Isaura Daniel
São Paulo – Iniciativas do Brasil e do Egito serão reconhecidas, no segundo semestre do próximo ano, como referências mundiais em tratamento a usuários de álcool e outras drogas. Projetos dos dois países e também do Cazaquistão foram escolhidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para serem transformados em centros mundiais.
No Brasil, o Núcleo de Atenção Psicossocial para Uso de Álcool e Outras Drogas (Naps-AD), da Prefeitura de Santo André, vai virar referência internacional, no Egito o Centro de Atenção Psicossocial do Hospital Mental da Cidade do Cairo, e no Cazaquistão o Centro Clínico e de Pesquisa sobre Problemas Sociais e de Saúde relacionados ao Uso de Drogas.
A idéia é que profissionais que trabalham com dependentes de drogas nos países da região do centro possam ser treinados nestes locais e aprendam com as experiências deles. A iniciativa é parte do programa do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC). O foco são consumidores que enfrentam problemas mentais em decorrência do uso das drogas.
De acordo com o coordenador do Programa de Saúde Mental da Prefeitura de Santo André, Décio de Castro Alves, tudo começou na metade do ano passado, quando a ONU convidou seus países membros para formar uma rede de intercâmbio de experiências nessa área para reduzir o consumo de drogas e álcool.
Cerca de 60 países se interessaram e 20 foram selecionados, entre eles o Brasil e o Egito. O fato foi divulgado junto aos centros que trabalham com tratamento de drogas e álcool no Brasil e o projeto de Santo André foi o indicado pelo Ministério da Saúde e pelo escritório da UNODC no Cone Sul para representar o país nos trabalhos da ONU na área.
O grupo de países formou uma rede e elaborou um documento sobre práticas de êxito nos tratamentos que será publicado no próximo ano. O próximo passo será a criação de centros mundiais. A ONU indicou as iniciativas do Egito e do Cazaquistão e o Brasil foi escolhido pelos membros do grupo, segundo Alves.
Santo André
O trabalho feito pelo Núcleo de Santo André tem como base respeitar os direitos de cidadania dos usuários de drogas. O álcool também é considerado droga. No Naps-AD são oferecidas cerca de 30 oficinas por semana para ajudar os usuários a reconstituírem sua vida. O trabalho, no qual o núcleo está no centro, engloba ainda criação de grupos de geração de renda para os pacientes, onde há desde produção de alimentos orgânicos até marcenaria com madeira reciclada, e ajuda para a volta deles aos estudos.
Também há uma equipe que trabalha nas ruas com os usuários e há oferta de estadia em residências terapêuticas – não em hospitais psiquiátricos – para o período de tratamento. Partindo do princípio de respeitar a cidadania do usuário, eles não são obrigados a abandonar o vício. Quem decide continuar recebe também assistência do programa para o cuidado com a sua saúde. Quem trabalha para o programa se insere no meio de outros consumidores de drogas distribuindo, por exemplo, seringas descartáveis.
Egito
Alves acredita que há muitas experiências a intercambiar com os egípcios e com os países em desenvolvimento em geral. "Temos muito mais afinidades do que divergências. Há muito trabalho conjunto a ser feito", afirma. O trabalho feito no Egito, segundo a assistente de coordenação do Naps-AD e articuladora do projeto da UNODC, Adriana Barcellos, também tem como propósito fazer com que o indivíduo tome pé da própria vida.
O trabalho parte do princípio de que o indivíduo tenha se tornado dependente por alguma situação que vive ou viveu. Nesse caso, se for simplesmente afastado do contato com a droga, quando voltar ao convívio social, vai voltar a ser usuário. Por isso as ações são voltadas para a reinserção social e a resoluções dos problemas que o incomodavam.