São Paulo – As exportações brasileiras para os 22 países da Liga Árabe fecharam o primeiro trimestre com alta de 33,58%, em US$ 3,86 bilhões, segundo relatório da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Na foto acima, lavoura de trigo, produto exportado ao mercado árabe.
O desempenho foi motivado por investimentos árabes para a transição de suas economias para a era pós-petróleo e pela valorização recente das commodities, intensificada pela invasão da Rússia à Ucrânia, que restringiu a participação desses países no mercado internacional de grãos e fertilizantes, além de ter encarecido fluxos logísticos.
O aumento nas vendas brasileiras aos árabes, cuja pauta é liderada por commodities minerais e alimentares, também é reflexo do movimento desses países ainda dependentes de alimentos importados para reforçar os próprios estoques e assegurar a oferta de alimento nos próximos meses, segundo avalia o presidente da Câmara Árabe, Osmar Chohfi.
Tirando o minério de ferro, que liderou a pauta de exportação nos três primeiros meses do ano (US$ 690,29 milhões, -12,5%), os demais produtos da lista são do agronegócio, principalmente, carne de frango (US$ 591,09 mi, +10,66%), açúcar (US$ 588,8 mi, +19,79%), derivados de soja (US$ 318,02 mi, +122,84%), trigo (US$ 285,86 mi, +438,06%), milho (US$ 269,6 mi, +27,21%) e carne bovina congelada (US$ 267,57, milhões, +165,73%). “Esse movimento de reforço de estoques não se restringe aos árabes, dado que as exportações brasileiras para o mundo cresceram 26,8% no período, somando US$ 72,3 bilhões”, pontua o dirigente.
Ainda de acordo com o relatório da entidade, o apetite dos árabes segue em alta pela retomada econômica local, beneficiada pela vacinação precoce contra a covid-19, e também pelo anúncio de novos investimentos governamentais para diminuir a dependência econômica do petróleo. Entre eles, a entidade destacou o recém-anunciado aporte de US$ 152 bilhões do Fundo de Desenvolvimento Nacional da Arábia Saudita para triplicar até 2030 a atual participação dos setores não-petrolíferos no Produto Interno Bruto (PIB) saudita.
O petróleo
A alta do petróleo no período também beneficiou países árabes exportadores de combustível fóssil, que em março atingiu seu maior patamar desde 2008: US$ 130 o barril do tipo brent. Outro fator é a retomada do turismo de stop-over nos Emirados Árabes, o religioso na Arábia Saudita e o histórico na Jordânia. Só no país do Levante, a receita com atividade cresceu 196,5% nos dois primeiros meses do ano. O setor deve seguir em alta com a perspectiva da Copa do Mundo do Catar, a partir de novembro, que deve levar milhares de pessoas a diferentes países do Golfo, diz a entidade.
Apesar dos bons resultados e perspectivas, a Câmara Árabe manifestou no documento preocupação com um possível impacto na safra 2022/23 decorrente da menor oferta de fertilizantes da Rússia e Belarus, hoje sob sanção. A entidade vem promovendo esforços para estimular a aquisição desses produtos de países árabes para compensar ao menos em parte a menor oferta do produto russo e bielorusso, que vem surtindo resultados. No acumulado de janeiro a março, os árabes ampliaram a venda de fertilizantes ao Brasil em 44,5%, para US$ 773,52 milhões.
A entidade também vê como ponto de atenção a seca no Rio Grande do Sul que deve provocar algum prejuízo na safrinha (colheita de inverno), com potencial de se estender para o cultivo seguinte.