Débora Rubin
São Paulo – O Brasil pode ser o grande pólo gerador de agroenergia num futuro não muito distante. Este quadro só se tornará realidade, no entanto, se houver um investimento maciço em pesquisa. Eis a missão da Embrapa Energia, centro tecnológico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária que vai coordenar as pesquisas que vêm sendo feitas na área dentro das 20 unidades da empresa espalhadas pelo Brasil.
Segundo o chefe da secretaria de gestão e estratégia da Embrapa, Evandro Mantovani, a idéia é descobrir novas técnicas para se plantar oleaginosas e palmáceas já pensando na produção de energia. "Queremos fazer o aprimoramento genético dessas culturas para usá-las exclusivamente para fins energéticos", explica. O que há, hoje, é o aproveitamento das sobras dessas plantas, utilizadas para outros fins como óleos vegetais.
O Brasil produz biodiesel de mamona, por exemplo, desde os anos 80. Mas nada ainda expressivo. Além do biodiesel, a Embrapa Energia tem mais três focos: as florestas energéticas, em outras palavras, como extrair energia de lenha, carvão, etc; o etanol, que pode ser feito não só da cana-de-açúcar mas também da mandioca e do milho; e os resíduos agroindustriais.
"O Brasil é líder mundial em álcool. Se começarmos essas pesquisas agora, com empenho, temos a oportunidade de continuar liderando em termos de agroenergia", diz Mantovani. "Levamos vantagem porque temos tudo: sol, terra, água e tecnologia". Segundo ele, os investidores estrangeiros já estão de olho nas produções locais e acenam com a possibilidade não só de investir mas também de produzir em terras tupiniquins. "O mundo está aprendendo rápido como se faz", lembra o chefe da Embrapa.
Para não perder tempo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciou, no final de abril, um investimento de R$ 10 milhões na Embrapa Energia, sendo R$ 5 milhões para este ano e a outra metade para o ano que vem. O centro de pesquisa de agroenergia faz parte de um plano maior que envolve mais três ministérios: Ciência e Tecnologia, Minas e Energia, e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O projeto, chamado Plano Nacional de Agroenergia, foi traçado para o período de 2006 a 2011. Uma das metas é até 2008 substituir 2% do diesel utilizado na agricultura por biodiesel – o que corresponde a 800 milhões de litros de diesel a menos. O objetivo é que em 2013 esse porcentual suba para 5%. Outra possibilidade prevista pela Embrapa Energia é aumentar a produção de etanol. Hoje, se produz 90 litros por tonelada de cana. Se aproveitados o bagaço e até a palha, pode-se chegar ao dobro da produção atual.
Mais que descobrir novas técnicas para sair na frente dos demais países, o Brasil precisa investir em produção para estar preparado para a demanda mundial que haverá por energia quando o petróleo escassear de vez. "Hoje, se o Japão resolvesse colocar uma pequena porcentagem de álcool na gasolina e precisasse importar do Brasil, nós não atenderíamos essa demanda. É melhor estar preparado o quanto antes", alerta Evandro Mantovani.