São Paulo – O secretário-geral da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy, propôs a empresários e autoridades brasileiras a criação de um novo modelo de negócios entre o Brasil e os países árabes. Hanafy esteve em São Paulo e Brasília esta semana, e se reuniu com representantes dos setores público e privado. “É muito importante haver uma mudança estratégica do modelo de negócios entre o Brasil e o mundo árabe”, disse Hanafy à ANBA na noite de quarta-feira (30), na capital paulista, poucas horas antes de embarcar para o Cairo, no Egito.
A União é a principal entidade empresarial do Oriente Médio e Norte da África, é como um braço da Liga dos Estados Árabes para a iniciativa privada. Ela reúne sob seu guarda-chuva câmaras de comércio de todos os países árabes e de fora da região, como a Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
“Nós propusemos a mudança do modelo tradicional, que tem como base o comércio simples – as exportações e importações -, para um modelo baseado numa aliança estratégica”, contou Hanafy. “Isso significa que nós precisamos de mais do Brasil do que apenas as exportações de produtos do agronegócio”, acrescentou.
Para construir esta parceria, o executivo sugeriu iniciativas que agreguem valor aos negócios e que beneficiem os dois lados, como a criação de linhas marítimas diretas entre o Brasil e os países árabes; o estabelecimento de polos de armazenagem, processamento e distribuição de produtos brasileiros em algum porto árabe; a realização de investimentos em empreendimentos conjuntos; entre outras. O objetivo é promover uma maior integração das cadeias produtivas das duas regiões.
“Assim nós evitamos medidas inesperadas que algum país ou administração possa tomar, algo que pode ocorrer no modelo simples de exportação”, destacou. A ideia é que as relações econômicas atinjam um grau de solidez que as tornem mais resistentes a ações unilaterais de governos, como a imposição de barreiras, retaliações e decisões políticas.
Em São Paulo, acompanhado do presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, Hanafy esteve com o secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles, o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, e o presidente da BRF, holding que controla as marcas Sadia e Perdigão, Pedro Parente. Os países árabes estão entre os principais mercados das carnes bovina e de frango brasileiras no exterior.
Integração
O secretário-geral da União discutiu propostas como a reunião de pequenos produtores no Brasil, a realização de investimentos árabes nestes negócios e a exportação da produção para o Oriente Médio e Norte da África; a exportação de pintos de um dia para engorda na região; a venda de frango in natura para industrialização lá; e o embarque de milho e soja para armazenamento e processamento lá, e posterior distribuição para países árabes e parceiros.
“Os países árabes têm 400 milhões de pessoas, mas com nossos parceiros comerciais na África, Oriente Médio e outras regiões, o total sobe para 2 bilhões de pessoas”, afirmou Hanafy, referindo-se ao potencial do mercado. O secretário-geral já foi ministro do Abastecimento e Comércio Interno do Egito.
Em São Paulo, ele ainda participou da reunião do Conselho Superior de Administração da Câmara Árabe que elegeu a diretoria da entidade para o biênio 2019/2020 (foto do alto).
Em Brasília, também com Hannun, Hanafy se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão, com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, Fernando Collor (PTC-AL), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e com o Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil.
Segundo ele, o vice-presidente mostrou grande interesse em investimentos em transporte marítimo e logística, e foi convidado para participar de um fórum de logística dos países árabes que será realizado no segundo semestre. “A ideia de áreas logísticas [em portos] no mundo árabe foi também muito bem recebida”, comentou. “Nós falamos ainda sobre a utilização de alguns fundos soberanos – e isso foi discutido com os embaixadores árabes também -, que alguns investimentos destes fundos podem vir para cá para trabalhar nestas mesmas ideias que eu mencionei”, ressaltou.
Sobre o encontro com Tereza Cristina, de acordo com Hanafy, a ministra disse que as propostas de negócios conjuntos soaram como “música para os ouvidos”. Ele a convidou para participar de um fórum árabe sobre segurança alimentar que vai ser realizado também no segundo semestre. Este é um dos temas mais caros aos países árabes.
Câmara Árabe
O secretário-geral da União afirmou que a viagem ao Brasil foi “muito bem-sucedida”. “A Câmara Árabe Brasileira faz um grande trabalho em construir pontes”, elogiou. Ele ressaltou que a entidade está aprofundando sua parceria com a União e citou como exemplos sua participação em eventos como a conferência sobre segurança alimentar que ocorreu em Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos, em novembro de 2018, e o Fórum do Setor Privado Árabe, realizado em janeiro de 2019 em Beirute, no Líbano.
“As oportunidades no Brasil começaram a ser conhecidas no mundo árabe por meio da Câmara Árabe Brasileira”, destacou Hanafy.
Ele se disse otimista com a possibilidade de crescimento das relações econômicas entre o País e a região. “Vemos uma grande vontade dos dois lados”, declarou, e acrescentou que o Brasil goza de uma preferência entre árabes, pois há similaridades na cultura de negócios dos dois lados.