São Paulo – A cidade do Rio de Janeiro era a capital do Império, depois capital da República, e os árabes foram chegando. Vinham da Síria, Líbano, Palestina. Diferente de São Paulo, centro econômico do país, na terra da praia e do sol estava a diplomacia dos seus países e, por meio dela, os imigrantes puderam manter o diálogo com suas pátrias mães. Essa é uma parte da história da imigração árabe no estado do Rio de Janeiro que está no livro "Árabes no Rio de Janeiro – uma identidade plural", que será lançado na próxima quarta-feira (15).
O autor é historiador Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Depois de muita pesquisa sobre o Islã, na sua carreira acadêmica, ele resolveu contar em livro também a história da imigração árabe no Rio e da identidade dos imigrantes em solo fluminense. O que há de peculiar sobre os árabes na cidade maravilhosa? Entre outras coisas, eles ajudaram na construção da paisagem urbana. De acordo com Rocha Pinto, foram investidores do setor imobiliário, com a construção de moradias populares voltadas para a classe trabalhadora.
O título do livro já dá uma pista de para onde envergaram os árabes no estado e principalmente na cidade do Rio: a pluralidade. A identidade dos que hoje formam a comunidade de descendentes de árabes é múltipla. Os laços com as suas origens se mantêm, explica o escritor, pela relação afetiva com algum membro da família, pela culinária. Mas o conteúdo cultural, em cada membro da comunidade árabe, foi mudando com o passar do tempo e a vinda das novas gerações.
"Algumas pessoas se consideram árabes pela tradição familiar, alguns participando de instituições (árabes), outros usam isso (a origem) como fonte de inspiração", explica Rocha Pinto, referindo-se a escritores e atores de descendência árabe. "Os acadêmicos usam isso como forma de criar uma problemática intelectual, instituir um estudo", complementa, sobre os pesquisadores de origem árabe que se debruçam sobre temas da região.
A pesquisa para o livro foi feita de abril a novembro do ano passado, conta Rocha Pinto, lembrando que ele já tinha lido muita coisa a respeito em função das suas pesquisas sobre comunidades muçulmanas. Para "Árabes no Rio de Janeiro – uma identidade plural", o escritor pesquisou, além de literatura em geral sobre o tema, produção da própria comunidade sobre a sua história, em árabe e português, fez levantamentos no Arquivo Nacional, em instituições, igrejas e acervos pessoais, e entrevistou 30 pessoas que se consideram árabes.
O livro faz parte de uma série, chamada "Imigrantes no Rio de Janeiro", da Editora Cidade Viva, com patrocínio da Light e Lei Estadual de Incentivo à Cultural do Rio de Janeiro. Ele tem 200 páginas e será vendido em livrarias do país, além de distribuído por seus organizadores. Para a obra, Rocha Pinto teve como assistente de pesquisa Natália Rodrigues.
O autor é coordenador de pesquisa de pós-graduação em Antropologia e do Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense, de Niterói. Na instituição, ele trabalha com três linhas de pesquisa: estudo do Islã na Síria, estudo do Islã no Brasil e estudo da identidade árabe no Rio de Janeiro. Rocha Pinto é graduado em História, além de Medicina, tem mestrado em Antropologia da Ciência e Ensino e doutorado em Antropologia, com enfoque em Islã e Sufismo.
O escritor tem 42 anos, é de origem árabe, além de portuguesa, e morou na Síria entre os anos de 1999 e 2001. Ele tem outros dois livros publicados, além do atual. Um deles foi lançado também neste ano e trata do Islã.