São Paulo – Um empresário palestino que foi educado no Brasil é o responsável por levar à Cisjordânia algumas das mais famosas redes de franquias de alimentos dos Estados Unidos. Adeeb Musa Al Bakri, de 60 anos, já é dono de três rádios e lojas de departamentos na Palestina e de imóveis no Brasil. Desde o começo deste ano, contudo, ele ampliou seus negócios na Cisjordânia com a abertura das duas primeiras lojas da rede KFC, especializada em pratos feitos com frango. Na próxima segunda-feira, Bakri irá inaugurar a primeira unidade da Pizza Hut ao lado de uma das lojas do KFC em Ramallah.
Al Bakri nasceu em 1952 na Palestina e em 1968 foi viver com a família na cidade gaúcha de Lajeado, no Rio Grande do Sul, a 118 quilômetros de Porto Alegre. Seis meses depois, se mudou para São Leopoldo e, em 1972, foi para Porto Alegre. Foi no Rio Grande do Sul que a família prosperou com empresas do setor têxtil. Em 1994, contudo, Bakri retornou à Palestina para cuidar do pai doente. A ideia era ficar por três meses, mas, depois que seu pai morreu, não voltou mais a morar no Brasil.
"Meu pai era de uma família tradicional na Palestina, tinha empresas e inquilinos. Usei o dinheiro dele em rádios, lojas e franquias. Aprendi muito do mundo dos negócios quando vivi em Porto Alegre e viajava para São Paulo com frequência", recorda o empresário. Há cerca de cinco anos, um amigo que vivia em Chicago sugeriu que Bakri tentasse levar para Ramallah grandes redes norte-americanas de fast-food. Ele aceitou a ideia, mas não imaginava que seria difícil colocar o projeto em prática. "Quando sugeri isso às empresas, não quiseram nem ouvir. Acharam que só tinha camelo aqui, que não havia público para isso", diz.
Bakri convenceu primeiro os executivos da rede KFC a abrir uma loja em Ramallah. Hoje já tem duas na cidade, pretende encerrar o ano com cinco lojas na Autoridade Palestina e chegar ao fim de 2013 com 20 unidades na região. As duas próximas lojas serão abertas em Ramallah. Depois, serão instaladas unidades em cidades como Nablus e Jericó. "Vendemos hoje mais de dez vezes do que aquilo que eu imaginei. As lojas ficam sempre lotadas e abertas até duas horas, três horas da manhã. Não damos conta", diz.
Embora sigam o mesmo padrão de cardápio das outras unidades da rede, as lojas de Bakri vendem pratos mais picantes do que a maioria das lojas. "Quando abrimos a primeira unidade, a máquina que fritava e temperava o frango com muita pimenta tinha uma demanda muito maior do que aquela que preparava os pratos com pouca pimenta. Agora, temos seis máquinas que fazem a receita apimentada e duas que preparam a receita normal", diz.
Quase todos os produtos utilizados na receita são comprados na Palestina ou de países da região. Os funcionários palestinos do KFC e da Pizza Hut são treinados na Inglaterra e na França. "Até importei arroz do Brasil, mas quando o real se valorizou ficou muito cara comprar arroz do Brasil. A partir de então, eu passei a comprar arroz do Egito e de outros fornecedores", diz.
Enquanto amplia as unidades do KFC e planeja a abertura da loja da Pizza Hut, Bakri já prepara a entrada de uma terceira rede ao país. Mas faz segredo sobre o nome da empresa. "Já temos discussões avançadas, mas faltam detalhes", afirmou. Além das redes de fast-food, ele tem duas lojas de departamentos, nas quais vende roupas, brinquedos, utensílios domésticos e bijuteria. Bakri também diz que aprendeu muito sobre o mundo dos negócios quando viajava entre Porto Alegre e São Paulo ouvindo as rádios Gaúcha, Guaíba e Globo. Gostou tanto de ouvir rádio que atualmente tem três emissoras na Palestina com transmissões que chegam à Israel e à Jordânia.
Mesmo com tantos negócios no mundo árabe, Bakri deixou raízes no Brasil. Ele ainda tem imóveis em Porto Alegre e parentes em diversas cidades gaúchas, como Rio Grande, Santa Maria e Caxias do Sul. A última vez que veio para o Brasil foi em 2010 e deverá retornar no começo de 2013. "Gosto muito daí e dos brasileiros. Devo tudo o que sou e tudo o que tenho ao Brasil", diz Bakri.