha como navegadora, isto é, ela fica responsável por cuidar das coordenadas, me dizendo onde deve entrar, onde preciso acelerar ou frear”, explica a brasileira.
Paula, que começou a participar de ralis como hobby, atualmente conta que o esporte virou praticamente sua profissão. “Quando não estou participando de ralis, que é bem raro porque tem competições o ano todo, trabalho em uma organização que cuida de animais silvestres e com um aplicativo que organiza a dispensa alimentar das pessoas.”
Em 16 anos, Paula celebra as diversas conquistas do esporte, entre elas o primeiro lugar na Mitsubishi Motorsports de 2023 e o terceiro lugar no pódio da Rally Estado de São Paulo de 2015.
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Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA