São Paulo – Bananeira dentro de palácio, tinta com cristais e banheiros de 50 metros quadrados. Esses são alguns dos projetos que chegam ao escritório do brasileiro Vicente Visciglia, de 37 anos, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Arquiteto e designer, este paulista de Tatuí (cidade a 150 quilômetros da capital) deixou o Brasil aos 15 anos para viver em Miami, nos Estados Unidos, antes de se mudar para Dubai, há três anos, e de lá para a vizinha Abu Dhabi. Um projeto na casa do irmão do sócio lhe abriu as portas para as encomendas dos xeques e empresários. Agora, o arquiteto se prepara para abrir um escritório em São Paulo, sem deixar os árabes.
“Comecei a trabalhar em uma empresa que planeja hospitais e há três anos fui fazer um projeto em Dubai. Três meses depois que eu cheguei à cidade, o sócio local da empresa me convidou para abrir um escritório com ele. Aceitei. Projetei a área de lazer da casa do irmão do meu sócio, que é ministro. Ele recebia muitos convidados que se interessaram pelo meu trabalho”, conta o arquiteto.
Desde então, Visciglia e o sócio, o engenheiro Said Al Jabri, passaram a fazer projetos em residências e empresas. Para a rede de cafés PappaRoti, que tem franquias na Ásia e no Oriente Médio, Visciglia projetou o interior das lojas e o "branding" (conjunto de marcas da empresa, como o layout, escalas de cores e desenhos dos objetos). Só ele pode desenhar uma nova franquia da empresa.
No ano passado, o designer abriu um ateliê de costura para atender o desejo das mulheres e homens árabes, o Aavva. “Procuro colocar um pouco de design nestas roupas”, explica. Em outubro, a Aavva vai participar da semana da moda, em Dubai. Dentro de três meses, ele irá colocar o pé na cozinha e abrir dois restaurantes de culinária brasileira e italiana em Abu Dhabi, onde vive. Um deles será na Masdar City, área sustentável da capital dos Emirados. O outro, na Yas Island, onde fica o circuito de Fórmula 1 da cidade.
“Teremos salgadinhos brasileiros, arroz e feijão, faremos pratos árabes do jeito que os brasileiros cozinham. Teremos esfiha feita como no Brasil, quibe de forno, tabule, homus e coalhada. O restaurante também terá massas e pizzas italianas”, diz Visciglia sobre a cozinha do “Samba Pasta”.
Chique & brega
Nenhum destes planos, porém, irá substituir o dia a dia de Visciglia na Power Design, a empresa dos desenhos de casas e interiores que ele criou com o sócio. Ao contrário. Atualmente, Visciglia projeta partes da casa de um dos filhos do emir de Dubai, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, e uma casa de veraneio em Jeddah, na Arábia Saudita. Atender aos desejos dos clientes árabes, diz Visciglia, obrigou-o a “adaptar” seus projetos.
“Não estava acostumado a planejar banheiros com 50m² de área ou quartos com 100 m². Então, tive que me ajustar. Também não estava acostumado a trabalhar com palácios, como um em Sharjah [outro dos sete Emirados Árabes Unidos]. Quando o imóvel tem mais do que 30 quartos é palácio e não mansão.” Além de planejar interiores de cômodos gigantes, Visciglia precisou atender a desejos inusitados dos clientes.
“No projeto da casa de veraneio de Jeddah, o cliente me pediu para fazer um jardim com uma bananeira, uma tamareira e um pessegueiro. Em outro, em Abu Dhabi, vou utilizar uma tinta com cristais Swarovski para pintar a parede. Cada litro desta tinta custa US$ 1.400 e um litro é suficiente para 4m². Eles gostam de luxo, de móveis folheados a ouro. Às vezes o luxo fica brega.”
Visciglia diz que, embora gostem de decorar a casa ou o palácio com o produtos caros e luxuosos, os "vips" árabes conhecem o valor do dinheiro. “Eles levam dinheiro a sério. São bem informados e sabem o valor das coisas. Quando faço um orçamento, deixo claro para eles quanto daquele orçamento é projeto, material, o que eu ganho. Sou realista e eles sabem que não estou aumentando o valor, cobrando o triplo do preço.”
O arquiteto brasileiro acredita que este é um dos motivos que o levam a ser convidado a fazer os projetos dos palácios árabes. “Eles lidam com muitos profissionais que não cumprem o que prometem ou que abandonam os projetos. Eu fico até o fim, até colocar o último quadro na parede. Eles gostam de profissionais que são honestos. Se confiam em você, irão chamá-lo sempre para fazer seus projetos”, diz. Em seus projetos, o brasileiro aposta na criatividade e nos materiais que encontra na região.
Caminho de volta
Visciglia se prepara, agora, para desembarcar em São Paulo. “Tenho clientes que querem investir no Brasil. Um da Arábia Saudita, por exemplo, tem um fundo de investimentos”, diz. De olho nesta clientela e nos brasileiros que desejam investir no Oriente Médio, o arquiteto irá abrir um escritório em São Paulo. “Vou para o Brasil ainda neste mês procurar um imóvel.” O escritório irá ajudar os clientes a se estabelecer no País e vice-versa e também deverá desenvolver projetos para eles, mas a base dos projetos continuará a ser Abu Dhabi.