Cartum – Apesar dos obstáculos apresentados para a realização de investimentos agrícolas no Sudão, principalmente nas áreas de crédito, câmbio e remessa de lucros ao exterior, os organizadores da Conferência sobre Segurança Alimentar no Mundo Árabe, que terminou nesta terça-feira (21) em Cartum, avaliaram o evento como positivo e acreditam que o número de empresários árabes que investem na área no país deve crescer.
O presidente da Federação dos Empresários e Empregadores Sudaneses, Saud Elbreir, disse que os números da conferência mostram que o tema gera interesse. De acordo com ele, compareceram 165 empresários de outros países árabes, pelo menos 15 de nações de fora do Oriente Médio e Norte da África e mais de 500 sudaneses. Entre os participantes estrangeiros estava o diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
“Os empresários discutiram muito sobre o setor de alimentos e nesse sentido foi um sucesso”, afirmou Elbreir à ANBA. “Muitas empresas árabes estão começando negócios no Sudão”, acrescentou. Incentivar os investimentos privados na agricultura e na pecuária era o principal objetivo da conferência.
A avaliação é que apesar da preocupação sobre a segurança alimentar – pois boa parte dos países da região é pobre em terras férteis e recursos hídricos e depende das importações -, as empresas árabes investem pouco no setor.
O presidente da União Geral das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes, organizadora do fórum, Adnan Kassar, declarou que o os resultados do evento “prometem muito”. Para ele, a perspectiva de aumento dos investimentos de empresários árabes na agricultura sudanesa “é encorajante”. “Apoiamos este esforço de promover o investimento árabe aqui”, destacou.
Ao contrário de outras nações da região, o Sudão tem terras férteis disponíveis e abundância de água fornecida pelo Rio Nilo e seus dois afluentes, o Nilo Branco e o Nilo Azul, que se unem na altura da capital. Um dos principais entraves aos investimentos, porém, é a dificuldade de obter recursos no sistema financeiro internacional para bancar projetos. Isso ocorre porque o país sofre sanções econômicas internacionais, principalmente por parte dos Estados Unidos.
Além disso, com a independência do Sudão do Sul em 2011, o país perdeu boa parte de suas receitas com a produção de petróleo e há falta de moeda estrangeira no mercado. Na segunda-feira, alguns empresários reclamaram da dificuldade de comprar dólares pelo câmbio oficial, da desvalorização da libra local e de entraves impostos pelo governo para a remessa de lucros ao exterior.
“É um problema político”, disse Elbreir. “Mas eu acho que agora esta questão vai correr bem, vai melhorar”, afirmou. Os sudaneses apostam em maior apoio de instituições financeiras e de fomento árabes após o rei da Arábia Saudita, Abullah Bin Abdulaziz, fazer um apelo para que estas organizações ampliem seu capital em pelo menos 50% e aumentem os investimentos em projetos na região. São entidades e empresas que têm os governos locais como acionistas e a opinião dos sauditas nessa questão tem grande peso, pois o país é a maior economia da região.
Incubadora
Outra iniciativa em andamento é o apoio a empreendedores por meio de um programa do Centro Regional Árabe para Treinamento em Empreendedorismo e Investimentos (Arceit, na sigla em inglês), entidade mantida pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) e pelo governo do Bahrein. No Sudão, o projeto tem o nome de “Agroempreendedores” e seu objetivo é capacitar pessoas que tenham interesse em começar um negócio nas áreas de agricultura, pecuária e processamento de alimentos.
Para esta terça-feira estava prevista a formatura da primeira turma do programa no Sudão, com 34 participantes. Segundo o coordenador da iniciativa, Afif Barhoumi, o processo tem cinco passos: a seleção dos empreendedores e seus projetos; a preparação para o lançamento do negócio, com aconselhamento sobre gestão, onde buscar tecnologia e procura de mercados; o contato com instituições financeiras dispostas a financiar – neste caso o parceiro é o Banco de Cartum; a incubação; e o desenvolvimento do empreendimento por si só.
“No Sudão a agricultura tem grande peso”, disse Barhoumi, ao explicar o porquê da escolha da área para o programa no país. Em outras nações, são selecionados outros setores. No Bahrein, por exemplo, o foco são os serviços.
Mesmo após o término das cinco fases, de acordo com Barhoumi, a organização continua a dar apoio ao participante até a consolidação do negócio. Além disso, o Arceit quer difundir a cultura empreendedora no Sudão. “Estamos trabalhando com professores de cursos vocacionais para que eles disseminem a ideia”, concluiu o coordenador.