Débora Rubin
debora.rubin@anba.com.br
São Paulo – No Brasil, uma coisa é certa: a grande maioria pode não saber ao certo quais são e onde estão os países árabes. Mas todo mundo já comeu um quibe e uma esfiha. Uma das maiores contribuições que os imigrantes sírio-libaneses deixaram para a cultura brasileira foi justamente a culinária. Beto Isaac já sabia muito bem disso quando resolveu apostar num restaurante especializado em comida árabe. Antes de criar o Arabesco, em 1987, Beto costumava levar as esfihas que sua tia preparava para as festinhas no banco onde trabalhava. “Era um sucesso. Todo mundo pedia para eu levar nas festas”, conta. Afinal, quibe e esfiha já são quase tão brasileiros quanto a feijoada.
Beto, neto de vó libanesa e vô sírio – eles moravam em um povoado bem na divisa entre os dois países – como outros tantos netos e bisnetos de árabes, cresceu almoçando e jantando charutos, kaftas, quibes e afins. “Desde que me entendo por gente, todas as festas de família, aniversário e até Natal, só comíamos comida árabe. Eu nunca soube o que era um tender de Natal”, recorda. Até a mãe de Beto, que é belga, assimilou a culinária árabe em casa.
Do lado sírio-libanês, Beto herdou também o gosto pelo comércio. Seu pai tinha um hotel em São Paulo. Certa vez, ele teve que ficar no lugar do pai no comando do hotel por um tempo. “Foi aí que eu percebi que eu gostava de comandar um negócio. Aplicar idéias, gerenciar, enfim. Quando meu pai voltou para o hotel, pedi demissão do banco e decidi criar o restaurante”.
Beto criou o Arabesco pensando naquele público que, nos idos dos anos 80, não conseguia voltar para casa para almoçar. “Naquele tempo, era mais incomum almoçar fora de casa”. O restaurante tem um sistema de buffet e também pratos a la carte. Além dos profissionais que almoçam fora de casa, Beto conseguiu conquistar um outro público muito especial: seus patrícios, filhos, netos e bisnetos de árabes.
“Existe uma cultura forte entre a comunidade árabe da cidade de que não se deve comer comida árabe fora de casa. Só a da mãe, a da tia, a da vó”, conta Beto. “Só que essas mulheres foram morrendo e essa figura que cozinhava para toda a família, desaparecendo. Então, hoje, tenho muitos clientes que vêm até aqui e dizem: “Nossa, Beto, esse rerice (uma sopa árabe) é igualzinho ao que minha avó fazia”.
É difícil ver mesa vazia no Arabesco, principalmente na hora do almoço. E, garante Beto, há 20 anos é assim. É na loja sede, em Perdizes, que é feito quase tudo. A loja da Paulista é menor, mas existe há 16 anos e também é bastante movimentada. Beto fica em Perdizes, e costuma ficar como host, orientando a clientela, dando sugestões, ajeitando as mesas. Cuidando de perto do negócio. O restaurante fica aberto de segunda a segunda, e abre no almoço e na janta (no domingo não tem janta).
Beto gosta de dizer que ele “não inventou nada”. Os pratos são exatamente os mesmos que ele degustou durante sua infância, feitos pelas tias que, por sua vez, aprenderam com a mãe libanesa. “Nem livro de receitas tem. Elas simplesmente sabiam como fazer”. Até hoje, diz Beto, o cardápio é muito parecido com o original.
Mais recentemente, ele resolveu apostar em um outro negócio, também gastronômico mas bem mais, digamos, americano: uma hamburgueria. O Família Burger, também em Perdizes, foi inaugurado em 2003. “Eu e meus filhos curtimos muito hambúrguer, mas nunca achávamos um que fosse todo bom, da batata frita ao milk-shaik. Decidimos fazer o nosso próprio”, conta o empresário.
Casado com uma filha de libaneses – “o que foi pura coincidência” – e pai de dois filhos, Beto conta que nunca foi ao Líbano e que não fala árabe. É através da comida que ele mantém sua ligação com seus antepassados.
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Arabesco
Tel +55 11 3872-8164
Site: www.arabesco.com.br