São Paulo – Na natureza, o último exemplar de arara azul, uma ave típica do Nordeste do Brasil, foi visto em outubro do ano 2000. Depois desta data, o animal nunca mais foi encontrado pelo homem em seu habitat natural, e foi considerado extinto das florestas do País. Hoje, ele vive apenas em cativeiros e, das 74 aves das quais se tem conhecimento, 54 são mantidas pelo Centro de Preservação da Vida Selvagem Al Wabra, no Catar.
Mantido pelo xeque Saoud Bin Mohammed Bin Ali Al Thani, o Al Wabra reúne 2,5 mil animais, entre mamíferos e aves, em um espaço de 2,5 quilômetros quadrados, situados perto da cidade de Al Shahaniya, no centro do país árabe. As primeiras araras azuis chegaram ao lugar em fevereiro de 2000, vindas do Birds International Incorporated (BII), centro de preservação de aves nas Filipinas.
Desde então, o local recebeu também exemplares de araras azuis de um criador particular na Suíça e outros do BII. Em 2006, a convite do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Al Abra passou a integrar oficialmente o Grupo de Trabalho para Recuperação das Araras Azuis. No Brasil, ainda existem algumas poucas aves da espécie, que são mantidas pela Fundação Lymington e pelo Zoológico de São Paulo.
“O Al Wabra é um parceiro muito ativo na preservação da espécie”, declara Hugo Vercilo, coordenador-geral de Espécies Ameaçadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do Ministério do Meio Ambiente.
O australiano Ryan Watson é o responsável pelo trabalho de preservação e reprodução das araras azuis no Al Wabra. Seu trabalho não é fácil, já que dos 73 exemplares existentes, 69 são originários de apenas duas aves, que eram irmãs. Esta proximidade genética torna a reprodução das araras azuis ainda mais complicada, já que a espécie também não tem mostrado um comportamento afeito à criação em cativeiro. Dos 260 ovos que já foram colocados pelas fêmeas, apenas 27 deles resultaram no nascimento de filhotes. A boa notícia é que entre os que nasceram todos sobreviveram.
“Diretamente há quatro pessoas trabalhando exclusivamente com as araras azuis, no entanto, indiretamente, há muito mais pessoas envolvidas em diferentes níveis, de veterinários ao pessoal da manutenção. Todos realizam um trabalho importante no cuidado das araras azuis do Al Wabra”, conta Watson sobre as atividades de sua equipe.
Em 2008, o Al Wabra adquiriu a Fazenda Concórdia, no município de Curaçá, na Bahia. Foi neste local, de 2,38 mil hectares, onde a última arara azul foi vista solta, há quase onze anos. A intenção do centro é que a fazenda volte a ser o lar deste tipo de ave. A previsão é que elas retornem ao Brasil no início de 2014.
As fêmeas devem ser as primeiras a serem soltas na fazenda, já que há um número bem maior delas do que de machos. Se elas se adaptarem bem ao ambiente, os filhotes, inclusive alguns machos, também serão soltos para formarem um núcleo de reprodução natural.
A idade média de uma arara azul criada em cativeiro é de 25 a 30 anos. Hoje, a ave mais velha desta espécie, um macho, já tem 37 anos e faz parte do aviário do Al Wabra. Segundo Watson, esta idade é excepcional para a espécie. Ele destaca ainda que, no ano passado, o Al Wabra conseguiu chocar dois ovos originários deste exemplar que, antes disto, não havia procriado pelo período de dez anos. “Foi um resultado realmente muito bom”, diz.
Além das araras azuis, o Al Wabra, que é fechado ao público, mantém ainda outras três espécies de aves brasileiras: 14 araras azuis de lear, sete araras azuis grandes e seis guarubas.