Isaura Daniel
São Paulo – O comércio do Brasil com os países árabes começou o ano em alta. As exportações brasileiras para as 22 nações da Liga Árabe cresceram 24% em faturamento no mês de janeiro, em relação ao mesmo mês do ano passado, e alcançaram US$ 317,4 milhões. Se forem comparados os últimos doze meses com o período anterior, as vendas subiram 44% e ficaram em US$ 4,09 bilhões.
O percentual de crescimento obtido em janeiro está acima das previsões da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) para o ano, de 12% a 13%. As vendas externas brasileiras como um todo cresceram 28,3%, também acima da estimativa do governo federal, de 12%, para 2005. "Há uma mudança estrutural nas empresas. As exportações passaram a ser estratégicas e não uma alternativa de mercado", diz o secretário-geral da CCAB, Michel Alaby.
Os exportadores esperavam taxas menores justamente em função da valorização do real frente ao dólar, que começou a ocorrer no final do ano passado, e das altas taxas de crescimento das exportações já obtidas em 2004. A moeda norte-americana saiu de uma cotação de cerca de R$ 2,9 no início do ano passado para a casa dos R$ 2,6 atualmente. As exportações brasileiras aumentaram 32% em 2004 e as vendas para os países árabes 46%.
"Apesar da valorização do real, as empresas se mantêm no mercado externo para não perder sua fatia de mercado", diz Alaby. De acordo com o secretário-geral da CCAB, as exportações de janeiro ainda refletem, porém, contratos acertados no final do ano passado e por isso não se pode esperar que o percentual se mantenha no decorrer do ano.
Do campo
Grande parte do crescimento das vendas para os países árabes ocorreu em função de vendas de produtos básicos como carne de frango, carne bovina, café, açúcar e farelo de soja. As commodities, como têm cotação internacional, são menos afetadas pela variação cambial do que os produtos manufaturados. Alaby acredita que as vendas de produtos básicos poderão contrapor a perda que pode ocorrer com manufaturados neste ano se o real se mantiver valorizado.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as vendas de carne de frango, que têm entre os principais destinos a Arábia Saudita, cresceram 22,5% em janeiro. Também o faturamento brasileiro com carne bovina cresceu 25,6% no mês e a receita com açúcar em bruto aumentou 36,3%. O Egito está entre os principais mercados dos dois produtos. O Marrocos figura na lista dos grandes consumidores do açúcar brasileiro.
O ranking
A Arábia Saudita foi o maior comprador, em receita, dos produtos brasileiros entre os países árabes. O país importou US$ 79 milhões, um aumento de 73% sobre janeiro de 2004. O Egito foi o segundo maior comprador, com US$ 59 milhões, seguido do Marrocos, com US$ 34 milhões, e da Argélia, com US$ 33 milhões. Os países que mais aumentaram as suas compras, em percentuais, foram Argélia (197%), Líbia (123%) e Somália (107%).
Apesar do crescimento obtido em janeiro, as exportações para os países árabes caíram 7,5% se comparadas a dezembro do ano passado. "Janeiro normalmente não é um mês de extraordinário aumento nas exportações em função do inverno no Hemisfério Norte", lembra Alaby.
Petróleo da Líbia
Já as compras brasileiras de produtos das nações árabes diminuíram em janeiro em relação ao primeiro mês de 2004. As importações caíram de US$ 319 milhões para US$ 284 milhões, um valor 10,9% menor. A queda pode ser atribuída às oscilações do preço do petróleo, já que a pauta é formada basicamente pela commodity.
A boa notícia na área de importações é que o Brasil está aumentando as compras de petróleo de alguns países da região, como a Líbia. Os brasileiros gastaram US$ 10,3 milhões com produtos da Líbia, que é produtora de petróleo, em janeiro. No primeiro mês de 2004, a balança comercial brasileira não apontava compras do país árabe. Por outro lado, as importações da Arábia Saudita caíram de US$ 83 milhões para US$ 67 milhões e as da Argélia de US$ 166 milhões para US$ 129 milhões. Os dois países são grandes fornecedores do petróleo para o Brasil.