Isaura Daniel
São Paulo – As exportações do Brasil para a Síria entre janeiro e setembro somaram US$ 133 milhões e já dobraram em relação ao total do ano passado, quando o valor registrado foi de US$ 66,6 milhões. Em comparação com os primeiros nove meses de 2003, houve um crescimento de 377%.
Um dos produtos que teve maior impacto na balança comercial entre o Brasil e o país árabe foi o açúcar. As empresas brasileiras enviaram 440 mil toneladas do produto para a Síria até setembro, contra 9 mil toneladas no mesmo período de 2003.
De acordo com o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Michel Alaby, esse aumento ocorreu por causa do Iraque. Como os dois países árabes são fronteiriços, a maior parte dos produtos básicos exportados pelo Brasil para a Síria é reexportada para o Iraque.
O café é outro caso de produto de produto revendido para o Iraque. As exportações de café do Brasil para a Síria passaram de 4 mil toneladas nos primeiros nove meses de 2003 para 12 mil toneladas no mesmo período deste ano.
Por causa da instabilidade atual, o Iraque não tem uma indústria capaz de abastecer com alimentos a população local e acaba importando a maioria dos produtos. As empresas brasileiras também fazem exportações diretas ao país, mas para isso precisam se cadastrar e negociar com os ministérios do Iraque.
Mas existem outras razões para o aumento das vendas do Brasil para a Síria. O país árabe vive, há alguns meses, sob embargo econômico dos Estados Unidos. Em função disso, os brasileiros estão vendendo mais máquinas e equipamentos para a Síria. Os norte-americanos estavam entre os fornecedores da Síria na área. Além disso, a Síria foi um dos países árabes visitados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2003.
"É a oportunidade para ao Brasil vender mais produtos de valor agregado para a Síria", diz Alaby. As vendas de tratores rodoviários, por exemplo, geraram US$ 4,8 milhões para as empresas brasileiras de janeiro a setembro deste ano. No mesmo período do ano passado o Brasil não havia vendido tratores para os sírios. Chassis e automóveis também constam na pauta de produtos enviados pelo país para a Síria no período.
Por não estar na Organização Mundial de Comércio (OMC), a Síria não segue as regras internacionais de comércio do organismo. Tanto que o país não permite a importação de produtos acabados, como calçados e alimentos prontos, mas apenas de matérias-primas. Há exceção, porém, para alguns produtos, como é o caso de máquinas e equipamentos.
Jordânia
Para a Jordânia as exportações brasileiras também aumentaram significativamente nos nove primeiros meses do ano. Novamente as revendas para o Iraque foram o principal motivo. O Brasil obteve uma receita de US$ 44,2 milhões com vendas para Jordânia, 85% a mais do que no mesmo período do ano passado. Entre os principais produtos embarcados estão a carne de frango e o açúcar.
De acordo com Alaby, o crescimento das exportações para Jordânia e para a Síria mostra que o Iraque tem potencial para receber maior volume de mercadorias do Brasil. "Assim que a situação se normalizar no país, o Iraque será um mercado extraordinário para o Brasil", diz o secretário-geral da CCAB.
Segundo Alaby, o Brasil já chegou a ter uma corrente comercial de US$ 4 bilhões com o Iraque na década de 1980. Para se ter uma idéia, em 1985 o país faturou US$ 630 milhões com exportações para o Iraque. Hoje, as vendas não chegam a US$ 100 milhões. No ano passado, a receita do Brasil com comércio com o Iraque ficou em US$ 42 milhões.
Até setembro deste ano, o faturamento ficou em US$ 60,7 milhões. A receita ainda não chega nem perto da obtida em décadas anteriores, mas está em crescimento. Sobre o mesmo período do ano passado, a alta foi de 174%.
De acordo com Alaby, as grandes possibilidades de vendas no Iraque estão na área de alimentos, mas também há espaço para comercialização de veículos, máquinas agrícolas, caminhões, tratores e produtos hospitalares e farmacêuticos. Uma das poucas indústrias que ainda está estabelecida no Iraque é a de petróleo.