São Paulo – A história de um homem sírio, da sua mulher e da caligrafia de Damasco são temas de uma obra de ficção que acaba de ser lançada pela editora Estação Liberdade no Brasil. O livro, que chegou às livrarias do Brasil, se chama “O Segredo do Calígrafo” e é autoria do sírio Rafik Schami. Como Schami mora na Alemanha, ele foi escrito em alemão e traduzido pela Estação Liberdade para o português.
De acordo com o editor adjunto da Estação Liberdade, Leandro Rodrigues, a obra foi traduzida também para outros idiomas, como inglês e espanhol, e a Estação Liberdade resolveu publicá-lo no Brasil em função de ter vendido bem na Europa. Também a qualidade do livro pesou. “É um livro gostoso de ler, tem um lado mais aventureiro e também faz uma apresentação da cultura síria, de Damasco, algo não tão corriqueiro para o público brasileiro”, diz Rodrigues.
"O segredo do calígrafo" é um romance dividido em duas partes. Conta a história de um calígrafo de excelência da Síria, Hamid Farsi, casado com Nura. O calígrafo é muçulmano e o casamento dos dois foi arranjado pela família. Nura se apaixona por um cristão. Ao mesmo tempo é assediada por um árabe que, por ironia do destino, compra caligrafias de Farsi para presentear sua amada. Nessa primeira parte do livro, Farsi parece ser um vilão.
Mas a segunda parte da obra, chamada Segundo Núcleo da Verdade – a primeira se chama Primeiro Núcleo da Verdade -, conta a história do calígrafo. E aí o leitor percebe os motivos do comportamento de Farsi, a princípio apenas um homem frio com a esposa. Junto com a história do sírio, que não tem base na vida real, aparece a história da caligrafia em Damasco. A editora descreve o livro como “espelho da sociedade síria nos anos 1950”.
Schami, o autor, nasceu em Damasco, em 1946, e chegou a fundar e dirigir um jornal mural chamado Al-Muntalek na Síria. Ainda jovem, porém, os 25 anos, mudou-se para a Alemanha. No país europeu, Schami estudou química e teve vários empregos até passar a se dedicar à literatura, em 1982. Atualmente ele é um autor reconhecido, tem livros premiados e traduzidos para 24 idiomas. A publicação de “O Segredo do Calígrafo” no Brasil ocorreu por meio do contato da Estação Liberdade com a editora alemã de Schami, a Hanser.
O livro tem tradução de Silvia Bittencourt e traz caligrafias de Ismat Amiralai, um sírio de Damasco, que já atuou com pintura, caligrafia e artes gráficas em Damasco, Beirute, no Líbano, e Mannheim, na Alemanha. Amiralai colaborou com Schami na elaboração do romance. Veja abaixo alguns trechos do livro:
‘Não consigo acreditar que um calígrafo só se interesse pela beleza das palavras, e não por seu conteúdo’, escreveu ela no diário, sublinhando as linhas com uma caneta vermelha. Um dia, ele trouxe para casa um provérbio emoldurado, escrito de forma encantadora, e o pendurou na sala. Nura não conseguiu parar de elogiar a beleza da escrita, mas não foi capaz de decifar o provérbio. Este era engenhosamente contorcido, virado e refletido. Também nenhum dos poucos convidados conseguiu lê-lo; mas todos, inclusive seu pai, acharam a pintura muito bonita, pois ela supostamente satisfaria a alma e o espírito.
O coração de Salman disparou e ele sentiu suas pernas tremerem. Rápida e silenciosamente andou até o jardim. Lá no banheiro ele nem conseguiu abaixar as calças de tanto medo. Sua urina parecia ter evaporado com o choque. Quem os dois queriam matar? E por que Karam participava daquilo? Só anos depois tudo se encaixaria como num quebra-cabeça, formando um quadro. Naquela noite, Salman não conseguiu mais manter as mãos tranquilas e executar a complicada caligrafia.
Serviço:
Livro: O segredo do calígrafo
Autor: Rafik Schami
Tradução: Silvia Bittencourt
Caligrafias: Ismat Amiralai
Preço: R$ 63