Isaura Daniel e Marina Sarruf
São Paulo – Os países árabes devem ser beneficiados com o fim dos subsídios agrícolas por parte das nações desenvolvidas. Estados Unidos (EUA), União Européia (UE) e Japão se comprometeram, durante reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), no último final de semana, a eliminar os subsídios às exportações de produtos agrícolas e a cortar 20% das verbas que dão aos agricultores a título de apoio interno. Os detalhes serão acertados até o término da Rodada Doha, prevista para o final do ano que vem.
"A produção vai se deslocar da Europa para o Brasil e para os países que tiverem condições de produzir com menor custo", diz o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Paulo Atallah.
Assim que os subsídios forem suspensos, as commodities dos países mais ricos deverão ficar com preços menos competitivos para o mercado internacional, o que poderá abrir espaço para outros produtores, como o Brasil e os árabes.
"Essa medida foi boa para todos os países em desenvolvimento que vendem produtos agrícolas, pois terão uma chance maior de competir no mercado", diz o embaixador-chefe da Delegação Especial da Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh.
Diversas nações do Oriente Médio e Norte da África, como Djibuti, Egito, Iêmen, Ilhas Comores, Kuwait, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e Tunísia, são produtoras agrícolas e terão mais oportunidades de exportação.
O Egito deve ser um dos maiores beneficiados entre as nações árabes. O país integra, ao lado do Brasil, o G-20, grupo de países agrícolas na OMC, e também teve parte do mérito na vitória obtida no final de semana. "As exportações do Egito vão aumentar muito", diz o cônsul comercial do país em São Paulo, Mohamad Bakry Agami.
Hoje, cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) deste país vem do setor agrícola. O Egito é um forte produtor e exportador de algodão, produto tradicionalmente subsidiado nos Estados Unidos.
Apesar de grande parte da economia dos países árabes estar baseada no petróleo, a agricultura é uma fonte de renda importante para a região. O Iêmen, por exemplo, exporta café e algodão. Nas Ilhas Comores o setor agrícola, junto com a pesca, responde por 40% do PIB e na Síria 25%. Na Palestina, 12% da população trabalha na área rural. No Sudão, o percentual sobe para 80%. Os sudaneses produzem desde algodão e amendoim até produtos de menor consumo mundial como sementes de gergelim.
Brasil para os árabes
Além de facilitar a entrada dos produtos agrícolas de países em desenvolvimento no mercado mundial, a suspensão dos subsídios também deverá favorecer o comércio bilateral entre as regiões. O Brasil, por exemplo, que vem se tornando cada vez mais importante como fornecedor de alimentos para os países árabes, terá chances de aumentar ainda mais as exportações para a região. "Vamos vender mais para o mundo inteiro", diz Atallah.
O Brasil já é um grande fornecedor de produtos básicos, como açúcar, frango, carne bovina, soja e trigo para os árabes. Grande parte do crescimento de 69% obtido com exportações para o Oriente Médio e Norte da África nos sete primeiros meses do ano é atribuído aos envios do setor agrícola.
O Brasil faturou US$ 2,2 bilhões com vendas para os 22 países da Liga Árabe nos sete primeiros meses do ano contra US$ 1,3 bilhão do mesmo período do ano passado.